Uma pesquisa publicada na revista Nature traz um alerta importante sobre o impacto psicológico da inteligência artificial em nossa conduta: pessoas tendem a agir de forma mais desonesta quando usam IA para realizar tarefas, especialmente se isso pode trazer benefícios próprios.
O estudo, conduzido pelo Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano, na Alemanha, envolveu mais de 8.000 participantes em 13 experimentos. Em um deles, os voluntários jogavam um dado e relatavam o resultado para receber um pagamento, números maiores significavam mais dinheiro. Quando tinham a opção de repassar a informação por meio de um modelo de IA, a taxa de honestidade caiu de 95% para 75%.
Ou seja, a presença da tecnologia criou um “distanciamento moral” que pareceu “liberar” os participantes para agir com menos escrúpulos. Em outra simulação, mais de 84% optaram por configurar a IA para maximizar o lucro (relatando sempre o valor máximo do dado), em vez de priorizar a precisão.
Segundo os autores, quando delegamos uma ação a uma máquina, criamos uma camada de abstração que reduz nosso sentimento de culpa – mesmo que sejamos nós quem está dando o comando. Esse efeito foi observado também em cenários como declaração de impostos, onde o uso de IA aumentou a propensão a sonegar.
“As pessoas estão mais dispostas a solicitar comportamentos antiéticos de máquinas do que a ter esse mesmo comportamento por conta própria”, resume o artigo.
Os resultados acendem um sinal de alerta para o uso de IA em áreas como educação, direito, finanças e gestão. Com a tecnologia se infiltrando cada vez mais no cotidiano, é urgente desenvolver salvaguardas técnicas, regulações claras e, principalmente, refletir coletivamente sobre o que significa dividir responsabilidades morais com sistemas automatizados.
Enquanto a IA avança, parece que nossa ética ainda precisa correr atrás, e rápido.
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