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Distopias para entender a realidade

Roger Waters, turnê Us + Them 

Se antes os títulos deste gênero denunciavam determinado contexto histórico ou previam nossas aflições, hoje eles soam perfeitamente atuais. Aqui você encontra distopias para entender a realidade.

Seja para compreender períodos históricos, a organização da sociedade ou reconhecer características do totalitarismo e autoritarismo – que invadem nosso pensamento crítico.

Distopias para entender a realidade

Nós, Ievguêni Zamiátin (1924)

O escritor russo faz uma reflexão poética e satírica sobre uma sociedade organizada através da mecanização do ser humano, onde o livre arbítrio foi banido e a imaginação é considerada uma doença.

Ao contrário da manipulação midiática ou repressão pela violência, Zamiátin retrata um poder que se dá através da perda da individualidade, na alienação do ser sobre si mesmo, na privação do pensamento crítico sobre tudo que o cerca.

Uma das primeiras distopias do gênero literário, e que inspirou obras famosas de George Orwell e Aldous Huxley.

Há um filme de 1982, sob o título “We”, com roteiro de Zamiátin e dirigido por Vojtěch Jasný.

Fahrenheit 451, Ray Bradbury (1953)

Através de uma sociedade na qual os livros são proibidos e queimados,
Bradbury reflete sobre como a TV substituiu o interesse pelos livros.

Como um entorpecente, a televisão priva as pessoas de pensamento crítico,
que agora se reúnem em salões cheios de grandes telas enquanto passivamente assistem programas chulos e comerciais.

Bradbury, relembrando momentos históricos em que livros viraram cinzas em grandes fogueiras nazistas, também reflete sobre o porquê os livros foram e ainda são tão temidos.

Ressalta também a Televisão como meio de comunicação de massa, que oferece conteúdo fácil e atraente para desviar a atenção do que acontece realmente.

Disponível para o cinema na direção de François Truffaut, de 1966. E uma nova versão, de 2018, dirigido por Ramin Bahrani. 

1984, George Orwell (1949)

O clássico retrata uma sociedade que vive em constante ameaça de guerra, tensão criada pelo governo totalitário para manter o poder das classes mais altas, limitando o acesso à educação e bens materiais às classes desfavorecidas.

Aqui são descritas os abusos de poder do Estado na vida dos cidadãos, retratado principalmente no livro através da imagem do “Big Brother”, que vigia a tudo e a todos.

Também adaptado para o cinema, em 1984, e dirigido por Michael Radford.

A Revolução dos Bichos, George Orwell (1945)

George Orwell faz uma crítica satírica usando animais como metáfora para apresentar os tipos sociais e políticos dentro de uma sociedade.

O livro foi escrito para satirizar o governo de Stálin que, ao prometer um “paraíso comunista”, estabeleceu uma ditadura corrupta e sangrenta, traindo a Revolução Russa de 1971.

Por exemplo, os porcos são os líderes, os cães são seus protetores e as ovelhas são as massas, que desejam a liberdade mas são impedidas pela repressão.

Apesar de fazer crítica direta à um governo específico, o livro é muito atual em denunciar uma organização social que ainda é vista pelo mundo.

Como os governantes podem trair sua nação ao tomarem o poder, assim como as bárbaries que seus protetores utilizam para proteger esse poder.

The Children of Men, P.D.James (1992)

Ambientado em um futuro próximo, no qual a infertilidade humana deixou a sociedade à beira do colapso, imigrantes estão em situação ilegal na Inglaterra, onde o governo impõe leis opressivas sobre a imigração.

Imigrantes engaiolados e o país em situação de guerra civil, enquanto a camada rica e favorecida descansa no topo, ganhando dinheiro em cima do caos e sem propor soluções socioeconômicas que fujam da opressão.

Já vimos isso em algumas manchetes dos jornais pelo mundo.

 Adaptado em ótimo filme sob o título “Filhos da Esperança”, de
2006, dirigido por Alfonso Cuarón.

O Conto de Aia, Margaret Atwood (1985)

Obra prima onde a escritora explora profundamente temas da subjugação das mulheres e os vários meios pelos quais elas perdem o individualismo e independência.

A autora imagina como seria a sociedade regida pelas ordens fundamentalistas da igreja, retratando as regras das palavras da Bíblia e das instituições.

Também adaptada para a TV, em forma de série “The Handmand’sTale”, criada por Bruce Miller.

Um soco no estômago.

Ensaio Sobre a Cegueira, José Saramago (1995)

O livro narra uma epidemia chamada ‘cegueira branca’, que cega uma cidade inteira e desestabiliza as estruturas sociais.

Uma obra brutal e violenta que aflige o leitor ao transferí-lo dentro de uma história que o obriga a abrir e fechar os olhos, recuperar a lucidez e resgatar o afeto e empatia.

Aqui, Saramago, acima de tudo, lembra “a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam”.

Adaptado para o cinema em 2008, sob o mesmo título, dirigido por Fernando Meirelles.

Idiocracia, Mike Judge (2006)

Nesse filme, Mike Judge expressa seu ponto de vista ácido sobre a sociedade estadunidense, mas que cabe perfeitamente para nós.

Em um futuro devastado, a população está mais idiotizada que nunca e  elege um presidente lunático (Terry Crews), que promove massacres em rings de luta, usando os restos mortais dos lutadores  para produzir um líquido que substitui a água, elemento agora em escassez.

Em um cenário tão absurdo que chega a ser cômico, o longa mostra como, apesar de risível, a idiotização é um caso sério, e nem tão longe da realidade.

Distrito 9, Neill Bloomkamp (2009)

Filme espetacular de Neill Bloomkamp imagina que os alienígenas chegaram ao mundo, 30 anos atrás, em busca de refúgio da destruição de seu planeta de origem.

Ambientado na África do Sul, os alienígenas são segregados dos humanos e agora vivem em uma área chamada Distrito 9, tratados como marginais.

O filme trata de maneira genial sobre temas decadentes da humanidade, representando através de personagens extraterrestres a desigualdade social e o preconceito sobre o estrangeiro e o diferente – características tão ‘humanas’.

Laranja Mecânica, Anthony Burgess (1962)

Obra famosa que tem vocabulário próprio e questiona o livre arbítrio.

A história se concentra em torno de Alex, membro de uma gangue de adolescentes, que é capturado pelo Estado e submetido a uma terapia de condicionamento social.

Burgess faz crítica ao autoritarismo e mostra que a partir do momento que algo é determinado para um indivíduo, ele perde sua liberdade, e se torna robotizado, sem pensamento crítico e ideias próprias. Como uma laranja mecânica.

Com adaptação cinematográfica de 1972, dirigido por Stanley Kubrick, sob o mesmo título.

V de Vingança, Alan Moore (1982 – 1989)

A série de histórias em quadrinhos é ambientada no Reino Unido, no futuro de 1997. Um tipo de passado alternativo.

Um partido totalitário ascendeu no poder após uma guerra nuclear, e agora detém o controle da mídia, possui polícia secreta, monitoramento constante através de câmeras de segurança e campos de concentração para minorias raciais e de gênero.

Um misterioso revolucionário então resolve destruir o Estado através de ações diretas.

O enredo é uma denúncia direta ao regime fascista. Apoiado principalmente em períodos históricos, que têm mostrado as fuças pelo mundo novamente.

Há também adaptação espetacular sob o mesmo título para o cinema, de 2005, com direção de James McTeigue.

Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley (1931)

O escritor apresenta uma sociedade que vive em perfeita harmonia – alcançada sob medidas perversas: manipulação genética, lavagem cerebral e uso de drogas.

Ambientada no ano de 634 d.F. (depois de Ford), os cidadãos são divididos por castas e são todos padronizados, com comportamentos pré-estabelecidos e lugares pré-determinados na sociedade.

Também há um filme, de 1998, dirigido por Leslie Libman, Larry Williams.

O Processo, Franz Kafka (1925)

O personagem Josef K. é detido sem nenhum motivo especial, e julgado por um tribunal que desenvolve inquéritos incompreensíveis.

Nesse cenário, Kafka relata o absurdo das prisões sem motivo, perseguições e extermínio em massa durante o regime nazista de Adolf Hitler.

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