Star Sky é um jogo completamente incomum e singular. Para começar, ele não conta com inimigos de qualquer espécie. Não traz ação, pancadas, nem ao mesmo objetivos. Você controla um homem – na verdade, a silhueta de um homem – enquanto caminha em uma noite que pode ser tanto estrelada quanto chuvosa. E só.
A partir daí, é só contemplação. Sem comandos difíceis para realizar tarefas ou qualquer coisa que faça você perder o jogo, Star Sky coloca a sua personalidade em uma viagem para dentro de si mesmo.
Aqui, a proposta é caminhar e desfrutar do que a beleza da natureza tem a oferecer.
Entre passos lentos ou rápidos, o jogador se depara com alguns fatos no caminho para definirem o seu rumo.
Cabe ao jogador aproveitá-los ou não Um exemplo disso é oferecer uma flor para a silhueta de uma moça, que fica próxima a uma ponte de madeira.
Outro é decidir caminhar acima do morro enquanto desbrava a noite misteriosa e estrelada do céu que dá nome ao jogo.
E tudo acontece de forma calma e minimalista.
Com tanta calma e ideias diferentes para criar um jogo, ficamos estupefatos em encontrar uma obra dessa que simplesmente te desprende de qualquer outra. Mesmo porque aqui você não ganha troféus, conquistas, compete com outros ou está dentro de uma batalha para salvar o mundo.
Você apenas para e observa.
E joga repetidas vezes para ver o que pode haver de diferente no game. Tudo com um único objetivo: contemplação.
Tive a oportunidade de conversar com o criador da ideia, Mårten Jonsson, um jovem sueco que resolveu de uns anos para cá dedicar a sua vida ao desenvolvimento de games.
Pelo papo e pelo que Star Sky nos mostrou, esse cara tem muito futuro no ramo.
Star Sky, uma conversa com o desenvolvedor deste game minimalista
Flávio Croffi (GEEKNESS): Olá Mårten. Poderia se apresentar e contar um resumo do que você faz?
Mårten Jonsson: Obrigado. É uma honra estar aqui! Bem, meu nome é Mårten Jonsson e sou de Göteborg, Suécia. Tenho 25 anos e sou um desenvolvedor de games. Na verdade, sou um engenheiro de áudio, mas há alguns anos resolvi expadir meu conhecimento, então fui para a faculdade estudar desenvolvimento de games com foco em design de som. No momento escrevo minha tese de bacharelado e me formo neste ano. Depois disso, pretendo dedicar todo meu tempo no desenvolvimento de games.
Em que momento da sua vida surgiu a ideia de Star Sky? E como foi desenvolver isso?
Na verdade eu me lembro exatamente quando tive a ideia do conteito original. Foi no último inverno quando estava sentado apreciando o céu enquanto fumava um cigarro. Era uma noite muito limpa. Portanto, as estrelas estavam brilhantes. Lembro de ter pensado: “Uau, isso é realmente bonito”, e repentinamente a ideia se formou. Originalmente era para ser um pequeno jogo feito em flash, em que um homem caminhasse automaticamente em um campo aberto, enquanto o jogador clicava nas estrelas para coloca-las abaixo. E isso formaria constelações diferentes, até que o jogo chegasse ao seu fim, em mais ou menos cinco minutos de aventura. Assim, tive algumas ideias para inserir, como uma série de eventos que acontecem, onde o jogador deve completa-los para destravar o final do game.
Houve inspiração de algum outro game?
Sim, teve alguma inspiração, mas em jogos indie. Essas inspirações vieram do game “The Path”, criado pela Tale of Tales e o “Passage”, de Jason Rohrers. Ambos contam com vários conceitos que eu gostei muito e assim desenhei Star Sky baseado neles.
Quantas pessoas participaram do projeto? E quem criou toda a ambientação sonora?
Este foi um projeto apenas meu. Como começou de uma forma bem pequena, não foi necessário nenhuma ajuda .Mas no final das contas eu “trapaceei” um pouquinho, usando alguns recursos pré-criados. Em relação a parte sonora, foi feita totalmente com gravações do som da noite e do vento. E o resto da música eu mesmo criei, afinal, dou um designer sonoro, isso é minha especialidade (risos).
Quais foram os aspectos que foram mais difíceis de lidar na produção de um game como este?
Os testes e o balanço do jogo, na verdade. Tão chato quanto soam. O game não é tecnicamente avançado, então a parte do “truque” dele está em que ordem o jogador pode destravar eventos diferentes. Foi difícil encontrar um balanço de quando os jogadores podem desfrutar de determinadas coisas, em cada jogo. Eu não queria explicar o jogo todo em sua interface, queria que os próprios jogadores descobrissem como funciona e o que podem fazer. Mas no final das contas, acabei explicando mais do que eu gostaria.
Qual a diferença entre correr com o personagem e caminhar no game?
Ah, na verdade não há diferença. Essa função de correr foi adicionada mais tarde ao jogo, porque os testers reclamaram sobre o jogo ser lento. E como o jogo deve ser concluído diversas vezes, não quis assustar ninguém com um jogo “chato”. No entanto, se você correr, pode perder alguns dos recursos do jogo.
Quantas vezes, mais ou menos, nós temos de jogar para ver tudo o que o game oferece?
Hmm, não revelarei essa informação, porque ela faz parte de toda a proposta do jogo. Mas posso dizer que, pelo menos, são mais de cinco vezes.
Há alguma outra ideia de projeto em mente já? Nos conte alguma coisa sobre.
Tenho algumas ideias que quero desenvolver em algum momento. É só questão de achar recursos para fazê-las acontecerem. Ser um desenvolvedor de games nem sempre é fácil. O que eu gosto mesmo é de ficção científica, espaço e universo cyberpunk, e gostaria de explorar essas áreas. Um projeto que trabalho no momento, e terei mais tempo para dedicar a ele agora que Star Sky foi concluído, é o Galactic Adventures Inc.
Além disso, tenho outras ideias e certamente gostaria de criar mais episódios para Star Sky, além de expandir a jogabilidade dele. Tenho ideias para um projeto cyberpunk também e algumas coisas direcionadas para o ramo musical.
Que tipo de jogos você curte jogar em casa?
Como disse anteriormente, na maior parte do tempo jogo games indie. Adquiri vários jogos na última promoção do Steam como Machinarium, Eufloria, Osmos, Braid, Uplink e VVVVVV. E, claro, gosto de uma boa partida de Street Fighter IV, tanto no PC quanto no iPhone.
E quanto ao Brasil? Você conhece alguma coisa daqui ou gostaria de nos visitar?
Quem não gostaria de visitar o Brasil? Adoraria ver o carnaval no Rio de Janeiro. Eu recentemente ouvi falar da comunidade gamer brasileira de um amigo na faculdade. Ela fazia publicidade para um MMO e de repente encontrou uma enorme quantidade de jogadores brasileiros no jogo, sem ao mesmo ter feito alguma propaganda no Brasil, ou ao mesmo ter publicado algum texto em português sobre o assunto. Então, obviamente os brasileiros são bem abertos para novos games e ideias.
Sinta-se a vontade para deixar algum recado aos gamers brasileiros.
Primeiro de tudo, continuem sendo demais! E obrigado por lerem sobre o que tenho a dizer. E, por favor, comprem meu jogo Star Sky. Assim, posso continuar a produzir games. E, se você tiver alguma opinião sobre ele, contate-me em [email protected] para dizer o que você acha e em quê eu posso me focar no futuro. Obrigado!
Você pode encontrar Star Sky no Steam.
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Esta matéria [de minha autoria] foi originalmente publicada na Revista EGW #116
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