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A ciência de Mass Effect

Hoje falo sobre uma das minhas séries de jogos favoritas e o que ela me ensinou sobre astronomia.

Mass Relay
O universo dos jogos da série Mass Effect (Bioware/EA) gira em torno de uma premissa fundamentalmente simplória. Achamos que é sobre o/a Comandante Shepard e seu talento inigualável para atos heróicos e salvamentos de galáxia, ou sobre as incríveis raças e culturas presentes no universo, ou sobre bem vs. mal mesmo, como quase toda história. No entanto, é ainda mais simples.

Mass Effect é uma série sobre o Paradoxo de Fermi.

Se você nunca jogou ou precisa de um refresco para a memória, vamos a introduções. O que é o tal “mass effect” que dá nome à série?

Como o próprio jogo explica:

No ano 2148, exploradores descobriram em Marte os restos de uma antiga civilização capaz de viajar pelo espaço. Nas décadas que se seguiram, esses misteriosos artefatos revelaram surpreendentes novas tecnologias, possibilitando viajar até as mais longínquas estrelas. A base dessa incrível tecnologia era uma força que controlava o próprio tecido do espaço-tempo.

Eles a chamaram de a maior descoberta da história da humanidade.

As civilizações da galáxia a chamam de… Mass Effect

No universo do jogo, a descoberta dessa tecnologia anciã levou a humanidade até o Element Zero. Element Zero ou eezo é o nome de um elemento de número atômico zero que seria gerado durante a explosão de supernovas, quando a energia resultante atinge planetas e asteroides. Essa civilização antiga, os Protheans, ainda existiria de modo dormente nos confins do universo, e teria dominado a viagem interestelar a tal ponto que o universo está cheio de cacarecos tecnológicos deixados para trás; entre eles os Mass Relays, portais de transmissão de massa capazes de formar uma rede entre si e conectar galáxias e sistemas solares por meio de algo como um teletransporte.

Imensas quantidades de eezo formam o núcleo dos Mass Relays. Quando exposto a correntes elétricas, o eezo libera energia escura (dark energy) e cria um campo de mass effect capaz de manipular a massa de objetos, formando uma espécie de corredor de massa zero no espaço-tempo entre dois ou mais Mass Relays. Com isso, um objeto consegue ser impulsionado quase que instantaneamente a muitos anos-luz de distância, ou a distâncias virtualmente impossíveis, sem dilatação de tempo. E é isso que permite que os humanos se espalhem por toda a galáxia, tomando um papel muito importante na manutenção da ordem universal e se envolvendo em altas confusões que envolvem uma “purga” de toda a vida no universo que aconteceria a cada 50 mil anos.

Toda a história do jogo gira em torno de como essa tecnologia abriu as portas para uma dezena de civilizações extraterrestres em diferentes níveis de evolução e como a humanidade passou a lidar com essas novas trocas.
É sobre como vencemos o Paradoxo meio por acaso.

Ok, não entendi.

Na coluna anterior, falamos sobre o Paradoxo de Fermi – o paradoxo surgido do fato de, apesar da alta probabilidade de existência de vida extraterrestre, nunca termos tido qualquer contato com elas. Dentro desse panorama, uma classificação de civilizações em 3 tipos de acordo com sua evolução na exploração espacial e consumo de energia nos coloca próximos ao tipo 1 (que ainda não domina completamente as fontes de energia do seu próprio planeta) e as civilizações 2 e 3 como domínio de extração de energia da estrela do seu sistema solar e extração de energia de toda a sua galáxia, respectivamente.
A civilização tipo 3 é representada em Mass Effect pelos Protheans. Hibernando em algum lugar no universo eles já resolvem nosso primeiro problema do Paradoxo: a tal civilização ultra-avançada existe, mas está hibernando e portanto não vai entrar em contato com a gente. Rudes.
E também a cada 50 mil anos aconteceria o tal grande extermínio de outras formas de vida em evolução no universo, o que explicaria porque outras civilizações avançadas não existiriam. Elas foram exterminadas, pobrezinhas.

Mas isso tudo aí, na vida real… funciona?
A série tomou o cuidado de ficar bastante próxima do “cientificamente correto”, dentro dos limites impostos pelo fato de, bem, ser um videogame e não conhecermos civilizações alienígenas para nos inspirar. Todo esse papo de mass relays seria bastante plausível se um dia encontrássemos Element Zero ou algum material similar que permitisse a criação de energia escura e a manipulação do espaço-tempo. Estamos falando, segundo a crença de alguns, em encontrar matéria escura. Cientistas acreditam que a energia gerada por explosões de supernovas é realmente importante – ela pode até mesmo ser a tal “centelha da vida” que alguns chamam de 42 e outros de O Grande Mistério ou qualquer nome. As experiências relacionadas à compreensão da matéria escura apontam para um caminho encorajador em entender do que é formado o universo, e como dobrá-lo. Podem levar milhões de anos para que possamos colonizar nossa galáxia; uma descoberta repentina poderia muito bem acelerar o processo e nos levar adiante na corrida pelo domínio do espaço. E talvez permitir coisas tão incríveis quanto a criação de um mass effect que nos deixe viajar pela galáxia e fazer amigos extraterrestres tão legais quanto o Garrus.

Garrus

Autor: Maíra Testa

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