Quando uma nova obra de Alejandro Jodorowsky é lançada no Brasil, os leitores já esperam por uma leitura surpreendente. Em “Os Filhos de El Topo“, lançado no Brasil pela Editora Comix Zone, o mestre da contracultura retorna ao universo surrealista que ele próprio criou no filme El Topo (1970), um clássico do cinema underground. Agora, ao lado do talentoso artista mexicano José Ladrönn, essa história ganha um novo formato que consegue expandir o brilhantismo da narrativa com uma arte simplesmente incrível.

No árido Oeste, El Topo foi um bandido que, ao abrir as portas do seu coração, transformou-se em um santo capaz de realizar grandes milagres. De duas mulheres diferentes, teve dois filhos. Figura funesta de couro preto a vagar pelo deserto, Caim, o maldito, jurou matar o pai, a quem nunca perdoou. Incapaz de levar a cabo a sua vingança, decide então voltar sua fúria contra seu meio-irmão Abel, numa história que serve de continuação ao filme original.

Durante a HQ acompanhamos os filhos de El Topo, Caim e Abel, e temos a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre esse pistoleiro mítico que deixou um rastro de violência e espiritualidade por onde passou. No cenário desértico e sombrio que vemos ao longo das páginas, embarcamos em uma jornada de vingança e redenção que mistura esse faroeste numa história mística, com alegorias religiosas que o autor tanto aprecia.

A construção narrativa dessa HQ reforça que Jodorowsky continua explorando temas profundos sobre espiritualidade, redenção e sacrifício. Como sempre, o roteiro carrega muitos simbolismos, criando um terreno fértil para interpretações que precisam ser feitas durante a leitura. Em Os Filhos de El Topo, ele constrói uma espécie de faroeste metafísico que desafia os limites da lógica convencional, evocando elementos filosóficos e religiosos.

Para acompanhar e traduzir visualmente todas essas metáforas, o artista José Ladrönn chega para somar com seu traço rico em detalhes, capaz de criar um ambiente que consegue misturar o real e o místico. O virar de páginas é demorado exatamente pelo deleite em observar cada momento da construção quadro a quadro, com a beleza cruel do deserto e a violência espiritual da trama.

Em Os Filhos de El Topo, Jodorowsky revisita seus temas clássicos: a busca espiritual, o conflito entre pai e filho, e a violência como meio de transformação. A complexidade dessa HQ, que não depende do filme para ser aproveitado de maneira independente, faz com que a arte de Ladrönn também seja uma ponte para alcançarmos as ideias de Jodorowsky, transformando essa leitura numa experiência imersiva.

Essa parceria entre Jodorowsky e Ladrönn é um exemplo de como o roteiro e a arte podem se complementar para criar uma obra que se destaca tanto visual quanto conceitualmente, proporcionando uma leitura essencial, repleta de complexidade emocional e visual. Um faroeste diferente de tudo o que você já viu e leu, fugindo do estilo tradicional desse gênero e oferecendo uma história rica em reflexões e muito simbólica.

Reunindo os três volumes, publicados entre 2016 e 2022, Os Filhos de El Topo ganhou uma edição integral de luxo impecável pela Editora Comix Zone, num formato grande, com capa dura e verniz localizado. São mais de 200 páginas coloridas e impressas em papel offset de alta gramatura.

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