A Editora Gutenberg acaba de trazer ao mercado brasileiro “A Ascensão das Estrelas“, primeiro volume da promissora série Corpos Celestes, da autora Imani Erriu. O lançamento marca mais um movimento estratégico das editoras nacionais em apostar no gênero romantasia, mas o que torna esta obra particularmente fascinante é como ela ecoa elementos narrativos presentes em clássicos do anime que marcaram gerações de fãs brasileiros.

Em “A Ascensão das Estrelas”, Erriu constrói um universo onde maldições proféticas determinam o destino dos personagens. A protagonista Elara carrega o peso de uma profecia devastadora que a conecta irrevogavelmente às Estrelas, entidades divinas cruéis que governam o mundo. Esta dinâmica entre predestinação, maldições ancestrais e a luta contra forças cósmicas superiores ressoa profundamente com elementos narrativos que já cativaram o público brasileiro através de obras como Cavaleiros do Zodíaco e Fruits Basket.

A conexão não é superficial. Assim como Seiya e os Cavaleiros de Bronze são escolhidos pelas constelações para defender Atena, Elara encontra seu destino ligado ao de Ariete, a Estrela da Ira. Ambas as narrativas exploram como forças cósmicas, sejam constelações ou estrelas divinas, influenciam diretamente o destino mortal, criando vínculos que transcendem a vontade individual.
Transformações e vínculos sobrenaturais
O paralelo torna-se ainda mais evidente quando observamos como Fruits Basket utiliza a Maldição do Zodíaco como elemento central. Na obra de Natsuki Takaya, os membros da família Sohma são amaldiçoados pelos espíritos do zodíaco chinês, transformando-se em animais quando abraçados por pessoas do sexo oposto. Esta maldição não apenas define suas formas físicas, mas governa completamente suas relações interpessoais e dinâmicas familiares.

Similarmente, em “A Ascensão das Estrelas”, a maldição profética de Elara não é meramente uma predição, mas sim um vínculo sobrenatural que alterará sua essência e relacionamentos. Tanto Akito em Fruits Basket quanto as Estrelas na obra de Erriu exercem controle absoluto sobre os amaldiçoados, utilizando esses vínculos como instrumentos de poder e dominação.
Cavaleiros do Zodíaco estabeleceu um precedente importante ao utilizar mitologia grega como base estrutural para conflitos épicos. Masami Kurumada não apenas emprestou nomes e símbolos mitológicos, ele reconstruiu toda uma cosmologia em que deuses antigos (Atena, Hades, Poseidon) influenciam diretamente o mundo moderno através de representantes mortais.

Imani Erriu adota estratégia similar, criando um panteão próprio de “Estrelas” que funcionam como divindades cruéis. Assim como os Cavaleiros vestem armaduras sagradas conectadas às constelações, Elara desenvolve poderes através de seu treinamento com Lorenzo para enfrentar essas entidades cósmicas. A Era Mitológica de Saint Seiya, com deuses usando seus corpos verdadeiros e se relacionavam com mortais, ecoa na premissa de Estrelas que descem ao mundo mortal.
Romance proibido e consequências cósmicas
A diferença fundamental e o que posiciona “A Ascensão das Estrelas” firmemente no gênero romantasia está na centralidade do romance proibido. Enquanto Cavaleiros do Zodíaco prioriza batalhas épicas e Fruits Basket foca na cura emocional e quebra de maldições através do amor incondicional, a obra de Erriu coloca o amor fatal como elemento motor da narrativa.

A profecia de que Elara se apaixonará por uma Estrela, causando a morte de ambos, estabelece uma tensão romântica cosmicamente perigosa que encontra paralelos na dinâmica de Kyo (o gato excluído) e Tohru em Fruits Basket. Em ambos os casos, o amor representa tanto salvação quanto destruição potencial, desafiando estruturas de poder estabelecidas.
Um gênero em evolução
O que “A Ascensão das Estrelas” demonstra é como a romantasia atual está absorvendo e refinando elementos narrativos que já ressoavam com o público através do anime. As maldições ancestrais, poderes cósmicos e destinos entrelaçados que cativaram fãs de Cavaleiros do Zodíaco e Fruits Basket encontram nova expressão em uma narrativa que prioriza o desenvolvimento emocional e a tensão romântica.
Este diálogo entre mitologias pessoais, maldições transformadoras e relacionamentos impossíveis posiciona a obra de Erriu dentro de uma tradição narrativa familiar ao público brasileiro, mas com a sofisticação emocional que define a romantasia contemporânea. É uma evolução natural partindo dos cosmos que conectam cavaleiros às constelações, das maldições que transformam humanos em animais do zodíaco, para chegarmos às Estrelas que governam destinos amorosos com consequências universais.
“A Ascensão das Estrelas” prova que a romantasia não está apenas seguindo tendências internacionais, mas está criando pontes entre a mitologia pop que formou gerações e as demandas emocionais de leitores contemporâneos, resultando em narrativas que honram tanto a nostalgia quanto a inovação.