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Eu Mato Gigantes: como enfrentar a realidade através da imaginação

Eu Mato Gigantes é uma das histórias em quadrinhos mais bonitas que já li. O enredo aparentemente ingênuo e fantasioso, esconde uma reflexão profunda sobre a vida e traz muitas lições.

A HQ foi criada por Joe Kelly e lançada nos EUA em 2008 como uma minissérie em sete partes, e mais tarde compilada em volume único, com versão publicada aqui no Brasil pela editora NewPOP, em 2013.

Joe Kelly é um roteirista americano muito popular no mundo dos quadrinhos – já trabalhou em Liga da Justiça, Deadpool, Ben 10 e também foi colaborador em Ultimate Spider-Man e Avengers Assemble.

As ilustrações são de J.M. Ken Niimura, cuja carreira deslanchou após a publicação da HQ. Seu estilo mangá, tons de cinza e angulações incorporam toda a trama e a torna muito envolvente.

Eu Mato Gigantes

Eu Mato Gigantes: como enfrentar a realidade através da imaginação

Em Eu Mato Gigantes, Joe  desenvolve um enredo inspirado no jogo Dungeons & Dragons, e se concentra em simbolismos e mistérios em torno da protagonista Bárbara, lançando uma luz sobre assuntos existencialistas e recorrentes do ser humano – transformações, dúvidas, superações e a famosa rebeldia e “estranheza” durante a transição para a adolescência.

Bárbara Thorson é uma garotinha nada comum. Ela está na quinta série e é muito mais inteligente que os demais colegas do colégio. Suas repostas são tão sinceras e sagazes, que acabam deixando os adultos sem palavras.

Essa excentricidade é fixada principalmente em seu visual: ela usa óculos, uma tiara de orelhas de coelho e tem estilo despojado.

Sua personalidade antissocial, sarcástica e seu interesse voltado à assuntos que não são convencionais de outras meninas, acabam a deixando com poucos amigos e sendo motivo de piada na escola – aqui, uma reflexão sobre o bullying.

Enquanto a menina vive o dia a dia comum de uma estudante, a monotonia é quebrada através da aparição de seres mitológicos que incorporam o cenário maçante do cotidiano.

Todos os outros personagens estão mergulhados na apatia de uma vida voltada ao trabalho, escola e assuntos corriqueiros, mas Bárbara dedica seu tempo para proteger a cidade contra Gigantes. Em seu horário de descanso, aproveita para jogar D&D – no qual é muito temida pelos garotos.

Toda sua energia se concentra em torno de caçar e matar esses seres.

Em suas palavras:

Eu Mato Gigantes: como enfrentar a realidade através da imaginação
“Eu encontro Gigantes. Eu caço gigantes. Eu mato Gigantes.”

Para isso, a menina sempre anda protegida com uma bolsinha que contém o “Covelesky” – uma arma poderosa contra eles.

Enquanto o enredo se desenvolve, somos envolvidos em uma atmosfera que transita entre mistério e fantasia.

Logo nos deparamos com uma garotinha forte e corajosa que enfrenta uma dura realidade através da criatividade.

Bárbara sempre se refere aos gigantes como seres que virão buscar alguma coisa. E existem vários tipos deles, segundo ela.

Gigantes são seres que roubam tudo o que você possui. Já os Titãs, são as maiores criaturas que existem, e possuem tanto ódio que o sol não ousa brilhar.

Essa representação metafórica sobre a luta contra a realidade me emocionou muito.

Gigantes levam embora tudo o que você possui. Titãs são como uma tristeza profunda que fica, quando isso acontece.

É muito bonito ver uma garotinha lutar contra isso de uma maneira criativa, expressar tanta paixão e se transformar em fortaleza.

A gente se transforma junto com a personagem.

Me identifiquei em muitos aspectos com Bárbara. Tanto pelos interesses, quanto pelos assuntos que ela enfrenta. Acredito que toda menina que não se rendeu ao estereótipo do que nos é imposto, também vai se identificar.

O que fica de lição nessa história sensível e tocante é que todos nós enfrentaremos em algum momento gigantes em nossas vidas. Mas esse caminho nunca será solitário, porque não importa a dificuldade das coisas, ou o quão excêntrico nós sejamos, sempre haverá alguém para nos acompanhar nessa jornada.

Porque nada se vence sozinho.

Negar a realidade não é a saída. Ao contrário, encontrar uma maneira criativa de enfrenta-la, é sempre o melhor caminho.

A imaginação é fonte de sobrevivência.

Ser diferente em um mar de pessoas padronizadas não é motivo para sentir vergonha, mas, sim, orgulho. E isso deve se tornar uma escolha de vida: andar contra a corrente.

E você? Quantos gigantes já matou?

Autores: Joe Kelly (Texto) e JM Ken Niimura (Ilustração)

Editora: New Pop

Páginas: 208

Preço: R$ 39,90

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