O cinema e a TV passaram por uma virada curiosa nos últimos anos. O que antes era dominado por reboots sombrios e realistas, típicos dos anos 2000, agora deu espaço para histórias mais leves, coloridas e escapistas. Quem explica essa transição de forma bastante lúcida é o video ensaísta Pyramid Peak, que analisou como o gosto do público mudou entre a década de 2000 e os dias de hoje, em 2025.
Segundo ele, o cenário pós-11 de setembro de 2001 teve um papel importante na busca do público americano por narrativas mais sérias e sombrias, algo que refletia o estado de espírito de um país abalado.
Um dos exemplos mais marcantes dessa fase foi a trilogia Batman Begins, de Christopher Nolan, que em 2005 redefiniu o herói para um mundo mais realista e brutal, deixando para trás o tom caricato das versões anteriores.
“Você pode imaginar o quão incrível foi ver isso pela primeira vez em 2005: um Batman que parecia realmente pertencer ao nosso mundo, enfrentando perigos que pareciam reais demais”, relembra Peak.
O sucesso foi imediato, tanto com o público quanto com a crítica, e estabeleceu o tom sombrio que guiaria várias outras produções, especialmente reboots.
Mas os tempos mudaram e, vinte anos depois, esse peso dramático já não ressoa como antes. Peak observa que o mundo atual é marcado por um excesso de informações, um bombardeio constante de ruídos e opiniões conflitantes que deixam as pessoas mentalmente saturadas.
Isso acaba inspirando outro tipo de história: uma em que o herói consegue atravessar esse caos, enxergar o que realmente importa e encontrar soluções claras e diretas. Uma narrativa que simplifica o turbilhão e oferece a clareza que o público deseja.
Além disso, os temas dos filmes seguem refletindo as angústias do momento. Antes, os vilões eram figuras mais abstratas ou simbólicas. Hoje, os conflitos se aproximam mais da realidade.
Se uma nova recessão global reacender o debate sobre desigualdade social, é natural que os filmes tragam como antagonistas os ricos, poderosos e desconectados da realidade.
Uma geração que sente na pele os efeitos da crise imobiliária e da inflação sem fim vai se identificar com o herói que recebe uma carta ruim no jogo da vida, mas ainda assim tenta dar a volta por cima.
O que Pyramid Peak mostra é que o cinema segue o que o mundo sente. Se antes era preciso mergulhar na escuridão para encontrar sentido, hoje o desejo é escapar dela, ou ao menos encontrar um caminho mais leve para enfrentá-la.
*Ative as legendas automáticas em português no vídeo, caso não entenda inglês.
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