A mais recente obra do aclamado diretor Robert Zemeckis, Aqui (Here), é uma jornada cinematográfica ambiciosa que busca capturar a essência da vida através de uma lente única. Assim como fez em Forrest Gump, Zemeckis comprova sua habilidade em entrelaçar contar histórias pessoais e entrelaçá-las com eventos históricos, criando uma narrativa intimista e emocionante.
O filme, uma adaptação da revolucionária graphic novel homônima de Richard McGuire, narra a história de uma sala e seus diferentes ocupantes ao longo de milênios, utilizando esse espaço singular para ilustrar as transformações de diversas épocas, desde os primórdios da humanidade. Com apenas um único enquadramento durante todo o filme, a obra utiliza tecnologias visuais inovadoras para levar o público a uma jornada através do tempo e das transformações vividas por este único lugar, mostrando as diversas famílias que já viveram ali. Cada cena não só reflete o passar do tempo, mas também revela as profundas conexões humanas que surgem em um ambiente em constante mudança.
Impossível não comparar Aqui com Forrest Gump, o grande sucesso de Zemeckis que arrecadou mais de US$ 677 milhões em bilheteria mundial e ganhou seis Oscars. No entanto, este lançamento opta por ser mais sério e contemplativo, entregando uma obra tecnicamente impressionante e mais real, deixando de lado o carisma e o humor do sucesso de 1994. Numa clara evolução do diretor, o filme explora temas universais como o amor, passagem do tempo, evolução e resiliência, colocando você como espectador de tudo isso através de um único local.
A direção de Zemeckis é, sem dúvida, um dos pontos altos do filme. Sua decisão ousada de manter a câmera fixa em um único ponto durante toda a narrativa cria um desafio técnico que ele supera com maestria. A fotografia, assinada por Don Burgess, complementa perfeitamente essa abordagem, transformando o cenário estático em mais um personagem do filme, que evolui e muda ao longo do tempo. Através dessa proposta o filme permite um ponto de vista com múltiplos entendimentos ao testemunharmos a passagem do tempo de uma maneira única.
Com o retorno da dobradinha de sucesso para o roteiro, com Zemeckis e Eric Roth, temos uma trama simples e uma proposta audaciosa, mas que torna-se complexa para o espectador mais desavisado ao criar certas confusões por não se identificar com o tempo histórico ou pelas rápidas mudanças temporais. No entanto, somente com essa complexidade que o filme consegue explorar sua proposta sem se perder num simples relato de uma casa ou família, conseguindo explorar a profundidade de seus temas e a evolução humana.
Memorável como sempre, Alan Silvestri também retorna ao lado do diretor para entregar uma trilha sonora que complementa a emoção dos acontecimentos e retrata as as diferentes épocas do filme. Talvez sem o mesmo impacto do seu grande sucesso anterior, mas ainda assim capaz de pontuar muito bem os acontecimentos do roteiro e auxiliando na identificação das alternâncias rápidas que o filme faz ao longo da história.
Dentre todos, o ponto mais algo de Aqui, com certeza é termos o retorno de Tom Hanks e Robin Wright, reunidos novamente após 30 anos e reforçando mais uma vez a química inegável em tela. A presença deles em diversas épocas, por conta da tecnologia de rejuvenescimento digital, permitiu uma continuidade na atuação que seria impossível de outra forma, adicionando uma autenticidade ainda maior à narrativa. Mesmo com a presença de Paul Bettany e Kelly Reilly, o filme brilha de verdade sob as luzes de Hanks e Wright.
Como um presente para os fãs de Forrest Gump, Aqui entrega uma direção ousada, efeitos visuais impressionantes e atuações brilhantes, tudo empacotados em uma execução técnica impecável e chancelada pelo talento e ambição de Zemeckis. Prepare-se para sair do cinema com os olhos marejados por presenciar uma obra humana e capaz de fazer você refletir sobre o real significado de tempo, espaço e as conexões humanas ao longo das nossas vidas.
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