Ciência Games História

Como os jogos moldaram o comportamento humano e a evolução das sociedades ao longo dos séculos

Os jogos sempre fizeram parte da nossa cultura de alguma forma. Ao olhar para história, conseguimos entender melhor como eles acompanharam nossa evolução social e influenciaram nosso comportamento ao longo dos séculos.

De jogos de tabuleiro, como xadrez e damas, a experiências imersivas com as tecnologias de hoje, a necessidade de competir e se divertir tem raízes profundas na sociedade.

É isso que nos explica a neurocientista Kelly Clancy, autora de Playing with Reality, um livro sobre a história dos jogos e seus impactos culturais e cerebrais.

A história nada recente dos jogos na sociedade

Evidências arqueológicas mostram que os humanos interagem com jogos de tabuleiro há aproximadamente dez mil anos. Registros encontrados no Oriente Médio e na África, por exemplo, lembram o jogo Mancala, criado no Egito há 7 mil anos e que desenvolve o raciocínio lógico, estratégico e matemático.

O mais interessante desses jogos é que surgiram antes mesmo da invenção da escrita, reforçando como a atividade lúdica sempre foi central para a sociedade.

A neurocientista afirma que a universalidade do comportamento lúdico é fundamental para a sobrevivência e o desenvolvimento social, algo que também podemos observar em outras espécies, como mamíferos, pássaros e até insetos.

Entre outros jogos antigos mais conhecidos está o Jogo Real de Ur, que data há mais de cinco mil anos, encontrado na antiga Babilônia, e amplamente estudado pelo curador do Museu Britânico, Irving Finkel.

Após anos de pesquisa, Finkel conseguiu descobrir as regras do jogo, que, na verdade, é uma competição de corrida — mais um exemplo de como os jogos sempre foram uma forma de socialização e entretenimento.

Além disso, em ruínas de templos egípcios, foram encontrados tabuleiros rabiscados nos telhados, onde sacerdotes passavam o tempo jogando enquanto aguardavam eventos astronômicos.

Esses registros demonstram como a popularidade dos jogos atravessou diferentes classes sociais e civilizações ao longo dos séculos.

Jogos e o cérebro humano

Kelly Clancy ainda explica que o comportamento lúdico é instintivo e importante para o desenvolvimento social e emocional.

Estudos com ratos, por exemplo, mostram que eles também interagem em tipos de jogos e emitem sons de alta frequência, conhecidos como “risos de ratos”, convidando outros a brincar.

E isso reforça a ideia de que o hábito de jogar é um comportamento universalista.

Para a neurocientista, esse instinto também desempenha uma função educacional importante, pois permite ensinar habilidades como resolução de problemas, cooperação e respeito às regras.

A Teoria dos Jogos aplicada no cotidiano

A Teoria dos Jogos, desenvolvida por John von Neumann na década de 1940, tenta modelar decisões estratégicas em situações competitivas.

Inicialmente voltada para jogos de soma zero, como o xadrez, ela se expandiu e se tornou uma ferramenta importante na economia moderna, descrevendo como indivíduos tomam decisões com base nas escolhas de outros jogadores, sempre buscando aumentar suas chances de vitória e vantagens.

Kelly Clancy destaca que, apesar do sucesso da teoria em modelar comportamentos competitivos, ela falha ao tentar prever o comportamento humano real, que muitas vezes é mais cooperativo e generoso do que é sugerido.

Em vez de agir puramente de forma egoísta, o comportamento humano é influenciado por fatores culturais, emocionais e sociais, tornando a aplicação da teoria dos jogos em sistemas reais, como mercados financeiros ou redes sociais, bastante controversa.

Jogos como ferramentas de aprendizado e transformação social

De jogos educativos criados para ensinar princípios de moralidade, até plataformas digitais que utilizam gamificação para engajar usuários, os jogos e suas dinâmicas têm sido aplicados em diferentes contextos da nossa vida.

Seja na neurociência, psicologia ou teoria econômica, eles colocam uma lupa sobre as motivações humanas e nos permitem compreender mais aspectos sobre nossa evolução.

À medida que as sociedades se tornam cada vez mais digitais, os jogos ainda norteiam nossos comportamentos, relações e até mesmo os sistemas que criamos para interagir uns com os outros.

Isso nos faz pensar em que, no futuro, devem continuar atuando como componentes importantes na construção de uma sociedade mais conectada e complexa.

Quem sabe, em alguns milênios, as civilizações futuras irão se perguntar sobre os jogos do nosso tempo e como moldaram a forma como pensamos, trabalhamos e jogamos. O que você acha disso?

Saiba mais sobre o livro Playing With Reality aqui e ouça uma entrevista com a pesquisadora Kelly Clancy aqui.

Leia mais sobre jogos e sociedade.

Jornalista, comunicadora e eterna curiosa. Estou sempre lendo algo novo e explorando temas diferentes, de ciência à música, literatura e detalhes do cotidiano. Não nego um bom papo sobre qualquer assunto e estou sempre de ouvidos prontos para me inspirar em novas histórias.

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