Conhecido por revolucionar o mercado com aspiradores sem saco, ventiladores sem hélices e secadores de cabelo futuristas, James Dyson decidiu investir em um campo inesperado: a agricultura inteligente. Mais especificamente, o cultivo de morangos. Em uma estufa de 26 acres localizada em Lincolnshire, no Reino Unido, a Dyson Farming vem transformando a forma como frutas são produzidas, aliando robótica, energia renovável e sistemas inteligentes de cultivo.
Essa incursão de Dyson na agricultura começou há mais de dez anos, quando ele comprou cerca de 145 mil hectares de terra espalhados por regiões como Lincolnshire, Oxfordshire, Gloucestershire e Somerset. A motivação era simples, mas ambiciosa: produzir alimentos mais saborosos e sustentáveis, evitando os impactos ambientais associados à importação. “Adoro morangos”, afirmou Dyson, destacando que os frutos importados não têm a mesma qualidade e ainda percorrem milhares de quilômetros até chegar ao Reino Unido. Com essa ideia, nasceu a estufa de Carrington, que mais parece um laboratório futurista do que uma fazenda comum. Desde sua primeira colheita em 2021, o local já produziu mais de 1,2 milhão de plantas de morango, garantindo frutos doces e frescos durante o ano todo, até mesmo no inverno britânico.
O diferencial está em um sistema circular de cultivo inteligente. Toda a estrutura é movida a energia gerada por um biodigestor que transforma resíduos agrícolas em eletricidade renovável, energia suficiente para abastecer cerca de 10 mil residências. O calor e o CO₂ gerados no processo são reaproveitados para aquecer a estufa e otimizar o crescimento das plantas. A água da chuva, coletada do teto e armazenada em uma lagoa, é usada na irrigação. Já o resíduo restante do biodigestor vira fertilizante natural, e há até planos para cultivar morangos diretamente nesse material. Um relatório destaca que a fazenda de Dyson vai além do carbono neutro, ela é carbono negativa, ou seja, reduz mais emissões do que gera. Isso contrasta com os morangos importados no inverno, que percorrem em média 3.800 quilômetros até os supermercados britânicos.
A inovação também domina o interior da estufa. As plantas são cultivadas em calhas suspensas que balançam suavemente, o que aumenta a densidade da produção em 15%. Um sistema climático automatizado, comandado por software, garante as condições ideais o ano todo. Mas o verdadeiro destaque é o sistema vertical híbrido de cultivo criado pela própria Dyson, que multiplica a produtividade em até 250% em relação aos métodos convencionais. Trata-se de estruturas imensas, com mais de 5 metros de altura, maiores que dois ônibus de dois andares empilhados, onde bandejas giratórias de plantas recebem luz solar de forma uniforme. Durante os meses mais escuros, luzes LED entram em cena para manter o ritmo. Cada uma dessas máquinas, as maiores já feitas pela Dyson, acomoda até 6 mil plantas e gira lentamente com um sistema de drenagem sofisticado. O resultado: morangos incrivelmente doces.
A colheita também é automatizada. Dezesseis braços robóticos com sensores visuais identificam morangos maduros e os avaliam com precisão, analisando tamanho, formato, cor e textura antes de colher. Outros robôs percorrem a estufa emitindo luz ultravioleta para eliminar fungos sem o uso de pesticidas, enquanto alguns soltam insetos benéficos para controlar pragas como pulgões. “A tecnologia nos permite manter a produção livre de químicos”, explica Dyson. Os robôs da Dogtooth Tech, por exemplo, já colheram milhões de morangos, ocupando o espaço deixado pela escassez de mão de obra sazonal. Em apenas um mês, foram responsáveis por 200 mil frutos, com um nível impressionante de precisão.
À frente da operação está Angel Angelov, gerente da estufa e ex-estudante de ciência da computação, que há duas décadas trabalha com cultivo em estufas. Ele lidera uma equipe de 176 pessoas que, juntas às máquinas, buscam o equilíbrio ideal entre sustentabilidade, produtividade e qualidade. “A ideia é produzir mais com menos recursos e manter o padrão mais alto possível”, comenta com entusiasmo. Para ele, expandir esse modelo para outras áreas é um desafio empolgante, e promissor.



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