Uma ousada campanha de saúde pública da Nova Zelândia conquistou o Grand Prix no Cannes Lions, uma das premiações mais prestigiadas do mundo da publicidade, ao propor que o país se torne “o melhor lugar do mundo para ter herpes”.
Lançada pela Fundação Neozelandesa de Herpes em outubro do ano passado, a campanha usa humor e irreverência para combater o estigma de décadas em torno do herpes genital, uma condição que, segundo a própria entidade, afeta até 80% da população do país em algum momento da vida.
O vídeo promocional, que parodia os clássicos comerciais de turismo, é estrelado pelo ex-treinador dos All Blacks, Sir Graham Henry, que, com sarcasmo, lamenta a suposta perda de relevância da Nova Zelândia no cenário internacional. Ele menciona, por exemplo, a “vergonhosa” queda na proporção de ovelhas por pessoa, o preço dos tradicionais “meat pies” e a moral do povo em baixa.

Em tom bem-humorado, ele sugere uma solução inesperada: “Está na hora da Nova Zelândia se orgulhar de algo novo, algo grande e corajoso… está na hora de nos tornarmos o melhor lugar do mundo para ter herpes”.
A iniciativa vai além da piada: o vídeo é seguido por um “Curso de Desestigmatização do Herpes”, apresentado por figuras públicas importantes do país, como o ex-diretor-geral de saúde Sir Ashley Bloomfield, o ex-jogador Sir Buck Shelford e a boxeadora Mea Motu.
Criada em parceria com as agências Motion Sickness (de Auckland) e FINCH (de Sydney), a campanha foi reconhecida em Cannes com o prêmio “Health & United Nations Foundation Grand Prix for Good”, por “usar sem pudor o humor para tratar de um tema delicado e combater a estigmatização”.
David Ohana, presidente do júri no Cannes Lions, elogiou a ousadia da proposta: “A campanha vencedora de 2025 pegou um assunto tabu e virou do avesso — mostrando que, com uma boa estratégia, uma ideia grande e maluca e muito bom humor, tudo é possível”.
Claire Hurst, uma das fundadoras da Herpes Foundation, disse ao The Guardian que o herpes, apesar de amplamente disseminado, é geralmente pouco significativo do ponto de vista médico, mas que o peso social associado à palavra “herpes” dificulta o enfrentamento do diagnóstico. “Em 30 anos trabalhando com isso, nunca vi uma campanha com tanto impacto”, afirmou.
Ela acredita que, ao tratar o tema abertamente e com leveza, a população passa a encará-lo com mais naturalidade. “Quando as pessoas podem simplesmente dizer ‘ah, são aquelas feridinhas’ e ‘sim, muita gente tem, e a maioria nem sabe’, o herpes deixa de ser esse grande bicho-papão.”
Veja mais sobre design.