Capitão América 2: O soldado invernal (2014), de Joe e Anthony Russo, é a segunda empreitada cinematográfica de um dos personagens mais clássicos da Marvel (na verdade é a terceira, se considerarmos Os Vingadores, de 2012). Nesta, fica evidente que uma das grandes vocações do Marvel Studios é saber reconhecer o valor de seus personagens, algo em que a Warner/DC ainda não logrou muito êxito.
Para ilustrar melhor esse quadro, cabe voltarmos alguns anos no tempo de modo a relembrar a complicada situação da Marvel Comics nos anos 90. Em processo de concordata, a editora viu-se obrigada a vender os direitos cinematográficos de seus maiores personagens para grandes estúdios de cinema, como Sony (que detém os direitos de Homem-Aranha) e Fox (X-Men e Quarteto Fantástico).
Outros personagens muito populares na época, como Justiceiro, Demolidor e Motoqueiro Fantasma, foram vendidos para esses e outros estúdios. Para a Marvel sobraram, por assim dizer, somente aqueles personagens que ninguém queria, figuras pouco conhecidas do grande público e de difícil adaptação cinematográfica: Homem de Ferro, Thor e Capitão América. Este último era um desafio particularmente complicado, talvez por isso seu filme tenha sido, acertadamente, o último a ser produzido na primeira leva de filmes da Marvel.
Trata-se de um personagem não muito popular, mesmo nos Estados Unidos (onde é desbancado por outros medalhões da casa, como Homem-Aranha e Wolverine), e que usa uma indumentária baseada na bandeira de um país que representa ideologia e modo de vida, no mínimo, controversos. Como investir alto na produção de um filme com tal personagem, sem poder contar com o lucro de grandes mercados como China e Rússia? Esses países aceitariam bem a produção?
O fato é que esse cenário pouco amigável ao velho Capitão foi habilmente contornado, mas não sem alguns revezes. A origem do personagem foi alterada para evitar polêmicas: um super herói que combatia abertamente os nazistas ao lado de seu parceiro Bucky, passou a combater uma organização terrorista, substituindo-se, assim, a suástica pelo logo neutro da HIDRA, organização criminosa que faz as vezes de antagonista genérica de quase todos os super heróis da Marvel. Hitler, grande vilão das histórias dessa época, nem mesmo aparece.
Porém, o estúdio sempre soube o valor do material que tinha em mãos, e mostrou ao grande público que o Capitão é mais do que sugere sua vestimenta, responsável por grande parte do preconceito contra o personagem. O Capitão América é um personagem idealista, que sempre lutou por ideais libertários e revolucionários. É mais comum em suas histórias ele estar posicionado contra, e não a favor do governo dos Estados Unidos, com o qual rompeu diversas vezes. É exatamente isso que vemos neste segundo filme: um super herói sendo caçado por uma agência vinculada e fundada pela ONU.
Nesse sentido, o filme traz uma trama bastante atual, repleta de traições governamentais e espionagem, que gera uma densidade de roteiro inédita nos filmes da Marvel até então. Não só isso: o que se tem aqui é o primeiro grande fruto do Universo Marvel cinematográfico, iniciado em 2008 com o primeiro Homem de Ferro.
Em outras palavras: esse filme não existiria, tal como ele é, sem que a Marvel tivesse interligado os seus filmes. Desta forma, é solapado um antigo problema dos roteiristas de filmes de ação: como contar uma história densa em um filme de menos de duas horas? Basta posicioná-lo no contexto de um universo maior.
O que a Marvel nos traz é, portanto, algo inédito no cinema: um grande e intrincado universo, formado por diversos filmes que funcionam independentemente e funcionam ainda melhor se vistos como um todo. Assim, derruba-se a grande máxima dos filmes de super heróis até então: a de que cada personagem existiria em seu próprio universo, e onde o Batman jamais encontraria o Superman. Ou seja, o sucesso da Marvel fez a Warner repensar a (falta de) dinâmica entre seus personagens.
Capitão America 2 é um filme que equilibra cenas de ação empolgantes com uma trama inteligente, mostrando que a Marvel amadureceu e está investindo mais em roteiro e menos em gagues e piadinhas gratuitas. Há momentos bem humorados, mas desta vez estão bem dosados, diferente do que se viu, por exemplo, em Thor 2.
Além do Capitão, todos os personagens principais (Falcão, Viúva Negra, Soldado Invernal, Nick Fury e Batroc) tem sua chance de brilhar e se mostraram bem fiéis e respeitosos às suas contrapartes em papel. Tomara que o estúdio mantenha essa toada, pois ela pode render ainda ótimos frutos.
Nota: 4/5
Capitão América 2: O Soldado Invernal
Diretor: Joe e Anthony Russo
Duração: 138 minutos
Elenco: Chris Evans, Samuel L. Jackson, Scarlett Johansson
Gênero: Ação
Lançamento: 10 de abril de 2014
Leia também Conheça o Burger Patriota, o lanche do Capitão América
Autor: Daniel Robledo
Achei sensacional! Principalmente a forma como a Marvel insere seus elementos fantasiosos em um cenário mundano. Assim como em Thor, que mostra toda a magia do personagem como uma ciência ainda não descoberta. Achei F**a.
Gostei muito do filme, lembra muito o realismo dos batmans do Nolan, porém sendo mais fantástico. Ou seja, é uma trama de espionagem muito bem bolada e bem realista (com uma atuação sensacional, como sempre, do Robert Redford), com um lado bem fantasioso do capitão américa, agradando realmente todos os publicos, tem ação, humor mais inteligente (alívio cômico) e roteiro mais denso.
Melhor filme da Marvel na minha opinião, melhor que Vingadores.