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Chips não evoluem como antes, e isso freia a queda de preço dos consoles

Durante décadas, esperar alguns anos após o lançamento de um console era uma estratégia comum para muitos jogadores. Isso permitia pegar o aparelho com uma biblioteca de jogos mais robusta e, frequentemente, por um preço mais baixo. Era quase uma certeza: com o tempo, os consoles ficavam mais baratos, ganhavam versões mais compactas, consumiam menos energia e, às vezes, até resolviam defeitos da versão original. Mas esse ciclo parece ter chegado ao fim. Os chips não evoluem como antes.

O último corte permanente de preço relevante em consoles aconteceu em 2016, com o lançamento do PS4 Slim, que reduziu o valor de entrada de US$ 349 para US$ 299. Desde então, o que se viu foi justamente o oposto: aumentos. O Nintendo Switch com tela OLED chegou em 2021 custando US$ 50 a mais. Em 2023, a versão mais fina do PS5 sem leitor de disco também teve um aumento de US$ 50. E, recentemente, os Xbox Series S e X subiram entre US$ 80 e US$ 100 — sem nenhuma melhoria de hardware.

Esses aumentos vêm de uma combinação de fatores: inflação global, impactos na cadeia de suprimentos durante a pandemia, políticas comerciais instáveis dos últimos anos e uma mudança clara de estratégia das fabricantes, que estão cada vez menos dispostas a vender consoles com prejuízo. Mas um dos principais motivos é técnico: a desaceleração do progresso dos chips, causada pelo enfraquecimento da famosa Lei de Moore.

Apesar do nome, a “Lei” de Moore nunca foi uma regra rígida. Trata-se de uma observação feita por Gordon Moore, cofundador da Intel, em 1965, que previa que o número de transistores em um chip dobraria aproximadamente a cada dois anos. Isso de fato aconteceu por décadas, graças à constante evolução na fabricação de semicondutores. Mas esse ritmo diminuiu drasticamente. Os processos de fabricação modernos são mais caros, demoram mais para serem desenvolvidos e, mais cedo ou mais tarde, começam a esbarrar em limitações físicas da própria matéria.

Nos consoles, isso impacta diretamente na possibilidade de reduzir o tamanho dos chips — os chamados “die shrinks” — que tradicionalmente traziam uma série de vantagens: menos calor, menor consumo de energia, menor necessidade de refrigeração, menos materiais e, claro, queda no custo de produção. Esses ganhos, historicamente, eram repassados ao consumidor na forma de consoles mais baratos e eficientes.

Nos tempos do PlayStation 2, por exemplo, a versão Slim reduziu consideravelmente o tamanho da máquina graças à miniaturização dos chips, ao mesmo tempo em que eliminava partes pouco usadas, como a baia de HD e uma porta IEEE 1394. O preço caiu de US$ 299 em 2000 para US$ 129 em 2006 e, mais tarde, US$ 99 em 2009. A mesma tendência ocorreu com o Xbox 360: entre 2005 e 2010, seus chips passaram de 90 nm para 45 nm, o consumo de energia caiu de 203 W para 133 W, e o preço-base desceu de US$ 300 para US$ 200.

Essa lógica se manteve parcialmente na geração PS4/Xbox One/Switch. As versões Slim do PS4 e Xbox One passaram para chips de 16 nm (contra 28 nm das originais), o que ajudou a justificar reduções de preço. O Switch teve uma única redução de chip, de 20 nm para 16 nm, que melhorou a bateria, mas sem impacto no preço final.

Hoje, porém, mesmo quando há ajustes no hardware, eles são mínimos e não têm trazido as mesmas vantagens para o consumidor. Os chips mais modernos custam caro para serem fabricados e trazem retornos menores. E em vez de reduzir os preços, como acontecia no passado, as empresas têm optado por aumentá-los.

O mesmo problema afeta o mercado de PCs. GPUs da Nvidia, que nos anos 2010 traziam mais desempenho por menos dinheiro, agora exigem mais investimento para avanços modestos. A AMD, por exemplo, ainda mantém sua plataforma AM4 viva porque a substituta, AM5, ainda não é acessível para o público intermediário.

Pode ser que, no futuro, novas tecnologias e acordos comerciais tornem tudo mais barato de novo — mas ninguém está contando com isso. Por enquanto, o padrão que marcou quatro décadas da indústria de jogos está, se não morto, em coma profundo.

Hoje, esperar não garante mais um aparelho melhor e mais barato. Pelo contrário: talvez o preço só suba.

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Jornalista há mais de 20 anos e fundador do NERDIZMO. Foi editor do GamesBrasil, TechGuru, BABOO e já forneceu conteúdo para os principais portais do Brasil, como o UOL, GLOBO, MSN, TERRA, iG e R7. Também foi repórter das revistas MOVIE, EGW e Nintendo World.

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