Você é da opinião que a música está cada vez pior? Pois é, Bob Dylan também pensa assim. Só que, para ele, isso não é uma novidade. Na verdade, ele acha que nunca foi fácil para quem quer viver de música.
Para Dylan, não existia essa mega indústria bilionária de música que temos hoje. Era um mundo bem diferente, e quem se aventurava na música o fazia por pura paixão, não pelo lucro.
Em suas palavras, “máquinas estão fazendo a maior parte da música agora”. E, se você parar para pensar, não é difícil entender o que ele quer dizer.
E ele diz tudo isso com menos entusiasmo do que quando cantou We Are The World.

Em um contexto em que a música é movida por algoritmos e inteligência artificial, a identidade e a alma das composições começam a se perder: “Já reparou que todas as músicas soam iguais?”, afirma.
Isso até me faz lembrar da obra prima de Chico Science: “computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro” – leia isso em tom musical (e dos bons).
Dylan não é contra a tecnologia. Ele até admite que as novas tecnologias deram uma nova cara à música, tornando possível que um artista lance seus hits sem depender de estúdios grandes e de contratos estrondosos.
Mas, ao mesmo tempo, ele diz que esse “barato” tem um preço: a música, que antes exigia comprometimento e dedicação, virou um processo muito mais fácil e, de certa forma, superficial.
Lá nos anos 60, para gravar um disco, você tinha que “pagar o preço” de verdade, ele diz. Isso significava ensaios intermináveis, uma energia imensa e a busca por autenticidade em cada faixa.
Já nas gerações seguintes, especialmente nos anos 80, a coisa mudou. Artistas começaram a querer lançar discos de imediato, sem ninguém nem saber quem eles eram. Mais fácil, mais rápido, menos esforço.
E para os artistas solo, a pressão era outra: ou você tinha o pacote completo, a boa voz, o visual e o carisma, ou logo seria substituído por alguém mais adequado para esse papel.
A crítica de Dylan ainda vai além. Ele fala de uma geração de artistas que não têm o peso da experiência, mas sim a imagem. Se você tiver a voz e a aparência, está no jogo.
O problema é que, sem a bagagem necessária, esse artista acaba se tornando um produto descartável nas mãos de produtores que, no fim das contas, tomam as rédeas da criação musical.
Para ele, isso gera uma onda de “mediocridade” que tomou conta da música.
Esse olhar de Dylan para o que a indústria se tornou é, sem dúvida, uma reflexão sobre como as facilidades tecnológicas podem, de certa forma, diluir a essência da música.
Ele entende que, com a chegada de novas ferramentas, muitos músicos têm mais acesso e autonomia.
Mas, ao mesmo tempo, vê o impacto disso na qualidade das produções, no esforço artístico que é necessário para criar algo realmente original e transformador.
Em um mundo onde qualquer um com uma boa aparência e um timbre vocal “legal” pode ser lançado ao estrelato, a música acabou virando um produto fácil de consumir, mas cada vez mais difícil de se conectar.
Para Dylan, a verdadeira música, a música com alma, é aquela que vem com história, experiência e uma busca genuína pela arte.
E é isso que falta hoje, um pouco da autenticidade e da paixão que fizeram a música ser a força cultural que ela já foi.
O que você pensa sobre isso?
Assista à entrevista completa de Bob Dylan no player abaixo:
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