Mesmo com o público latino marcando presença pesada nas bilheterias dos Estados Unidos, a presença dessa comunidade continua pequena tanto diante quanto atrás das câmeras. Muitas produções lideradas por latinos mal têm tempo de encontrar seu público antes de serem canceladas, criando a falsa impressão de que falta interesse, quando na verdade o problema é a falta de apoio. É justamente aí que iniciativas como o Mitú | Walmart Filmmaker Mentorship Program se tornam essenciais. Pela terceira vez, a plataforma multicultural Mitú e o gigante varejista Walmart se unem para abrir portas e dar fôlego a criadores que carregam narrativas ricas, diversas e pouco vistas na grande mídia.
Nesta edição, o programa ganhou um formato acelerado de 11 semanas, dando aos selecionados um mergulho real no processo de produção, acesso a ferramentas profissionais, suporte do Mitú Studios e até à famosa prop house do Walmart em Los Angeles. Os participantes, Glenís Hunter, Eric Armando Ibarra, Stephanie Osuna-Hernandez e Sophia Costanzo, produziram curtas originais entre cinco e dez minutos, além de receberem um kit de equipamentos de US$ 10 mil para impulsionar seus próximos projetos. O resultado desse trabalho coletivo será exibido em novembro, na 24ª edição do Miami Short Film Festival, marcando um momento simbólico para o programa e seus criadores.
Entre os curtas, Glenís Hunter apresenta “15”, a história de Ana, que após ser demitida no dia em que completa 40 anos recebe uma mensagem misteriosa que a transporta de volta a 1999, permitindo um reencontro inesperado com sua versão adolescente e com o pai que perdeu. Stephanie Osuna-Hernandez surge com “Spill the Frijoles”, uma comédia sobre um casal de novos pais que tenta esconder de uma família mexicana enorme e intrometida o fato de terem invertido os papéis tradicionais da maternidade e paternidade, entrando numa bola de neve de mentiras cada vez mais desastrosas. Já Eric Armando Ibarra traz “Two Steps”, a jornada de um garoto de 12 anos apaixonado por R&B e passos de dança, determinado a brilhar em sua primeira festa de quinceañera, e talvez conquistar seu crush, mesmo quando nada sai como ele imagina. Fechando o grupo, Sophia Costanzo lança “Cups”, que acompanha Valeria, uma menina cubano-americana de nove anos que quer jogar beisebol com os meninos, mas precisa contornar uma regra ultrapassada da Little League que exige que todos os jogadores usem um “cup”, até mesmo as meninas.
Todo esse processo foi acompanhado por Oz Rodriguez, diretor, produtor e roteirista vencedor do Emmy, conhecido pelo trabalho em Saturday Night Live. Sua mentoria, segundo os participantes, ajudou a lapidar ideias e fortalecer a confiança criativa. Em uma longa conversa com os cineastas, uma palavra aparecia repetidamente: apoio. Mesmo em uma indústria marcada por competição e isolamento, o programa conseguiu criar um ambiente de colaboração real, onde os cineastas se ajudavam nas dificuldades, dividiam experiências e construíam uma rede de amizade que vai além do projeto. Para todos, a sensação era a mesma: ter alguém que acredita no seu trabalho faz toda a diferença entre um sonho engavetado e uma carreira que deslancha.
Em um momento em que o financiamento de criadores diversos vem diminuindo, o investimento contínuo do Mitú e do Walmart se destaca justamente por enfrentar essa lacuna. O impacto já pode ser visto nos resultados das edições anteriores, com participantes conquistando novos filmes, prêmios e mais visibilidade na indústria. Como se diz muito no México, “Hay talento, solo falta apoyo”. O talento está aí, o que falta, muitas vezes, é a estrutura. E programas como esse provam que, quando o apoio chega, novas vozes finalmente conseguem ser ouvidas.
Essa nova geração de cineastas reforça isso. Glenís Hunter, nascida no Bronx e hoje em Los Angeles, combina formação em Psicologia e Estudos da Mulher com uma trajetória que passa pelo teatro e por campanhas publicitárias antes de se dedicar a contar suas próprias histórias. Produções como Woke, Dinner Date e Supa Hair já circularam por festivais como o LALIFF e o HBO NY Latino Film Festival. Ela também conquistou o NAMA TV Writers Lab e o Netflix Accelerator Grant, e agora finaliza o curta de terror psicológico Breathe.
Stephanie Osuna-Hernandez, de Inglewood, traz um estilo que mistura emoção real e humor afiado. Ela trabalhou com os showrunners de Gentefied, da Netflix, e foi destaque no Project Involve da Film Independent, onde dirigiu Calabaza, exibido em grandes festivais. Sua websérie & They Were Roommates já soma mais de 60 mil visualizações, e ela está roteirizando seu primeiro longa, (Emo)tionally Yours, previsto para 2026.
Eric Armando Ibarra, representante da cena chicana de Chula Vista, tem obras que viajaram o mundo e chamou atenção de gigantes como The FADER, Live Nation e Sundance. Ele passou por programas da Warner Bros. Discovery e da Netflix e hoje escreve na Rockstar Games enquanto desenvolve seu primeiro longa e uma série animada adulta.
Sophia Costanzo, por sua vez, combina raízes cubanas e italianas em narrativas que equilibram humor, memória e identidade. Seu curta Good Cuban Girls, exibido no Oscar-qualifying LA Shorts International Film Festival, mergulha nas complexidades de ser latina nos EUA. Ex-atleta de vários esportes, ela também busca ampliar a presença de mulheres atletas no audiovisual. Com diploma pela University of Notre Dame e mestrado em direção pela Loyola Marymount, ela ainda leva para a cozinha a mesma sensibilidade com que cria suas histórias.
Quem quiser acompanhar de perto o Mitú | Walmart Filmmaker Mentorship Program e as próximas etapas desses cineastas pode encontrar mais detalhes no site oficial.



