Então, falar desse game não vai ser muito difícil, pois foi um dos games mais incríveis que já joguei. Como professor de Jogos Digitais, recomendaria Clair Obscur: Expedition 33 para meus alunos, seja pelo Game Designer, Narrativa, Gameplay, Character Design e por ai vai.
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Bom, nesta análise, vou falar sobre a minha experiência jogando Clair Obscur: Expedition 33. Terminei o jogo a pouco tempo. Mas vamos falar sobre o jogo. Ele me tomou cerca de 50 horas para ser finalizado, isso pode variar dependendo da sua habilidade e dificuldade escolhida. Confesso que com tantas aulas para lecionar e estúdios para gerenciar, já que sou Game Producer, foi o que consegui.
Cenários e História
Clair Obscur: Expedition 33 traz uma das narrativas mais fascinantes que já experimentei em um jogo recentemente. O próprio título já carrega uma profundidade artística – “clair obscur”. Essa é uma expressão francesa que representa o contraste dramático entre luz e sombra nas artes visuais, permeia toda a experiência do jogo.

A história nos transporta para um mundo à beira do colapso. Imagine viver em uma realidade onde cada ano traz não apenas a passagem do tempo, mas um limite cada vez mais cruel para a existência. Uma figura enigmática, conhecida apenas como a pintora, marca anualmente um número cada vez menor em uma torre distante. No momento em que o número é pintado, todos aqueles com idade superior simplesmente se desintegram em pétalas. Desaparecem para sempre – um processo chamado “Gommageamento”.
Você lidera um grupo de personagens que dedicaram suas vidas a um único propósito: alcançar o continente onde se encontra esta torre misteriosa. Lá você deve confrontar a pintora, numa tentativa desesperada de encerrar este ciclo brutal de mortes que já dizimou 32 expedições anteriores.
Pessoalmente, esta história me afetou de maneiras que poucas obras conseguiram. Em sua essência, Clair Obscur é uma meditação sobre tragédia e esperança. Sobre a persistência humana diante do impossível, e principalmente sobre os laços que nos conectam uns aos outros. Em tempos tão fragmentados como os nossos, o jogo oferece uma reflexão poderosa sobre as conexões que formamos com amigos e família. Quem for jogar, vai chorar no Prologo.
Os Personagens
Os personagens de Clair Obscur: Expedition 33 realmente se destacam como um dos grandes trunfos do jogo. A forma como eles são construídos cria uma conexão genuína com o jogador – algo que tem se tornado cada vez mais raro nos RPGs modernos.

Esse game tem aquela dificuldade deliciosa de escolher apenas três companheiros para levar nas missões, quando na verdade você queria ter todos ao seu lado o tempo todo. É interessante como jogos como Avowed e os recentes Dragon Age não conseguiram recriar esse nível de conexão emocional com os personagens secundários.
A limitação do grupo de combate para apenas três personagens cria aquele dilema clássico dos bons RPGs: “quem deixar para trás desta vez?” Mas é reconfortante saber que durante as cutscenes, toda a turma aparece, mantendo viva a sensação de que vocês são realmente um grupo unido em busca de um objetivo comum.
O equilíbrio entre humor e seriedade é outro aspecto que merece destaque. Em um cenário tão sombrio, onde a morte prematura é uma constante, os momentos de leveza e as interações bem-humoradas entre os personagens oferecem um respiro necessário e tornam a experiência mais humanizada. Essa dualidade reflete bem a própria vida – mesmo nos momentos mais difíceis, o humor e as pequenas alegrias encontram seu espaço.
Essa capacidade de criar personagens memoráveis, com quem realmente nos importamos, é um elemento que muitos jogos modernos parecem ter perdido. Quando você termina um jogo e sente que vai sentir falta dos personagens como se fossem velhos amigos, isso é sinal de uma narrativa realmente bem construída.
Gameplay
Sobre a gameplay, realmente parece haver uma estrutura bem definida que divide a experiência em três pilares distintos, cada um com suas próprias forças e pequenas limitações.

A exploração do mapa-múndi me lembra muito aquela sensação nostálgica dos Final Fantasy clássicos – aquela progressão gradual onde novas habilidades desbloqueiam áreas antes inacessíveis. Esse sistema de “gating” controlado pode parecer limitante para quem prefere mundos totalmente abertos, mas cria uma curva de descoberta muito mais satisfatória. Há algo especial em retornar a uma área previamente visitada com uma nova habilidade e finalmente acessar aquele caminho misterioso que você ficou imaginando o que esconderia.
Os ambientes visualmente impressionantes elevam ainda mais essa experiência de exploração. O estilo artístico parece ser um dos grandes destaques do jogo. É interessante como você menciona que algumas áreas têm design mais inspirado que outras – isso é bastante comum mesmo em grandes produções, onde certos níveis recebem mais atenção da equipe criativa.
O sistema de combate soa particularmente interessante por essa fusão entre turnos e elementos em tempo real. Ter quatro opções defensivas diferentes (esquiva, aparar, pulo e o Gradient Counter) sugere uma profundidade mecânica raramente vista em RPGs.
A repetição de padrões dos inimigos nas horas finais é um problema comum em muitos RPGs – os desenvolvedores geralmente apostam que a essa altura o jogador estará tão investido na conclusão da história que relevará certa monotonia. Quanto ao desequilíbrio entre as mecânicas defensivas favorecendo o Parry, isso realmente limita a expressividade do jogador dentro do sistema. Quando um jogo oferece várias opções mas só uma é realmente viável, acaba criando uma ilusão de escolha.
Mesmo com essas pequenas falhas, parece que a jogabilidade como um todo consegue sustentar bem a experiência, complementando a forte narrativa e os personagens cativantes que você mencionou anteriormente.
Vale a pena jogar?
Após mergulhar nesse mundo de contrastes entre luz e sombra, posso afirmar com convicção que Clair Obscur: Expedition 33 é uma experiência necessária para sua vida.

A combinação de uma narrativa emocionalmente impactante, personagens profundamente desenvolvidos com quem realmente nos importamos, e um sistema de combate que equilibra estratégia e reflexos cria um pacote completo que se destaca em meio a tantos RPGs modernos.
O jogo consegue o raro feito de entregar momentos de leveza e humor genuíno mesmo enquanto aborda temas tão pesados como morte, esperança e conexões humanas.
Como professor de desenvolvimento de jogos digitais, considero Clair Obscur: Expedition 33 praticamente obrigatório, independentemente da sua área de interesse.
Para quem estuda game design, o equilíbrio entre exploração progressiva e combate híbrido oferece lições valiosas sobre como inovar dentro de estruturas estabelecidas.
Para os interessados em narrativa, a forma como o jogo tece sua história sombria sem perder humanidade é magistral. E para quem foca em gameplay, o sistema de combate, mesmo com pequenos desequilíbrios, demonstra como mecânicas aparentemente distintas podem ser integradas de forma coesa.
Este é o tipo de jogo que não apenas entretém, mas inspira — um exemplo brilhante do potencial artístico e emocional que os jogos podem alcançar quando desenvolvidos com paixão e visão clara.