Discounty, desenvolvido pelo estúdio Cucky Software, se propõe a ser um cozy game em que você cuida de um supermercado em uma pequena vila.
O jogador assume o papel de um funcionário de uma grande rede de varejo na cidade fictícia de Blomkest, responsável por etiquetar produtos com preços reduzidos. A premissa é curiosamente cativante, e traz nostalgia por tarefas metódicas e uma satisfação quase ASMR em organizar e marcar.
Discounty é um jogo de contrastes acentuados, tem pontos positivos mas também negativos. Nós tivemos a oportunidade de jogar e contamos para você um pouco deste game.

Um início atrativo e interessante
O cerne de Discounty é simples e, inicialmente, hipnotizante. O jogador é apresentado a uma pequena vila, onde deve tomar o posto de cuidar de um mercado local.
A jogabilidade é dividida em ciclos diários. Você precisa cumprir suas obrigações no trabalho, como repor prateleiras, cuidar do caixa, fazer contas das compras dos clientes e atender. Ao interagir com clientes e colegas de trabalho, você desvenda segredos sobre a cidade, a loja e a sua própria história.
A jornada começa bem cedo, entre 6h e 9h da manhã, quando o jogador prepara o açougue: estoca produtos, reorganiza prateleiras, recebe mercadorias e resolve problemas logísticos com espaço limitado.
Enquanto isso, há algumas missões à parte para conhecer mais sobre o local, as pessoas, e vai abrindo novas oportunidades de negócios – como novos produtos a serem comprados, negociados, e vendidos.

Crítica social
O jogo também se destaca por sua crítica social. A loja de descontos é uma metáfora para a exploração capitalista. A empresa, a “Discounty Corp.”, é uma entidade fria e desumana que trata seus funcionários como números. A repetição das tarefas, a exigência de produtividade e a falta de reconhecimento são uma representação realista da vida de muitos trabalhadores. No entanto, Discounty não é um panfleto político. Ele usa essa crítica como pano de fundo para uma história profundamente humana e cheia de suspense.
Sua tia Tellar é uma mentora ambígua: expansiva, impiedosa e muitas vezes inescrupulosa, fazendo acordos obscuros, demitindo funcionários, tudo para crescer. Você é um peão disposto, carregando toda a loja sozinho enquanto a comunidade sofre os impactos, e o jogo te faz refletir sobre a forma como corporações e governos minoram comunidades locais.
É uma pena, pois o jogo claramente tenta construir uma narrativa sutil por trás da monotonia do trabalho. Pequenos e-mails no sistema interno, conversas com colegas e a pressão cada vez maior da gerência para aumentar os lucros da loja pintam um quadro sombrio e satírico do capitalismo moderno e da rotina desgastante do varejo. Há um comentário social interessante aqui, sobre a desumanização do trabalho repetitivo e a ilusão de que “preço baixo” é sempre sinônimo de “lucro”. Infelizmente, essa crítica é sufocada pela repetição exaustiva das tarefas e pela irritação causada pelos problemas técnicos.

Visuais, trilha sonora e controles bons
Visualmente, Discounty adota um estilo low-poly colorido e limpo que funciona bem no modo portátil do Switch. Os produtos são reconhecíveis, e a loja tem uma estética genérica mas eficaz.
No Switch, os visuais e controles são, na maior parte, bem executados, embora o sistema de checkout possa apresentar pequenos deslizes, como precisar mover o joystick num ângulo antes de apertar um botão, o que causa cliques errados.
Em termos de desempenho no Switch, o jogo roda de forma impecável. Não há quedas de frame, e os tempos de carregamento são curtos. A experiência tanto no modo portátil quanto no modo dock é fluida, o que é essencial para um jogo que demanda imersão.
As mecânicas são envolventes, mas podem ser tornar repetitivas
O loop de gameplay é bem satisfatório: estocar, abrir portas, atender clientes, gerenciar pedidos, expandir, tudo contribui para um senso de progresso sólido.
Aquele esquema de “só mais um dia”, que vemos em jogos como Stardew Valley.
No entanto, essa mesma rotina pode se tornar exaustiva. Se você desbloquear todos os upgrades e ainda não puder contratar um funcionário para o caixa, continuar sozinho, dia após dia, pode ficar entediante.

Conclusão
Discounty é uma experiência interessante dentro do gênero cozy sim: ao mesmo tempo reconfortante e desconfortável, por mostrar que o trabalho pode ser repetitivo, exaustivo e moralmente ambíguo. O charme da arte, o sistema de loja bem pensado e as interações com moradores fazem do jogo um ambiente vivo e envolvente.
Por outro lado, seus acenos à crítica social são tímidos; o jogo parece querer dizer algo profundo, mas escolhe não se aprofundar muito. Talvez para não ficar muito pesado, e continuar sendo um game com foco na diversão do jogador. Mesmo assim, a experiência termina cedo demais, e para alguns, a rotina pesada pode pesar.
Se você gosta de simulação de loja com narrativa intrigante e sem distrações como romance ou minigames, Discounty vale o investimento. Mas se busca profundidade social radical ou vida no campo alternativa, talvez seja só algo para passar o tempo, apesar de passar esse tempo de forma memorável e divertida.
O jogo dá o toque de uma loja real, tem estética acolhedora e narrativa que remete um pouco à crítica, mas sem vociferar. Um game que diverte e faz pensar, ainda que deixe a gente querendo um pouco mais.
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Nota final: 3,5/5
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