Curiosidades

Como os elfos se tornaram símbolos do Natal e ajudantes do Papai Noel

Hoje em dia, é impossível pensar no Natal sem imaginar os elfos trabalhando incansavelmente no Polo Norte. Eles aparecem em filmes, comerciais, enfeites, suéteres cafonas e até observando silenciosamente as crianças direto da estante da sala. Mas, ao contrário do Papai Noel, que tem raízes claras na figura cristã de São Nicolau, os elfos não nasceram como personagens natalinos. Na verdade, a relação deles com o Natal é bem mais recente e construída aos poucos ao longo da história.

Muito antes de ajudarem a fabricar brinquedos, os elfos já existiam nos mitos europeus, especialmente na mitologia nórdica. A palavra “elfo” vem de álfar, seres do folclore escandinavo que surgiram séculos antes do cristianismo. Esses personagens não tinham nada a ver com oficinas, roupas verdes ou chapéus pontudos. Eles eram conhecidos também como huldufólk, ou “povo escondido”, criaturas que viviam em um plano invisível, entre o mundo humano e o sobrenatural. Não eram necessariamente pequenos, nem padronizados em aparência, e muitas vezes eram descritos como semelhantes aos próprios humanos.

Com o tempo, histórias sobre seres quase humanos, que viviam às margens da nossa realidade, se espalharam pela Europa pré-cristã. Na Escócia, surgiram os brownies, criaturas diminutas que podiam tanto ajudar nas tarefas domésticas quanto causar confusão, dependendo do humor. Na Alemanha, os kobolds tinham comportamento parecido, enquanto na Suécia os tomte alternavam entre prestativos e travessos. Esse lado ambíguo, entre o útil e o bagunceiro, acabou se tornando uma marca registrada dos elfos.

A virada para uma imagem mais simpática começou na literatura. Em 1812, os Irmãos Grimm publicaram “Os Elfos e o Sapateiro”, conto em que criaturas misteriosas ajudam um artesão pobre a concluir seus sapatos durante a noite, salvando seu negócio pouco antes do Natal. Mesmo sem mencionar o Papai Noel, a história ajudou a associar os elfos ao trabalho noturno, à generosidade e ao clima natalino.

Poucos anos depois, em 1823, surgiu um dos textos mais influentes da cultura natalina: “Uma Visita de São Nicolau”, mais conhecido como “Era a Noite Antes do Natal”. O poema não só ajudou a definir a imagem moderna do Papai Noel como também o descreveu como um “velho elfo alegre”, aproximando ainda mais essas criaturas mágicas da celebração.

Ao longo do século XIX, essa ligação foi se fortalecendo. A escritora Louisa May Alcott chegou a escrever uma coletânea chamada Christmas Elves, embora a obra nunca tenha sido publicada e hoje esteja perdida. Já em 1857, um poema da Harper’s Weekly descrevia claramente elfos trabalhando em equipe para produzir doces e brinquedos destinados às meias das crianças. A partir daí, a ideia dos elfos natalinos trabalhadores caiu de vez no gosto popular, sendo reforçada no início do século XX por artistas como Norman Rockwell e, mais tarde, por Walt Disney.

No mundo moderno, os elfos se tornaram praticamente tão icônicos quanto o próprio Papai Noel. O visual clássico, com roupas coloridas, cintos com fivelas douradas e chapéus pontudos, foi popularizado por especiais como Rudolph, a Rena do Nariz Vermelho, de 1964, e eternizado no cinema com Elf, de 2003. O figurino de Buddy, o elfo, foi tão fiel ao modelo antigo que a produção precisou de autorização especial para usá-lo.

Fora das telas, eles continuam onipresentes. Comerciais, vitrines e decorações de Natal estão cheios desses personagens, que hoje parecem muito mais dóceis do que seus antepassados mitológicos. Ainda assim, um certo toque de travessura permanece vivo, especialmente para quem convive com o famoso Elf on the Shelf durante o mês de dezembro.

No fim das contas, os elfos não nasceram como símbolos do Natal, mas foram adotados pela data ao longo de séculos de histórias, poemas e cultura pop. De criaturas misteriosas escondidas entre mundos, eles evoluíram para os incansáveis ajudantes do bom velhinho, provando que até as lendas sabem se reinventar com o tempo.

Veja mais curiosidades!

Hortência é profissional de Letras, educadora, tatuadora e mãe. Apaixonada por arte e cultura, une seus múltiplos interesses que vão da cultura pop à gastronomia para produzir conteúdos variados e criativos.

Inscrever-se
Notificar de
guest

0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Pin