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Borderlands 4: Uma sequência irregular, mas divertida

Depois de me dedicar 185 horas no jogo mais recente da franquia Borderlands, finalmente me sinto confiante em compartilhar meus pensamentos sobre o jogo.

A franquia conseguiu manter uma consistência na evolução da jogabilidade e opções no arsenal para os jogadores por mais de 10 anos. Borderlands 4 consegue se destacar no mercado de looter shooters atuais e ainda agregar e evoluir a franquia? Te convido a refletir comigo os acertos e erros que Borderlands 4 possui tanto para os jogadores mais esporádicos, tanto para os mais dedicados.

Uma história salva por boas interpretações e momentos pontuais interessantes

Dessa vez não só estamos bem longe do planeta principal da franquia, Pandora, mas também de muitos de seus personagens. A Gearbox afirmou no anuncio do jogo de que essa história seria focada nos personagens jogáveis desta vez, e isso é notável ao longo de toda a história.

A quantidade de diálogos que os personagens apresentam em comparação com os jogos anteriores é considerável. Seja em missões principais, secundárias e nas dúzias de áudios encontrados pelo mundo dedicados aos quatro novos Caça Arcas.

Uma quantidade considerável de novos vilões e aliados também registra aqui. Esta saga sempre conseguiu elevar um texto e roteiro familiar com performances excelentes, e neste jogo o padrão de qualidade se mantém e até mesmo uma identidade própria foi criada pelo tom de toda a história ser um pouco mais séria que os jogos anteriores.

E mesmo o drama nunca tentando ser o foco da narrativa, as ótimas performances em um clima mais distinto dos jogos anteriores, e a possibilidade de fazer parte da campanha na ordem que quiser e tudo isso somado com momentos inesperados, fazem da história consistentemente interessante.

Mesmo constantemente interessado pela narrativa principal e seus personagens, eu estava ansioso por um grande payoff no término da história. O por que deste planeta estar escondido, conhecer mais do novo grande vilão do jogo e o por que dele controlar sua população como um tirano.

Infelizmente o Senhor do Tempo foi uma grande decepção, além de um passado extremamente vago, fica difícil de acreditar que alguém com tanto tempo de preparo possuí este nível de defesa. Tudo isto somado com o fato dele passar 80% do tempo apenas observando as ações dos protagonistas se desenrolarem ,faz de seu antagonismo quase teórico.

Felizmente seus subordinados possuem mais presença e backgrounds que não só dão vida ao planeta de Kairos, mas agregam a saga como um todo, dando sequência a linhas narrativas de jogos anteriores e apresentando novos conceitos. E ironicamente, este foi o Borderlands que mais me tirou risos ao longo de sua campanha e conteúdo opcional. Acompanhar Zane, Claptrap e muitos personagens excêntricos ao longo das missões foram o que fizeram dessa uma história aceitável para mim, mesmo depois de um desfecho vago e decepcionante.

Um mundo aberto e uma exploração irregular

Se aventurando no mundo aberto pela primeira vez na franquia, o resultado foi uma experiência de muitos altos e baixos. Em 50% do tempo encontrava chefes desafiadores ao ar livre com chance moderada de se adquirir itens lendários e logo em seguida adentrando cavernas com mais chefes únicos e momentos plataforma usando bem a nova movimentação do jogo, porém os outros 50% do tempo me via buscando diversos tipos de coletáveis ao redor do mapa que quase não forneciam XP, equipamentos ou mesmo lore.

O maior pecado da progressão foi que todas as missões secundárias vão te recompensar apenas com XP e dinheiros genéricos, sem equipamentos únicos. Todos os jogos da série até aqui apresentavam armas, granadas e até escudos únicos de recompensa por completar missões principais ou secundárias, e nenhum jogo na franquia se beneficiaria mais do que este em ter equipamentos únicos em suas missões, já que podemos explorar praticamente todo o mapa na ordem que quisermos.

Borderlands 4 perde a possibilidade de fornecer uma experiência conjunta na comunidade em todo seu potencial, já que tenta ir na linha de jogos como Elden Ring e Tears of the kingdom, mas ao simplesmente oferecer loot box em 80% de suas missões, faz de suas atividades secundárias quase que dispensáveis para o jogador médio.

Os chefes felizmente possuem seus itens dedicados já no lançamento que podemos ir atrás, e incentiva aos jogadores em descobrirem e compartilharem onde podem adquirir diversos itens, porém isso não é novo dentro dessa franquia que já apresentava isso no 2 e 3 por exemplo.

Também fui prejudicado a longo prazo por explorar o máximo de regiões e missões antes de seguir com a campanha. Já estava no nível máximo com cerca de 40% da campanha completa, e todo o XP adquirido nas 30 horas seguintes foram desperdiçados, já que somente ao completar a história liberamos um novo sistema que podemos continuar valorizando o XP adquirido.

Novidades acompanhadas de limitações

A Gearbox introduziu um novo sistema de partes de armas que permite comportamentos de diferentes fabricantes aparecerem em uma única arma. Eu tinha um certo medo disso tirar uma das principais características da franquia, as marcas de armas e sua individualidade. O sistema não é tão frequente então não chega a ser muito invasivo e cria sinergias interessantes entre muitos equipamentos.

Mas mesmo assim o sistema não parece muito bem revisado. Existem comportamentos de marcas que simplesmente anulam a característica principal da marca e outras que prejudicam gravemente o funcionamento de outras.

Por exemplo, o truque principal das Tediores é de arremessar a arma ao recarregar com maior dano causado pela quantidade de balas restante no pente, caso ela venha com uma parte da FDA, você é incapaz de recarregar manualmente até a arma esquentar o máximo possível sem nenhum bônus em troca. Ou as marcas Ripper e Order, que se obtiverem as partes licenciadas uma da outra, simplesmente sobrescreve a habilidade atual.

Armamentos são um novo espaço de equipamento que substitui granadas e equipamentos pesados com um sistema de tempo de espera ao invés de munição. Além de quase eliminar um tipo de build favorito dos fãs que é de apenas usar lança misseis, caso você queira focar em utilizar os armamentos como principal fonte de dano, vai ter que se contentar em usar apenas um por vez, constantemente abrindo inventário para trocar seu equipamento.

E o que mais chama a atenção em relação aos jogos anteriores é o sistema de aprimoramentos, que além de substituir as relíquias presentes desde o primeiro jogo, fornecem bônus para diferentes marcas. Diferentes das relíquias, esse sistema não te recompensa por utilizar diferentes tipos de armas, ele te obriga a usar um tipo apenas.

Se simplesmente você quiser pegar uma arma do chão e a testar, você vai ser prejudicado pelo seus aprimoramentos não estarem de acordo com aquela marca de armas.

Então para tirar maior proveito, seria necessário utilizar armas com as mesmas partes licenciadas. Isso tudo cria um sistema que afasta experimentação e quase te força a buscar as melhores combinações já existentes do que tentar montar sua própria build. Felizmente o balanceamento ainda funciona sem eles, mas o min/max das builds neste jogo é um dos mais demorados de looters shooters que já vi.

Felizmente a nova movimentação e liberdade dos cenários conseguem deixar alguns destes incômodos passar desapercebido. Planar, pulos duplos, ganchos, dashes e chamar o veículo a qualquer momento funcionam muito bem e deixam a exploração e até mesmo combates com chefes dinâmicos e engajantes. Não é nada de novo no gênero de FPS, mas foram muito bem transferidos para esta franquia.

O elefante na sala e algumas decisões desconcertantes

Joguei na versão de PC e atendendo os requisitos recomendados. Mesmo assim, foi necessário passar um bom tempo nas configurações para ajustar a performance do jogo. Não encontrei muitos bugs no jogo em si, apenas performances irregulares, especialmente em relação ao inventário. O pior mesmo é a performance ao jogar com outros jogadores, crashes regulares e um hit detection medonho.

Tentando apelar para um novo público, a UI do jogo foi totalmente retrabalhada. O resultado final foi uma confusão só. Poluição visual com muitas informações e uma navegação medíocre entre menus de mapa, inventário e documentos.

90% dos bugs do jogo encontrei aqui, ao marcar um item como lixo, outro aleatório era selecionado e vendido e suas armas e equipamentos sumindo de sua mochila até você ir ao menu principal e retornar (Este último sendo extremamente constante) Tudo isso por conta da repaginada desnecessária nos menus.

Um dos principais pontos de reclamação dos fãs sobre Borderlands 3 ao longo de sua vida útil foram os modificadores presentes no pós jogo. A reclamação foi tanta por parte dos jogadores que criaram um modo sem os modificadores para os fãs.

Simplesmente fiquei incrédulo ao descobrir que um sistema parecido de modificadores estava de volta e já inserido desde o começo do jogo. Inimigos que absorvem danos de elementos, invulneráveis por um drone e que ao morrerem liberam uma orbe que te puxa causando uma grande explosão.

Não só estão presentes na campanha como um dos sistemas principais do pós jogo envolve repetir missões da história com um número pesado de modificadores.

Não consegui acreditar que não só um sistema odiado por boa parte dos fãs retornou, mas parte do pós jogo ser repetir missões sem a opção de pular os diálogos. Reclamações que já haviam sido endereçadas pela produtora anos atrás, sendo repetidas aqui.

Conclusão

Borderlands 4 me entreteve bastante com sua movimentação, variedade de habilidades e algumas melhorias de qualidade de vida. A história termina numa nota baixa, quase invalidando toda a experiência para mim, salva por boas interpretações de todo o elenco e do humor que realmente me conquistava constantemente.

Infelizmente não encontra um meio termo entre evoluir conceitos dos jogos anteriores enquanto apresenta novas ideias para essa franquia, resultando em muitos sistemas que limitam a experiência dos jogadores mais dedicados.

Ainda existem dezenas de builds e equipamentos para serem adquiridos, possivelmente mais do que qualquer outro jogo dessa franquia. Mas, ironicamente, ao aderir a uma parte dos jogadores que gostariam de um balanceamento onde os itens fossem mais raros, deixou os novos sistemas extremamente cansativos de se tirar o máximo de valor.

É um FPS sólido, com uma incrível variedade de armas, chefes, habilidades e easter eggs. Mas difícil de recomendar no estado atual de sua performance e conteúdo pós jogo.

##

Nota final: 3/5

Avaliação: 3 de 5.

Acesse o site oficial do jogo.

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Cinema, música e um pequeno canal no Youtube que abasteço com conteúdo semanal são meus principais hobbies. Tendo crescido com as diversas obras do século passado que desafiavam nosso intelecto como Matrix, Metal Gear Solid e Ghost in The Shell, tenho como um sonho a criação de uma obra que possa servir de inspiração para mais alguém!

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