Meta voltou ao centro das atenções, e não de um jeito positivo. Uma ação judicial sem precedentes envolvendo quatro gigantes das redes sociais veio a público, mas é o trecho dedicado à empresa de Mark Zuckerberg que está deixando o mundo perplexo.
O documento reúne mais de 1.800 queixosos, entre pais, escolas e procuradores-gerais de diversos estados, todos acusando a companhia de adotar uma estratégia contínua de enganação para esconder riscos graves impostos a usuários menores de idade.
As denúncias são pesadas. Segundo o processo, a Meta teria deliberadamente criado ferramentas de segurança ineficazes para jovens, priorizando o engajamento de adolescentes, um dos motores do lucro bilionário da empresa, em vez do bem-estar das crianças.
Entre os pontos mais alarmantes está a acusação de que o sistema de moderação por IA do Instagram ignorava conteúdo de abuso infantil e distúrbios alimentares, e que o aplicativo não oferecia mecanismos simples para denunciar esses problemas, enquanto facilitava denúncias triviais como spam.
Outro detalhe absurdo citado pelo relatório: contas envolvidas em tráfico sexual teriam recebido até 17 chances antes de sofrer qualquer punição definitiva.
O documento aponta diretamente para o topo da hierarquia. De acordo com registros obtidos pela Reuters, Zuckerberg sabia das falhas e dos riscos desde 2017.
Em mensagens internas citadas no processo, ele teria afirmado que segurança infantil não era uma prioridade quando havia assuntos “mais importantes”, como “construir o metaverso”.
O mesmo metaverso que, vale lembrar, já drenou mais de 46 bilhões de dólares da Meta desde 2021 e hoje é amplamente visto como um fracasso.
Enquanto isso, segundo o processo, pedidos internos por mais investimentos em proteção infantil, inclusive de Nick Clegg, então responsável por políticas públicas da empresa, eram descartados.
Há ainda acusações de que Zuckerberg não apenas deixava de agir, mas sabotava iniciativas de segurança. Um exemplo marcante aparece após um estudo de 2018 revelar que 40% das crianças de 9 a 12 anos usavam o Instagram diariamente, violando a idade mínima de 13 anos.
A resposta, segundo os advogados dos autores? Direcionar a plataforma a conquistar esse público mesmo assim.
O documento afirma que a Meta passou a usar dados de localização para enviar notificações durante o horário escolar, estimulando o uso entre crianças enquanto estavam em aula.
Internamente, equipes começaram a estudar o comportamento psicológico de “tweens” e até a desenvolver recursos para usuários de 5 a 10 anos.
Em uma mensagem interna citada no processo, um funcionário desabafou que a estratégia parecia mais com “táticas de tabacarias tentando viciar jovens” do que com práticas éticas de tecnologia.
Os advogados dos autores reforçam a comparação com a indústria do cigarro. Para eles, a Meta criou produtos sabidamente prejudiciais para crianças e continuou promovendo seu uso porque isso aumentava os números e, consequentemente, o lucro.
A Meta, por sua vez, classificou as acusações como distorcidas e baseadas em interpretações equivocadas. A empresa afirma que suas medidas de proteção a menores são eficientes e que os trechos do processo foram “retirados de contexto”.
Seja qual for o desfecho, o caso coloca novamente em debate o alcance da responsabilidade das grandes plataformas, e o quanto elas estariam dispostas a sacrificar em nome da expansão digital. No meio disso tudo, a segurança das crianças segue no centro da discussão, onde muitos acreditam que ela deveria ter estado desde o começo.
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