Resolvi ler o tão famoso Comer, Rezar, Amar depois de ver o TED abaixo com a Elizabeth Gilbert, autora do livro, que, de maneira divertida e pessoal, fala sobre o sucesso, o fracasso, criar com devoção e continuar tentando.
Comer, Rezar, Amar foi lançado em 2006 e foi um sucesso estrondoso vendendo mais de oito milhões de cópias no mundo todo. Escrito em primeira pessoa, o livro narra a viagem de um ano da autora na Itália, na Índia e na Indonésia em busca de Deus e paz de espírito. Liz acabou de sair de um casamento infeliz e resolve cair pelo mundo para se encontrar outra vez.
Com uma ótima tradução para o português, a leitura é fácil e te fisga de início com uma narrativa simples e engraçada. A cada página o livro vai ficando mais entusiasmante, pois Liz não poupa detalhes para narrar a sua experiência “em busca de todas as coisas da vida”. A história agradou tanto que em 2010 ganhou um filme estrelado por Julia Roberts, a queridinha de Hollywood, no papel principal.
Eu havia assistido Comer, Rezar, Amar há um tempo em um avião, em inglês e sob os efeitos do companheiro de viagens Dramin, que fizeram os detalhes da história ficarem um pouco vagos na memória. Sendo assim, após terminar de ler Comer, Rezar, Amar, assisti ao filme novamente. E que tristeza. Não sei como a autora concordou com o que fizeram com a história dela.
Primeiro que a Julia Roberts não parece em nada com a autora, ela sorri demais, faz charme demais e não tem cara de quem vai passar meses em um curso de meditação na Índia. As firulas que acrescentaram para dar contexto – como o motivo do fim do casamento ter sido despertado porque o marido gostaria de voltar à faculdade (oi?) – são vagas, bobas e irreais. Liz não explica no livro qual foi o real motivo do fim, mas ela cita a sua falta de vontade de ter filhos e fala sobre o fim do amor, mas nada sobre o seu ex-marido querer voltar a estudar.
Entendo que um filme exige diálogo e drama. Ok, mas o que foi a interpretação de Javier Bardem fingindo ser brasileiro? Transformou o personagem em um homem mequetrefe que finge emoção só para dar um jeito de soltar a palavra “saudade”, em um português chulo. Felipe, o atual marido de Liz, e o seu flerte na época, não é um sentimental tolo como apresentou Bardem.
No livro, Felipe é um homem bem resolvido que sabe o que quer e tem pensamentos sensatos sobre as coisas – dando opiniões para o caso de Wayan, a amiga balinesa de Liz, que custava a encontrar uma casa para comprar com o dinheiro que Liz havia levantado para ela; detalhe esse ignorado pelo filme.
Sem falar na estereotipada Armênia que retratam como uma periguete brasileira, enquanto trata-se de uma mulher elegante que trabalha com ações sociais. Sei que sempre o filme vai ser diferente do livro, mas Julia Roberts e Javier Bardem destroem toda a sutileza da história com gritos que nunca existiram e um drama desnecessário, o qual também tampouco aconteceu.
Pesquisei para saber a opinião de Liz sobre a versão de sua história nos cinemas, mas não encontrei muita coisa. Suas entrevistas normalmente falam sobre a sua intenção com o livro: de despertar nas pessoas a vontade de mudar aquilo que não está legal. Não necessariamente indo à Itália ou à Indonésia, mas que acreditem que é possível ir atrás da própria felicidade.
Comer, Rezar, Amar é um livro simples, mas com uma mensagem importante para quem ainda não conseguiu acreditar nos seus sonhos ou simplesmente quer dar mais um empurrão sobre todas as coisas que a vida pode dar. A história é toda sobre a compaixão: seja pelo outro ou por você mesmo. Se você ainda não leu, pode ter certeza que mesmo dez anos depois ainda é uma boa experiência. E, nunca, nunca baseie esta história pelo seu emporcalhado filme.
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