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ARC Raiders: tensão sublime de um mundo dominado por máquinas

Quando a Embark Studios, formada por veteranos que ajudaram a moldar a franquia Battlefield, anunciou ARC Raiders, houve um misto de ceticismo e curiosidade. Afinal, o gênero de extraction shooters parecia estar caminhando para uma saturação perigosa ou para um nicho inacessível de simuladores militares ultra-complexos.

No entanto, após o lançamento no fim de 2025 e pouco mais de um mês mergulhado nos servidores, é seguro dizer que o estúdio não apenas entregou uma experiência visualmente deslumbrante, mas conseguiu equilibrar a balança entre a acessibilidade e a tensão brutal que define o gênero. O jogo é uma prova de que ainda há espaço para inovação quando se entende que a atmosfera é tão importante quanto a mecânica de tiro.

Pós-apocalipse simples e divertido

A premissa narrativa de ARC Raiders é direta, mas funciona perfeitamente como pano de fundo para a ação emergente. Estamos em um futuro pós-apocalíptico onde a humanidade foi forçada a viver em colônias subterrâneas para se esconder de uma ameaça mecanizada misteriosa conhecida como ARC. Nós assumimos o papel dos Raiders, audazes sobreviventes que sobem à superfície para coletar suprimentos vitais.

O que surpreende aqui não é uma campanha cinematográfica linear, mas a construção de mundo e os ambientes. A superfície é um cemitério de tecnologias e natureza retomada, onde cada destroço conta uma história silenciosa de derrota humana. A narrativa é construída organicamente, em que você não luta para salvar o mundo em uma cutscene, você luta para levar uma bateria velha de volta para casa porque seu povo precisa dela para sobreviver mais um dia.

O coração da experiência reside no seu loop de gameplay. As partidas são incursões de cerca de 30 minutos em mapas abertos, onde o objetivo é simples: entrar, pilhar e sair vivo. Contudo, a execução dessa tarefa é magistralmente tensa. Diferente de outros títulos que transformam inimigos em esponjas de balas, ARC Raiders aposta em uma letalidade tática. O combate é pesado, responsivo e exige que o jogador utilize o ambiente.

A decisão da Embark de focar em uma perspectiva em terceira pessoa foi acertada, permitindo uma maior consciência espacial sem sacrificar a imersão nos tiroteios. O sistema de inventário simplificado também merece destaque, pois ele remove a gestão de microgerenciamento tedioso vista em concorrentes, permitindo que o foco permaneça na sobrevivência e na leitura do cenário.

Retrofuturismo inteligente

Mecanicamente, o jogo brilha ao introduzir uma inteligência artificial nos inimigos que é legitimamente intimidante. Os ARCs não são apenas alvos estáticos, eles reagem fisicamente aos danos. Atirar nos rotores de um drone faz com que ele perca o equilíbrio e colida com o cenário, ou com seus aliados, criando momentos de caos imprevisível que parecem roteirizados, mas são puramente sistêmicos.

Além disso, a mobilidade é fluida, com o uso de ganchos e tirolesas que tornam a travessia vertical tão importante quanto a horizontal. Mas a cereja do bolo é a dinâmica social em que o jogo permite alianças temporárias com outros jogadores através do chat de proximidade, mas sem formar um esquadrão oficial na interface. Isso cria uma camada psicológica de desconfiança constante. Aquele estranho que te ajudou a derrubar um robô gigante pode muito bem atirar nas suas costas na hora de chamar o helicóptero de extração.

Ao compararmos ARC Raiders com titãs do gênero, como Escape from Tarkov ou Hunt: Showdown, percebe-se que a Embark optou por refinar o que já existe. Ele não exige que você memorize tabelas de balística complexas como Tarkov, o que o torna infinitamente mais convidativo para o público geral, mas mantém a punição severa da perda de loot, preservando a adrenalina. Ele ocupa um espaço interessante por ser mais tenso e consequente que The Division, mas menos obtuso e frustrante que os simuladores hardcore. É um jogo que entende que a complexidade não precisa vir da dificuldade de navegar em menus, mas sim das decisões morais e táticas tomadas em segundos.

Entre as novidades trazidas para esse título, a física de destruição e a interação com os inimigos são os grandes diferenciais. Ver uma máquina colossal desmoronar peça por peça enquanto o cenário ao redor é pulverizado é um espetáculo técnico e visual que poucos jogos conseguem replicar. Outro ponto inovador é a democratização das extrações. A existência de pontos de saída universais e a possibilidade de chamar a extração mesmo estando abatido criam oportunidades de virada cinematográficas, onde o fracasso total nunca é garantido até o último segundo.

Por fim, é impossível não mencionar a direção de arte e a trilha sonora. Utilizando a Unreal Engine 5, ARC Raiders é, sem exageros, um dos jogos mais bonitos desta geração. A iluminação dinâmica e as texturas fotorrealistas da vegetação contrastam com o design retrô-futurista das máquinas ARC, criando uma estética que é ao mesmo tempo nostálgica e aterrorizante.

O design de som é igualmente impactante e funcional, num jogo em que saber a posição do inimigo é vital, a mixagem de áudio é precisa, permitindo identificar a direção de um drone ou os passos de um jogador rival com clareza cristalina. A trilha sonora, pontual e sintética, sabe exatamente quando subir o tom para aumentar o pânico de uma extração iminente. ARC Raiders é uma recomendação fácil para quem busca desafio e imersão, consolidando-se como uma das melhores surpresas de 2025.

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Nota final: 5/5

Avaliação: 5 de 5.

Acesse o site oficial do jogo.

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Viciado em cultura japonesa, fanático por games e consumidor de ficção científica e fantasia. Designer e já foi editor do Bookeando. Nas horas vagas consegue se dividir entre as batidas do seu taikô, as viagens por uma galáxia muito distante, a eterna busca pela Triforce e as batalhas nas 12 casas do Santuário.

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