Star Wars sempre girou em torno do embate interminável entre luz e escuridão, com Jedi e Sith disputando o centro do palco. Mas, enquanto isso, quem realmente sustenta o peso dessas guerras são os soldados que ocupam as trincheiras. Ao longo dos anos, vimos clones ganharem profundidade em The Clone Wars, mas os stormtroopers permaneceram quase sempre como figuras anônimas atrás de capacetes brancos. Até agora. Na terceira temporada de Star Wars: Visions, a Lucasfilm finalmente ousou mergulhar no psicológico desses soldados, entregando o episódio mais inquietante e ousado da série: “BLACK”.
A proposta de Visions sempre foi permitir que artistas do mundo todo explorassem o universo Star Wars longe da sombra dos Skywalkers — e aqui eles foram além, desmontando a imagem rígida do stormtrooper para revelar algo fragmentado, confuso e profundamente humano.
“BLACK” não trata apenas de mais dois soldados imperiais em combate. É uma reflexão intensa sobre culpa, identidade e o desgaste mental de lutar por algo que já não faz sentido. A narrativa é tão ambígua que nem fica claro se acompanhamos dois stormtroopers distintos ou duas faces de uma mesma consciência despedaçada. O que fica evidente é que essa história não suaviza nada.
A trama nos joga diretamente dentro do caos da Estrela da Morte sob ataque. Em corredores invadidos por tiros e explosões, um stormtrooper começa a perder o controle. Ele reage, hesita, tenta manter a postura — e afunda em uma espiral de colapso emocional. Quando o conflito termina, o que resta é um homem esgotado, esmagado pela culpa e pela sensação de que tudo o que fez foi em vão.
O episódio deixa o espectador encarando esse silêncio desconfortável, refletindo sobre o que significa servir a uma causa que você não consegue mais defender. É diferente de qualquer outra abordagem que a franquia já deu aos stormtroopers, e justamente por isso se destaca tanto.
É verdade que já vimos lampejos desse questionamento interno antes. Finn, de O Despertar da Força, marcou a nova trilogia ao se recusar a participar de um massacre e fugir da Primeira Ordem. Ele encontrou um nome, um propósito e se tornou herói — mas sua história nunca mergulhou realmente nas cicatrizes psicológicas de ter lutado ao lado de tantos outros que permaneceram do lado errado.
Visions, por outro lado, não oferece consolo algum. “BLACK” não entrega redenção nem chance de recomeço. Apenas encara o abismo e convida o público a encará-lo também.
Em pouco mais de dez minutos, o episódio diz mais sobre o peso de vestir uma armadura branca do que décadas de filmes e séries conseguiram fazer. É perturbador, emocional e prova que o universo de Star Wars ainda tem muitos recantos sombrios e fascinantes esperando para serem explorados.
“BLACK” pode muito bem ser a história de stormtrooper mais poderosa e impressionante já contada na saga.
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