O inventor conhecido como AstroSam decidiu encarar um desafio nada comum: criar uma interface cérebro-computador (BCI) caseira. Diferente das soluções altamente refinadas da Neuralink ou de laboratórios acadêmicos, o projeto de AstroSam é uma versão “faça você mesmo” que une criatividade, eletrônica e muita perseverança.
No coração do sistema está uma placa de processamento personalizada equipada com um microcontrolador ATmega32U2, que cumpre múltiplas funções ao mesmo tempo, desde a leitura de sinais cerebrais até a conexão com acessórios e o gerenciamento de dados via USB. A estrutura é formada por placas de circuito impresso circulares, com 20 mm de diâmetro, empilhadas de forma compacta e conectadas por pinos de mola que garantem boa condução elétrica.
Para prender esse conjunto à parte de trás da cabeça, AstroSam desenvolveu um suporte 3D inspirado em filmes de ficção científica, embora o plástico utilizado não seja exatamente o mais indicado para uso prolongado sobre a pele. Um cabo customizado com encaixe magnético conecta a placa a uma malha de 32 eletrodos, capaz de se ligar a sondas cerebrais, o que, em uma BCI de nível profissional, exigiria implantação cirúrgica para obter sinais cerebrais nítidos e confiáveis. No entanto, o projeto de AstroSam se mantém na proposta de prototipagem, utilizando peças acessíveis e técnicas domésticas para simular, com surpreendente fidelidade, o funcionamento de sistemas clínicos reais.

A ideia por trás da iniciativa é clara: tornar a tecnologia de BCI mais acessível. Interfaces cérebro-computador normalmente dependem de investimentos milionários e recursos de grandes empresas ou universidades, deixando entusiastas e amadores de fora da conversa. Ao construir o sistema do zero com componentes de baixo custo e software open source, AstroSam mostra que é possível democratizar esse tipo de tecnologia, desde que se tenha disposição, paciência e um bom conhecimento técnico.
Ainda assim, é bom não se iludir. Esse tipo de projeto está longe de ser simples ou intuitivo. Ler sinais do cérebro, mesmo de forma não invasiva, é um desafio enorme. Os dados são extremamente ruidosos e complexos, exigindo filtros, algoritmos sofisticados e até ferramentas de aprendizado de máquina para extrair informações úteis. AstroSam utiliza software próprio para interpretar os sinais, mas, sem os recursos de um laboratório completo, atingir alta precisão é uma tarefa árdua.
Mesmo com todas essas dificuldades, o projeto representa um passo ousado e inspirador. Em um futuro próximo, ideias como essa podem abrir caminho para que mais pessoas explorem o potencial de controlar máquinas com o pensamento, nem que seja começando pela própria garagem.
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