A artista e ativista Marietta Bernstorff reuniu 600 mulheres do mundo inteiro para criar arte em denúncia à violência contra a mulher. O projeto colaborativo entre meninas e mulheres tem como objetivo levantar um diálogo sobre um tema que, infelizmente, é realidade ao redor do globo.

600 mulheres do mundo inteiro criam arte em denúncia à violência contra a mulher

Ao se deparar com uma história sobre a morte violenta de uma jovem mulher, Marietta também se viu diante de outra verdade: o feminicídio não é um caso raro. Em 2019, ela continuou a se deparar com tais histórias que aconteciam, todos os dias, em seu país: a cada dia, entre 10 mulheres e meninas eram assassinadas no México.

Embora a palavra pandemia tenha se tornado parte do nosso cotidiano com o novo coronavírus, esta palavra já havia sido utilizada pelo secretário-geral da ONU, António Guterrez, como “pandemia das sombras”, para descrever a violência contra a mulher.

A citação feita há dois anos serve perfeitamente para o momento atual, uma vez que a própria pandemia da Covid-19 aumentou drasticamente o número de violência doméstica no mundo. Ele ressalta que “para muitas mulheres e meninas, a ameaça parece maior onde deveriam estar mais seguras: em suas próprias casas”.

Inspirada pelos diversos protestos de grupos feministas na Cidade do México, a artista foi tomada por uma necessidade de agir também, à sua maneira.

“Um grupo de amigas, do México e dos EUA; artistas-escritoras, ativistas, professoras e curandeiras sabiam que tínhamos que fazer algo a respeito dessa violência, mas o quê? E como?”, conta a artista.

Assim nasceu o projeto The Patchwork Healing Blanket, ou La Manta de Curación. Se trata de um “cobertor da cura”, construído a partir de retalhos repletos de mensagens de resistência, feitos por artistas mulheres de diferentes partes do planeta, que enviaram suas artes para Marietta, no México.

A ideia era difundir um projeto artístico colaborativo que reunisse gerações de mulheres em um movimento global contra a violência de gênero.

O resultado é impressionante: são 600 peças diferentes e vibrantes que foram enviadas por mulheres do México à Argentina, dos Estados Unidos à Alemanha e além. As artes são de autoria de meninas e mulheres de 8 a 78 anos. Cada peça foi construída individualmente ou é resultado do trabalho conjunto entre mulheres.

“Cada patchwork é único, já que essas mulheres são de todas as partes do mundo e a linguagem visual que usam depende de qual país elas são e como elas decidem interpretar essas questões. Obviamente, o México neste momento tem muito mais peças, já que o projeto está sediado neste país.”, diz Marietta.

Aproximadamente 100 peças foram feitas por crianças de uma escola primária da cidade de Juchitán, Oaxaca, no México, onde uma jornalista organizou a participação com uma professora de artes.

É interessante reparar como cada pessoa utiliza uma técnica diferente de bordado, crochê, patchwork, aplique, pintura, gravura e fotografia. E como isso está ligado a técnicas ancestrais repassadas de geração para geração.

As artistas mexicanas, por exemplo, usam muito a técnica de bordados, que são populares em todo o México, especialmente nas comunidades indígenas.

“Recentemente, meninas jovens feministas estão usando essa técnica como meio de protesto social em toda a América Latina. Os artistas europeus estão usando pintura, gravura e fotografia. Quanto às mulheres do Canadá e dos Estados Unidos, muitas usaram métodos de patchwork e apliques com bordados, que são transmitidos por gerações, assim como no México.

O projeto também incentiva mulheres a entrarem em contato com suas raízes.

“Estamos incentivando as mulheres a pensarem em retomar o conhecimento que foi transmitido por suas mães e avós, técnicas que eram consideradas trabalho feminino, um ofício não valorizado na “arte erudita”. Achamos que todas as técnicas são válidas e podem ser usadas neste discurso da arte social para a mudança social.”, diz a artista.

Como Marietta ressalta, se trata de um projeto não-violento e criativo, que visa promover uma conversa ao atingir pontos de reflexões em quem se depara com a arte.

“Quando alguém trabalha em projetos de arte social, não é apenas teórico, mas na verdade prático, entendendo o termo comunidade e o que a arte social realmente significa. A arte social pode ensinar e inspirar comunidades e ensinar aos governos como a arte é vitalmente importante para o desenvolvimento de uma sociedade mais saudável, não apenas um item luxuoso para ver ou comprar. Arte / cultura tem um valor tremendo para nossas sociedades, pode influenciar, formar e moldar nossas sociedades, como fez na civilização antiga. É uma forma de comunicação que pode nos permitir ser visionários.”, explica.

A manta “La Manta de Curacíon” está disponível em uma exibição digital na galeria virtual da SPARC, que você acessa neste link.

600 mulheres do mundo inteiro criam arte em denúncia à violência contra a mulher

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