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Azul egípcio: Pigmento de 5 mil anos é recriado por cientistas usando técnicas antigas

Um dos tons mais marcantes da Antiguidade, o azul egípcio, voltou à vida graças a pesquisadores que decidiram apostar em métodos tão antigos quanto as pirâmides.

A equipe da Universidade Estadual de Washington, em parceria com o Carnegie Museum of Natural History e o Smithsonian’s Museum Conservation Institute, conseguiu recriar esse pigmento milenar, famoso por colorir templos, tumbas e artefatos do Egito Antigo.

O estudo, publicado na revista npj Heritage Science, não apenas deu forma a uma nova amostra da tonalidade vibrante que já foi símbolo de poder e espiritualidade, como também revelou detalhes técnicos que ficaram perdidos por mais de 5 mil anos.

Produzido originalmente por volta de 3100 a.C., o azul egípcio era uma alternativa acessível a pedras preciosas como lápis-lazúli e turquesa, permitindo que artesãos aplicassem cor intensa em esculturas, murais e sarcófagos.

Até agora, as fórmulas exatas para fabricar esse pigmento seguiam envoltas em mistério.

A nova pesquisa, porém, preenche essa lacuna ao testar 12 combinações de minerais que os egípcios antigos provavelmente teriam à mão. A mistura de dióxido de silício, cobre, cálcio e carbonato de sódio foi submetida a temperaturas próximas de 1.000 °C. Mas o segredo não estava só no calor: a forma como a mistura era resfriada influenciava drasticamente o resultado final.

Resfriamento lento aumentava a formação de cristais de cuprorivaita, em até 70%, tornando o azul mais intenso, enquanto resfriamento rápido deixava a cor mais apagada. Isso indica que os artesãos talvez tivessem domínio até do tempo de resfriamento, usando areia ou cinzas para manter o calor e controlar o processo.

Análises avançadas, como difração de raios X e mapeamento por infravermelho, mostraram que o pigmento não era uma substância única, mas um conjunto de estruturas cristalinas que se combinavam para formar a coloração característica.

Mais do que uma curiosidade histórica, o azul egípcio tem aplicações modernas surpreendentes. Sua capacidade de emitir luz no espectro do infravermelho próximo o torna útil em áreas como detecção de impressões digitais, tintas de segurança e até tecnologia de supercondutores.

O pesquisador John McCloy, que liderou o estudo, destacou como a ciência pode iluminar o passado de forma inovadora: “Esperamos que esse trabalho mostre o quanto a ciência pode contribuir para o entendimento da nossa história. Ele evidencia como a tecnologia atual pode revelar segredos escondidos em objetos da antiguidade egípcia.”

As amostras recriadas estão em exibição no Carnegie Museum of Natural History, permitindo ao público ver de perto como o saber antigo e a pesquisa contemporânea podem se encontrar, e até mesmo inspirar novos avanços.

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Jornalista há mais de 20 anos e fundador do NERDIZMO. Foi editor do GamesBrasil, TechGuru, BABOO e já forneceu conteúdo para os principais portais do Brasil, como o UOL, GLOBO, MSN, TERRA, iG e R7. Também foi repórter das revistas MOVIE, EGW e Nintendo World.

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