A presença invasiva dos microplásticos no corpo humano pode estar causando danos muito mais profundos do que imaginávamos. Uma nova pesquisa publicada na revista científica Osteoporosis International revela que essas partículas praticamente onipresentes estão comprometendo a saúde óssea e podem ser um fator significativo no aumento global de doenças como a osteoporose.
Rodrigo Bueno de Oliveira, coordenador do Laboratório de Estudos Minerais e Ósseos em Nefrologia da Universidade Estadual de Campinas e coautor do estudo, explica que os microplásticos estão demonstrando capacidade de interferir no delicado equilíbrio de regeneração óssea. “O impacto potencial dos microplásticos nos ossos é objeto de estudos científicos e não é negligenciável”, alerta o pesquisador.
A investigação, que analisou mais de 60 estudos realizados em animais e em culturas celulares, descobriu que as partículas plásticas promovem a formação excessiva de osteoclastos, células responsáveis pela degradação do tecido ósseo antigo. Quando esse processo acelera além da capacidade de regeneração, o resultado são ossos mais fracos, suscetíveis a deformidades e fraturas.
Os efeitos não se limitam ao sistema esquelético. Os pesquisadores observaram que os microplásticos também reduzem a contagem de glóbulos brancos no sangue e perturbam o equilíbrio da microbiota intestinal, criando um cenário de inflamação generalizada que prejudica ainda mais a saúde óssea.
Uma das descobertas mais preocupantes foi que a exposição aos microplásticos chegou a interromper o crescimento esquelético em animais de laboratório. Se comprovada em humanos, essa conexão explicaria parte do aumento projetado nas taxas de fraturas ósseas em todo o mundo.
A Fundação Internacional de Osteoporose estima que uma em cada três mulheres e um em cada cinco homens acima de 50 anos sofrerão uma fratura relacionada à doença durante a vida. As projeções indicam que esses números podem aumentar 32% até 2050, um crescimento que pode estar parcialmente relacionado à contaminação por microplásticos.
Diante dessas evidências, a equipe brasileira planeja novos experimentos para entender exatamente como as partículas plásticas afetam a resistência de ossos como o fêmur. “Há uma lacuna em nosso conhecimento sobre a influência dos microplásticos no desenvolvimento dessas doenças”, reconhece Oliveira. “Um de nossos objetivos é gerar evidências sugerindo que os microplásticos poderiam ser uma causa ambiental controlável para explicar o aumento no número projetado de fraturas ósseas.”
Enquanto a ciência avança na compreensão desses mecanismos, a descoberta serve como mais um alerta sobre as consequências da poluição plástica – que já ultrapassou as barreiras do meio ambiente e agora afeta diretamente a estrutura que sustenta nossos corpos.
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