Observar um evento astronômico sem explicações científicas pode ser uma experiência aterrorizante, pode causar fascínio e desencadear superstições. Os desenhos do século 17 que compõem um livro fascinante mostram como as pessoas de um mundo pré-newtoniano viam cometas e meteoros no céu.
Kometenbuch, ou O Livro dos Cometas, é um documento que compõe imagens, poesias, questões e percepções inspiradas em cometas. O livro foi criado em 1587 em Flandres, antiga província francesa.
As ilustrações são de um autor cujo nome permaneceu perdido na história. Aliás, não se sabe se ele foi fruto de um trabalho colaborativo entre vários artistas.
É interessante como as artes refletem forte viés religioso. Naquela época, Galileu ainda era um estudante. Isso significa que as grandes descobertas científicas eram meros embriões. As ansiedades do desconhecido eram sanadas através das ficções.
O livro representa como os cometas eram observados através de olhares supersticiosos, sendo comumente associados à presságios de seca, fome ou derramamento de sangue iminente.
Kometenbuch é um testamento sobre a tendência humana de associar o desconhecido ao mal, à ameaça e ao que deve ser temido. Ou como “Às vezes atribuímos ao demônio certas coisas que não entendemos”, como o escritor Gabriel García Márquez já dizia em seu livro “Do Amor e Outros Demônios”.
O documento também testemunha como as maneiras de noticiar eventos evoluíram ao longo do tempo. Os cometas eram vistos como “maravilhas”, cujas notícias eram repassadas de boca em boca, antes da invenção da imprensa escrita.
É interessante notar como, hoje, diante das mais diversas evidências e explicações científicas das quais temos acesso, ainda há quem não se permita se maravilhar com estes fenômenos. Ou como algumas pessoas se limitam a negá-los.
“Antes de a Terra se ter formado, já havia cometas, os quais, durante todas as eras subsequentes, continuaram a embelezar os nossos céus. Mas só muito recentemente, se tivermos em conta os milhões de anos decorridos, passou a haver espectadores capazes de se maravilharem com a sua beleza e só há dez mil anos começou a haver o cuidado de elaborar registros duradouros dos pensamentos e das reações que desencadearam” escreveram o cientista Carl Sagan e a produtora Ann Druyan no livro Cometa, publicado originalmente em 1985.
Como desenhos do século 17 retratavam cometas e meteoros no céu
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