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Algo assustador está acontecendo com crianças que ganham celular muito cedo

Um novo estudo vem reforçar uma preocupação que pais e educadores já vinham pressentindo: crianças que ganham celular muito cedo apresentam bem mais problemas do que benefícios.

A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade da Califórnia em Berkeley e da Universidade Columbia, mostra que crianças de até 12 anos que recebem um celular apresentam maior risco de depressão, obesidade e dificuldades para dormir.

As conclusões, publicadas na revista Pediatrics, surgiram da análise de mais de 10 mil participantes do Adolescent Brain Cognitive Development Study, considerado o maior estudo de longo prazo sobre desenvolvimento cerebral infantil nos Estados Unidos.

Embora o levantamento não estabeleça uma relação de causa e efeito definitiva, a correlação é forte o bastante para reforçar uma tendência já vista em diversas outras pesquisas: o impacto de telas e dispositivos inteligentes vai muito além da distração e pode influenciar diretamente a saúde física e mental dos jovens.

O psiquiatra infantil Ran Barzilay, autor principal do estudo, explicou ao New York Times que entregar um celular a uma criança não deveria ser uma decisão trivial.

Segundo ele, isso é algo que precisa ser encarado como uma escolha séria que pode afetar o bem-estar do jovem.

Na pesquisa, cerca de dois terços das crianças já tinham smartphone, com idade média de 11 anos ao receber o aparelho.

Esses dados foram comparados com outro grupo de aproximadamente 3.800 crianças que não tiveram acesso a um smartphone antes dos 12 anos.

O resultado mostrou que quem ganhou celular mais cedo enfrentou riscos maiores de depressão e problemas de sono, e quanto menor a idade no primeiro contato com o aparelho, maior a probabilidade de desenvolver obesidade e distúrbios relacionados ao descanso.

E o mais curioso é que até quem recebeu o primeiro celular aos 12 anos mostrou piora na saúde mental já aos 13, quando comparado a crianças que continuaram sem o aparelho.

Isso sugere que o simples fato de ter um celular próprio nessa fase da vida já pode ser suficiente para influenciar o comportamento e a saúde, independentemente do uso específico do dispositivo.

Os pesquisadores destacam que o estudo não investigou o que as crianças faziam no smartphone, o que abre espaço para reflexões ainda mais complexas. Afinal, além das redes sociais, que já têm um histórico de impacto negativo no desenvolvimento emocional, plataformas como YouTube, TikTok, serviços de streaming e jogos mobile podem facilmente sequestrar horas de atenção e afastar os pequenos do sono e de atividades físicas.

E agora entramos também na era de chatbots e companhias virtuais, algo que muitos jovens vêm utilizando como substituto para interações reais.

Esse trabalho se soma a outras pesquisas recentes que alertam para riscos semelhantes.

Um estudo de 2025 com mais de 100 mil crianças apontou que receber um smartphone antes dos 13 anos está associado a maior incidência de pensamentos suicidas, queda na autoestima e até um certo distanciamento da realidade.

E a cada ano que essa entrega acontece mais cedo, maiores são os impactos negativos registrados.

Com tantas evidências surgindo, escolas e instituições já estão tomando medidas mais rígidas, muitas vezes proibindo o uso de celulares em sala de aula.

Barzilay pretende aprofundar a pesquisa para entender quais aspectos específicos dos dispositivos mais afetam a saúde mental.

Para ele, uma coisa já está clara: crianças precisam passar mais tempo longe das telas, especialmente para se envolver em atividades físicas, algo que ajuda a prevenir obesidade e ainda melhora a saúde mental.

No fim, o debate não é só sobre qual é a idade ideal para dar um celular a uma criança, mas sobre como estamos permitindo que esses dispositivos moldem, ou distorçam, o desenvolvimento de toda uma geração.

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Jornalista há mais de 20 anos e fundador do NERDIZMO. Foi editor do GamesBrasil, TechGuru, BABOO e já forneceu conteúdo para os principais portais do Brasil, como o UOL, GLOBO, MSN, TERRA, iG e R7. Também foi repórter das revistas MOVIE, EGW e Nintendo World.

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