Como o sucesso de Clair Obscur: Expedition 33 mostra a falta de criatividade de grandes estúdios de games que visam apenas o lucro?
Nos últimos tempos, virou moda dizer que a indústria dos games está em crise. Toda semana surgem notícias de grandes estúdios demitindo funcionários e executivos justificando o aumento do preço dos jogos com o argumento de que “senão, a conta não fecha“. Mas quando olhamos mais de perto, percebemos que a indústria como um todo está muito viva. O que está quebrado é o modelo de negócios das gigantes AAA, que gastam fortunas em games pouco inovadores e depois culpam o mercado quando eles não dão o retorno esperado.
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Enquanto isso, pequenos estúdios independentes continuam a lançar jogos de altíssima qualidade, com preços muito mais acessíveis, conquistando milhões de jogadores no mundo inteiro. Um exemplo recente é Clair Obscur: Expedition 33, desenvolvido pela Sandfall Interactive. Mesmo sendo um estúdio pequeno, o jogo trouxe uma experiência visual incrível, narrativa envolvente e gameplay refinado. Lançado por cerca de US$ 50 e disponível no Game Pass, o game ultrapassou a marca de 500 mil cópias vendidas logo no primeiro dia. Isso, inclusive, superou até as expectativas dos próprios desenvolvedores.

E não é um caso isolado. Títulos independentes como Hades, Celeste e Vampire Survivors também provaram que qualidade, criatividade e sucesso comercial não dependem de orçamentos gigantescos. A realidade é que a criatividade floresce muito mais em ambientes onde os desenvolvedores têm liberdade de criar. Não estão presos a fórmulas corporativas que visam apenas lucro fácil com microtransações ou “live services” mal planejados.
O problema da crise dos “games” é o ‘Player’?
Segundo análises recentes como a da Arkade e da Polygon, o grande problema das empresas AAA é a maneira como elas estão administrando seus projetos. Em vez de investir em novas ideias ou dar espaço para suas equipes criarem algo autêntico. Preferem-se gastar milhões em gráficos ultrarrealistas, marketing massivo e, muitas vezes, lançarem jogos inacabados ou sem alma. O objetivo não é mais entregar uma boa experiência ao jogador, mas maximizar o retorno financeiro a qualquer custo — nem que isso custe a demissão de centenas de trabalhadores, como vimos nos últimos anos.
O editorial da Arkade é direto: a crise é autoimposta. As empresas erram ao concentrar todos os recursos em apostas arriscadas e em tendências passageiras, e quando o plano falha, cortam custos às custas dos funcionários e dos próprios consumidores. A Polygon também destaca que a indústria ainda é extremamente lucrativa, com recordes de vendas sendo batidos ano após ano. O que está quebrado não é o mercado: é o modelo de negócios falido das gigantes que perderam o foco em fazer jogos realmente bons.

Enquanto isso, os jogadores estão cada vez mais atentos e exigentes. Não adianta mais colocar gráficos lindíssimos e esquecer de entregar diversão de verdade. O sucesso dos indies mostra que o que move a indústria não é a máquina de marketing — é a paixão por criar boas histórias, mecânicas inovadoras e experiências que realmente conectam com as pessoas.
O futuro dos games está mais vivo do que nunca — só não vai ser liderado por quem acha que pode vender qualquer coisa por R$ 400 e ainda sair como vítima.