A mente genial de Spike Jonze mais uma vez nos surpreende com um filme um tanto bizarro, mas ao mesmo tempo bonito e tocante. Ela conta a história de Theodore (Joaquin Phoenix), um homem sensível que trabalha como escritor de cartas de amor, mas vive deprimido e solitário depois de se separar da esposa.
Ele mora em um apartamento enorme, mas que é preenchido pelo vazio. As luzes dos prédios vizinhos inundam nas janelas a amargura de um relacionamento terminado onde o videogame é uma de suas únicas fugas. Sua vida, no entanto, fica mais colorida toda vez que ele ouve a voz de Samantha, um sistema operacional novo de seu computador.
Esse sistema tem a voz sensual de Scarlett Johansson, “se dá” o nome de Samantha e serve não só como uma assistente pessoal, mas também como uma companheira para todas as horas. É como se o Windows fosse uma mulher que entende completamente os seus pensamentos, ideias e até sentimentos.
O sistema operacional logo perde seu status de sistema, robô ou inteligência artificial e se torna amável, engraçada e fofa. É basicamente uma moça super inteligente, compreensiva e sem defeitos. Seu único problema é que ela não tem um corpo; e é este “detalhe” que faz o filme desenvolver inúmeras questões sobre o que pode ser definido como um relacionamento.
A narrativa se passa em um futuro próximo, que condiz com a tecnologia atual, quando cada vez mais pessoas imergem em seus dispositivos eletrônicos e passam a viver grande parte da vida no mundo digital. Acompanhamos a felicidade e o sofrimento do protagonista, embarcados por indagações e certa confusão mental ao comparar pessoas reais com a máquina a qual ele está perdidamente apaixonado.
É interessante como nos vemos cheios de questões enquanto assistimos o romance futurista de Spike Jonze. Será que se relacionar com uma máquina que gosta de tudo o que você faz é um problema? A inteligência artificial realmente tem sentimentos ou trata-se apenas de uma reprodução do comportamento humano em larga escala? Ciúme, tristeza, felicidade, amor. Tudo isso pode ser reproduzido por um robô?
Ela coloca em questão o fato de as pessoas crescerem e mudarem juntas. O que é definido como conceito de casamento pelo protagonista. Em meio aos problemas e soluções encontrados por Theodore, temos o prazer de embarcar em uma viagem hora inspiradora, hora melancólica sobre os relacionamentos humanos.
Apesar de Spike Jonze ser o criador de “arte nonsense” como Jackass, o diretor e roteirista já mostrou extrema sensibilidade antes com Onde vivem os Monstros (2009), além de ter trabalhado no alucinado Quero ser John Malkovich (1999). Desta vez ele se superou e levou para casa o Oscar de melhor roteiro original.
Ela é um retrato minimalista, direto e simples de como seria o mundo se a inteligência artificial ultrapassasse as barreiras de o que é ser humano. Como se os sistemas operacionais fossem como nós, ou até mais do que humanos. No final das contas é uma ideia aterrorizante, mas que foi tratada com delicadeza.
Nota: 5/5
Ela (Her)
Diretor: Spike Jonze
Duração: 126 minutos
Elenco: Joaquin Phoenix, Amy Adams, Scarlett Johansson
Lançamento: 14 de fevereiro de 2014 (Brasil).