Nada melhor do que aproveitar a companhia de uma boa leitura, não é? A quarentena oferece uma oportunidade para colocar a leitura em dia e se aventurar em novos mundos e realidades. Pensando nisso, selecionei livros curtos que são ótimos companheiros para uma jornada para dentro (ou fora) de si.
Romances acalentadores, distopias incendiárias e filosofias inquietantes. Aqui você encontra um pouco de cada coisa. E todos com menos de 300 páginas.
Escolha seu companheiro, se aconchegue e tenha uma boa leitura!
Noites Brancas (Fiódor Dostoiévski, 1848)
Neste livro você encontra um Dostoiévski em fase inicial de carreira, com viés romântico em um tom completamente diferente de sua fase pós-exílio. A história é ambientada durante ‘noites brancas’ em São Petersburgo, dias em que o sol não se põe. Dois jovens se conhecem em uma ponte e embarcam uma história envolvente, carregada de humor, lirismo e sentimento.
Coração das Trevas (Joseph Conrad, 1902)
Um relato intenso e ficcional sobre a barbárie imperialista, com enredo centrado nas missões europeias na África e seus interesses mercantis. Nele, o autor destila denúncia e horror psicológico, que surge do testemunho de um capitão.
O livro de Conrad foi, inclusive, inspiração para o filme Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola.
Essa Gente (Chico Buarque, 2019)
Nesta tragicomédia, Chico traça um retrato do Brasil atual apresentando um escritor em crise emocional e criativa, que gosta de passear pelo Leblon, mas encontra feridas sociais escancaradas e violência em um Rio de Janeiro em colapso.
Os Vestígios do Dia (Kazuo Ishiguro, 1989)
Mergulhamos nas memórias do mordomo Stevens que, durante uma viagem de férias, revive acontecimentos de três décadas de sua vida dedicadas à casa de um nobre britânico. Aos poucos, ele revela alguns detalhes sombrios sobre seu patrão e seus sentimentos reprimidos. Se você gosta da série Downtown Abbey, este aqui vai te lembrar da fidelidade de Mr. Carson.
Inferno (August, Strindberg, 1897)
Em uma narrativa autobiográfica do escritor sueco, ele revela a crise mental que enfrentou durante seu exílio em Paris.
O autor, como próprio protagonista, revela suas diferentes faces: ateísta, criativo, insano, blasfemo, niilista, romântico, naturalista, superdotado.
Esteja preparado para um enredo bizarro e tragicômico, com boas doses de angústia e aquele humor politicamente errado, que você vai sentir ao testemunhar as situações que o autor enfrenta.
As Crônicas Marcianas (Ray Bradbury, 1950)
Contos do autor, publicados em revistas pulp fiction, estão reunidos neste livro de 26 histórias, que imaginam a colonização de Marte pelos humanos. Ambientadas entre 1999 e 2026, as narrativas abordam o choque cultural entre humanos e marcianos, e o terror de uma iminente ameaça nuclear, que pode dizimar a vida na Terra.
Matadouro 5 (Kurt Vonnegut, 1972)
Prisioneiro de guerra, Billy Pilgrim narra seu testemunho sobre a morte de milhares de civis devido ao bombardeio na cidade alemã de Dresden, durante a Segunda Guerra Mundial.
Com humor sarcástico, o autor que de fato foi prisioneiro de guerra durante a época em questão, constrói uma narrativa ácida com doses de ficção científica, com viagens no tempo e espaço.
Entre os horrores, Vonnegut introduz piadas e filosofias, e através de uma simples frase “é assim mesmo”, o autor lança uma crítica feroz sobre o conformismo perigoso, sobre as banalidades da cultura de consumo e a maldade humana.
Meus Desacontecimentos (Eliane Brum, 2014)
Nesta prosa íntima, a jornalista brasileira retrata suas memórias de infância e revela como sua relação com as palavras foi fundamental para sua construção como mulher, pessoa e profissional.
Mergulhando em memórias, ela conta histórias contadas pelos seus antepassados até aquelas que testemunhou e absorveu com seus próprios olhos.
Marrom e Amarelo (Paulo Scott, 2019)
Neste romance impactante, o autor destila uma narrativa que escancara o racismo e colorismo do Brasil contemporâneo. A história acompanha dois irmãos, Federico, de pele clara, e Lourenço, de pele negra, que moram na periferia do Rio Grande do Sul.
Já adulto, Federico idealiza uma ONG que luta pelo direito das minorias, e entre os debates começa a relembrar eventos traumáticos de sua infância.
Este é um dos lançamentos mais comentados aqui no Brasil e não à toa, pois se trata de uma leitura essencial para entender o racismo estrutural do país.
A Identidade (Milan Kundera, 1994)
Uma mulher vai à praia e descobre um novo olhar sobre os homens. Todos parecem infantilizados, ridículos, desprovidos de encanto erótico. Ao desabafar com seu companheiro que os homens já não a olham, o homem é invadido por uma compaixão pela sua amada.
Pouco a pouco, o casal se depara com a fronteira invisível do real e o sonho, onde mora o perigo de perder a própria identidade.
Sono (Haruki Murakami, 2015)
Uma mulher comum com uma vida aparentemente perfeita encontra um novo olhar sobre si mesma quando subitamente se torna incapaz de dormir. Agora, desprovida de uma boa de sono, ela consegue enxergar um mundo onde nada é o que parece.
Do Amor e Outros Demônios (Gabriel García Márquez, 1994)
Quando o Gabo foi cobrir uma matéria no antigo convento de Santa Clara, em 1949, onde as criptas estavam sendo esvaziadas, viu de uma delas sair 22 metros de cabelos cor de cobre, e na lápide escrito: Sierva María de Todos los Ángeles.
Logo ele se lembrou de uma história que sua vó contava, sobre uma marquesa de doze anos, de cabelos que se arrastavam pelo chão, que morreu de raiva causada pela mordida de um cão.
Neste belo encontro do acaso, a imaginação de García Márquez viajou através do realismo fantástico, elementos ordinários e poesia para criar uma história para a marquesinha, onde ele alça ainda conflitos sociais, crenças medievais, obscuridade humana e como o amor pode ser digno de exorcismo aos olhares alheios.
O Filho de Mil Homens (Valter Hugo Mãe, 2016)
Histórias distintas se conectam quando um pescador solitário, um órfão de uma anã e uma mulher desprezada por não ser virgem se encontram.
Nesta escrita poética, característica do autor português, ele constrói personagens excêntricos que carregam suas tragédias com lirismo e trazem um pouco de alegria a um vilarejo triste ao construírem o amor com o que lhes é possível.
O Senhor das Moscas (William Golding, 1954)
Durante a Segunda Guerra Mundial, um avião cai numa ilha deserta, e seus únicos sobreviventes são um grupo de meninos. Liderados por Ralph, eles tentam se organizar enquanto esperam um possível resgate. Aos poucos, tudo se torna uma luta visceral pelo poder, onde a selvageria toma o lugar da civilidade.
As Intermitências da Morte (José Saramago, 2005)
“No dia seguinte ninguém morreu”, com esta constatação é inaugurado o livro que imagina uma realidade em que a morte não existe mais. A narrativa revelará as consequências, trazendo boas doses de reflexão sobre a vida, a morte e o sentido (ou falta dele) da nossa existência.
O Meu Pé de Laranja Lima (José Mauro Vasconcelos, 1968)
Narrativa autobiográfica acompanha Zezé, um menino de família pobre, cujo pai está desempregado. Desde cedo, ele sabe o que é passar por dificuldades, mas as combate com sua imaginação. Ainda pequeno, o menino sonhador também aprende que não há remédio para a dor e para a perda.
Embora faça parte da literatura infantojuvenil, este é daqueles livros que vêm a calhar, especialmente para o público adulto.
Nossas Noites (Kent Haruf, 2017)
Dois vizinhos idosos, que lidam diariamente com a solidão durante as noites, decidem fazer companhia um para o outro todo dia ao cair da tarde, para terem com quem conversar antes de dormir. Não demora muito para que os vizinhos comecem a espalhar boatos maldosos.
A história lança um novo olhar sobre a velhice, mostrando que ao contrário do “fim”, é uma fase oportuna para redescobrir novos prazeres, encontrar novas chances e muitas coisas que ainda existem para serem vividas.
Limite Branco (Caio Fernando Abreu, 1970)
O que é a transição da infância para a adolescência e a perda da ingenuidade para a puberdade se não um véu branco que atravessamos?
Em uma escrita poética e sensível, o autor manipula uma narrativa profunda, com referências autobiográficas, que traduz em palavras as sensações indizíveis que enfrentamos em processos de transformação e toda a sua angústia, melancolia, lirismo e beleza.
Ninguém Escreve ao Coronel (Gabriel García Márquez, 1961)
Um coronel luta para sobreviver em uma pequena cidade hostil, enquanto aguarda o pagamento de sua aposentadoria pelo correio. Com ele, vivem apenas sua mulher asmática e um galo de briga que pertencia ao seu falecido filho. Todas as sextas-feiras, chegam as correspondências, menos sua esperada aposentadoria.
O Estrangeiro (Albert Camus, 1942)
Este levanta uma reflexão sobre liberdade e condição humana. Meursault vive sua total liberdade sem ter consciência dela. Após cometer um crime hediondo, quase inconscientemente, ele é preso e se depara com o absurdo da condição humana. Vivendo em um mundo de convenções sociais, no qual não pode ser ele mesmo, o protagonista se vê como um “estrangeiro”.
Max e os Felinos (Moacyr Scliar, 1981)
“Medo, eu? O tigre não tem medo de ninguém… O tigre invisível. A minha alma”.
Nesta fábula sobre imigração, liberdade e luta do homem contra suas próprias feras, o autor apresenta o jovem Max, que divide um bote com seu jaguar no meio do oceano, rumo à América.
Achou parecido com o filme As Aventuras de Pi? Pois é, aconteceu uma grande confusão em torno dessa história. Scliar considerou processar Yann Martel por plágio, mas o escritor alegou não ter lido a novela.
Plágio ou pura coincidência, o autor decidiu colocar um ponto final nessa história e não seguiu em frente com o processo.
As Palavras (Jean-Paul Sartre, 1963)
Este registro autobiográfico retorna à infância do filósofo pai do existencialismo francês. Revivendo memórias dos 4 aos 11 anos de idade, ele revela como foi seu encontro como mundo da leitura e escrita.
A Morte em Veneza & Tonio Kröger (Thomas Mann, 1912)
Com traços autobiográficos, o livro é centrado na relação entre artista e sociedade. A história acompanha o escritor Gustav von Aschenbach, que viaja a Veneza e se vê hipnotizado pela beleza do jovem polonês Tadzio.
A Hora da Estrela (Clarice Lispector, 1977)
Clarice narra a história de Macabéa, uma jovem órfã, virgem e solitária, criada por uma tia tirana, que a leva para o Rio de Janeiro, onde trabalha como datilógrafa. Lançada pouco tempo antes da morte da autora, a história traz um pouco de Clarice nos personagens centrais.
A Festa da Insignificância (Milan Kundera, 2013)
Neste romance, Kundera apresenta quatro amigos parisienses que vivem uma existência esvaziada de sentido. Em meio a passeios pelos jardins de Luxemburgo e reuniões em uma festa sinistra, eles constatam que a nova geração já esqueceu quem era Stálin e questionam o que há por trás de uma sociedade que coloca o umbigo no centro do erotismo.
A narrativa transita entre Paris e a antiga União Soviética, traçando um paralelo entre ambas as épocas. Mostrando o pior da civilização, a história faz uso do bom humor e da ironia para abraçar a insignificância da existência humana.
Memória de Minhas Putas Tristes (Gabriel García Márquez, 2004)
Em seu aniversário de 90 anos, um velho cronista e crítico musical se presenteia com uma noite de amor com uma jovem virgem. A narrativa percorre 9 décadas de memórias de frustrações, monotonias e solidão do protagonista, até chegar nesta surpreendente história de amor.
O Pequeno Príncipe (Antoine Saint-Exupéry, 1943)
Amor. Amizade. Afeto. Ganância. Apego. Tristeza. Enfim, O Pequeno Príncipe é um livro que atinge o cerne do ser humano e suas complexidades de maneira simples e penetrante.
Com o pequeno viajante de mundos, aprendemos a sair um pouco do nosso pequenino planeta individual. Nunca retornamos dessa viagem da mesma maneira.
É para ler com as as crianças e dar de presente aos jovens. Mas se você é adulto, esse livro também é para você. E se você já leu, eu digo: leia de novo. Ele merece ser lido novamente em diferentes fases da vida, porque há sempre algo de novo ali.
O Paraíso São os Outros (Valter Hugo Mãe, 2014)
O amor sob a perspectiva ingênua de uma menininha. O autor português nos presenteia com uma leitura leve e fluída do olhar infantil sobre os diferentes casais que encontra pelo caminho, e fica fascinada e intrigada pelo sentimento ‘amor’.
O Fim da Eternidade (Isaac Asimov, 1955)
Nesta ficção científica sobre viagens temporais e manipulação da História, Asimov imagina um homem que viaja no tempo para manter a ordem das coisas.
Ele é um Eterno, nome que designa técnicos que fazem pesquisas, relatórios e investigações sobre cada acontecimento ruim da História e retornam ao passado para fazerem pequenas alterações que têm grandiosos impactos positivos, a fim de aperfeiçoar a raça humana.
Mas como seria a humanidade sem seus traumas?
A Volta ao Mundo em 80 Dias (Julio Verne, 1872)
Aventura, ciência e fantasia. Julio Verne é um mestre em manipular estes três elementos. Neste livro, ele apresenta um inglês que aposta uma fortuna que consegue realizar uma viagem ao redor do planeta em 80 dias. Com seu criado francês, ele embarca em navios, trens, trenós e elefantes percorrendo muitos países e culturas.
A Metamorfose (Franz Kafka, 1915)
Um belo dia, Gregor Samsa acorda transformado em um inseto gigante. Como um pesadelo, ele enfrenta burocracias inflexíveis em seu trabalho e o dissabor da rejeição de sua família, jogado às margens da sociedade, enquanto estrebucha em sua nova forma.
A Insustentável Leveza do Ser (Milan Kundera, 1984)
Quatro adultos são capazes de tudo para vivenciar o erotismo que desejam para si, mas se deparam com o limite do tempo histórico politicamente opressivo e o caráter enigmático da existência humana. Neste livro, Kundera tematiza o amor, a infidelidade, a compaixão, o eterno retorno, o acaso e o livre arbítrio.
A Revolução dos Bichos (George Orwell, 1945)
Escrito em plena Segunda Guerra, neste livro Orwell satiriza a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos ainda eram aliados do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista. Através de animais de fazenda, ele demonstra a dinâmica de poder, tirania e traição de um governo totalitário, os diferentes agentes da opressão e os oprimidos.
Negrinha (Monteiro Lobato, 1920)
Lobato traça um retrato da população brasileira do início do século XX, fazendo uma denúncia aos bastidores de uma sociedade patriarcal e uma forte crítica aos vestígios de uma persistente mentalidade escravocrata da sociedade brasileira, mesmo décadas após a abolição.
Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley, 1932)
Pessoas são programadas em laboratório, e adestradas a cumprir seu papel em uma sociedade de castas biologicamente definidas já no nascimento. Neste mundo, a literatura, a música e o cinema só têm a função de solidificar o espírito do conformismo. Uma poderosa representação do estado autoritário e da mecanização do ser humano.
Iracema (José de Alencar, 1865)
O clássico do romantismo brasileiro narra a história da índia Iracema, uma virgem que se apaixona por um português, inimigo de seu povo. Esta história de amor proibido é uma alegoria do processo de colonização do Brasil pelos europeus, na qual Alencar desenvolveu sua própria linguagem lírica e original.
O Alienista (Machado de Assis, 1882)
Um clássico da literatura que, 130 anos depois, ainda dialoga pontualmente com os tempos atuais. Acompanhamos a história de um alienista, designação de psiquiatra da época, que cria uma casa de orates (manicômio) para atender os pacientes com distúrbios mentais e começa a realizar estudos inéditos sobre a mente a humana.
Uma representação inquietante da normalização compulsória e um questionamento sobre a loucura.
Assim Falou Zaratustra (Friedrich Nietzsche, 1881)
Neste pequeno e complexo livro, acompanhamos a jornada e ensinamentos de um filósofo autodenominado como Zaratustra. Uma história carregada de críticas aos valores ocidentais e um dos livros fundamentais para mergulhar na mente do filósofo alemão. Escrito de forma poética, quase musical, este aqui é para abalar as estruturas mais engessadas.
Livro do Desassossego (Fernando Pessoa, sob seu heterônimo Bernardo Soares, 1982)
Semelhante a um diário íntimo e ficcional, o livro é dividido em fragmentos de anotações diárias de Sr. Soares, um guarda-livros que durante o dia é contador e à noite é sonhador, e busca um contraponto da vida mecanicamente vivida e da poesia.
Fahrenheit 451 (Ray Bradbury, 1953)
Os livros estão proibidos. A verdade, manipulável. O pensamento crítico é suprimido. Enquanto isso, a TV ingressa na vida das pessoas como um membro da família.
A narrativa é construída sob o ponto de vista de Guy Montag, que trabalha como “bombeiro” – na história, queimadores de livros – e começa a entrar em contato com seus próprios pensamentos depois de conhecer uma menina que o questiona sobre felicidade.
Bradbury traça um retrato da opressão anti-intelectual dos governos totalitários e das opressões camufladas da indústria cultural e da sociedade de consumo.
Aqui você tem outro livro atual, de narrativa prazerosa que flui como se um sábio senhor estivesse te contando sobre tempos passados e repassando seus valores adiante. Também uma ode à literatura e àqueles que nela encontram uma resistência.
O Velho e o Mar (Ernest Hemingway, 1951)
Quando um pescador passa 84 dias sem pescar um único peixe, ele resolve partir sozinho em alto-mar, munido de coragem, para concluir seu trabalho. Em meio a solidão, o homem entra em contato com seus sonhos e pensamentos, enquanto luta pela sua sobrevivência e para manter a confiança na vida.
Espero que encontre algum companheiro nessa lista de livros curtos.
E se tiver alguma indicação, compartilha comigo nos comentários aí embaixo! 🙂
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Nossa, quase não tem autoras mulheres nessa lista…
312 páginas é CURTO?????