Final Fantasy Tactics: The Ivalice Chronicles é o triunfal retorno do aclamado jogo de RPG tático lançado originalmente em 1997 pela então Square Soft, agora chamada de Square Enix.
O game chega em forma de remasterização. Ou seja, é o mesmo título, com a mesma história, personagens, mecânicas de jogo, mas que trazem gráficos reformulados e prontos para rodar nas plataformas atuais: PlayStation 4 e 5, Xbox Series X|S, Nintendo Switch e PC.
Antes de mais nada, devo dizer que é o meu jogo favorito de todos os tempos. Ou seja, em toda a história dos videogames, este é o game que mais tenho apreço. Não apenas pela estéticas, pela história sensacional, mas porque me apresentou também aos RPGs táticos, gênero que sempre adorei.
Quando joguei pela primeira vez no PlayStation 1, explodiu minha pequena cabeça (ainda era criança), e abriu portas para diversos outros jogos do gênero. E agora, após muitos anos de espera, o game finalmente chega para as plataformas. O que permite experienciar essa obra em uma grande e moderna TV. Ou até mesmo em forma portátil, pelo Nintendo Switch ou Steam Deck.
Bem, sem mais delongas, vamos falar sobre esta incrível obra que novamente cai em nossas mãos.

Política, religião e traição
Diferente de outros jogos da série Final Fantasy, este aqui não só apresenta uma jogabilidade distinta, com batalhas em turnos com visão de cima e como se fosse um tabuleiro, mas também Final Fantasy Tactics apostou em uma narrativa mais fria e intrincada, quase medieval quando falamos em política.
O jogo se passa em Ivalice, reino fictício conhecido da série que aparece em jogos como Final Fantasy XII, assolado por disputas de poder, guerras religiosas e conspirações.
Ramza Beoulve, o protagonista, é um nobre jovem que, ao contrário de muitos heróis da série, não busca salvar o mundo de uma ameaça sobrenatural logo de início. Seu início o mostra como um peão em uma luta de aristocracia, entre a nobreza e os menos abastados.
Só aos poucos ele (e nós que estamos jogando) percebemos a podridão que se espalha tanto entre nobres e o clero.
Muito antes de Game of Thrones existir, temos aqui diversas intrigas que são dignas das narrativas de George R. R. Martin. Aborda temas como corrupção, lealdade, identidade e manipulação religiosa. O enredo questiona constantemente quem são os verdadeiros vilões.
Para a época, esse nível de complexidade narrativa em um RPG de console foi simplesmente impressionante. E ainda se mostra como muito relevante, em especial no mundo em que vivemos agora. E mais do que isso, essa temática era muito arriscada. E que poderia não dar certo. Pois o jogo não trata seus jogadores como crianças. Faz a gente pensar, refletir e considerar muitos pontos.
Uma pena, no entanto, que mesmo com este remaster, a Square-Enix não tenha lançado o jogo em português do Brasil. Se fôssemos apontar um erro neste game, seria esse. Seria muito legal se houvesse localização.

Protagonistas, personagens e suas sombras
Ramza Beoulve é o coração da narrativa. A jornada dele é marcada por muitas frustrações e ele é mostrado como um herói não convencional. Entre muitas traições e desafios do que ele mesmo acredita, o personagem passa por muitas transformações.
Em contraponto, temos Delita Heiral, amigo de infância de Ramza, cuja ascensão é uma das tramas mais interessantes do jogo. Ele não é um vilão clássico, mas é diretamente ligado e formado pelas injustiças sociais a qual vivencia durante toda a história.
É um personagem bem diferente, para não dizer o oposto de Ramza. Que é guiado mais pelo senso de justiça, e menos pela politicagem e tentativa de argumentar sobre as injustiças que assolam o mundo de Ivalice.
Podemos dizer que pouquíssimos jogos conseguem criar uma relação tão rica entre dois personagens como vemos aqui. Onde não há clichês e você não sabe exatamente onde se enquadrar e quem defender, com base na história – que é bem complexa.
Outros personagens, como o “azedo” e difícil de engolir Argath, Agrias Oaks, a cavaleira leal e moralmente íntegra, Mustadio, um engenheiro engraçado, ou até figuras históricas como Cidolfas Orlandu (o “Thunder God Cid”), dão corpo ao elenco. Cada um deles serve para expandir as temáticas centrais da trama, seja reforçando a luta contra a opressão ou evidenciando os dilemas éticos do mundo.

Um xadrez de fantasia com muitos poderes e estratégias de combate
Como um dos pioneiros a introduzirem o RPG tático, e um dos que mais popularizaram o gênero, cada confronto acontece em cenários tridimensionais com grid isométrico, onde unidades se movem e atacam de acordo com alcance, altura e classe.
A herança de Tactics Ogre é clara, mas a Square elevou a fórmula com um sistema de jobs (trabalhos) inspirado nos títulos principais da franquia. Cada personagem pode mudar de classe, aprender habilidades e criar muitas e muitas combinações.
Um exemplo é que você pode transformar um mago em um cavaleiro que lança feitiços, ou quem sabe um monge que invoca magias de cura. Ou quem sabe um Ninja que evoca elementais? Esse tipo de liberdade estratégica continua como um dos maiores trunfos do jogo.
Para os novatos, a dificuldade no início pode pegar um pouco. A curva de aprendizado pode ser grande. Mas não se engane. Quando você se familiariza com os aspectos do jogo, como tudo funciona, a coisa flui muito bem.
Além disso, é sempre possível treinar seus personagens e aprender novas habilidades repetindo missões já concluídas. Assim, dá para explorar bem todas as classes e escolher as que você mais gosta.
Mesmo assim, uma decisão errada de posicionamento pode custar a batalha inteira. Ou a perda de um aliado. Felizmente, esta nova versão oferece opções de iniciar a batalha de começo, voltar ao mapa e até desviar de batalhas não oportunas quando você quiser.
Caso algum aliado morra em combate, ela precisa ser revivida em alguns turnos, se não ela desaparece para sempre do grupo. Por isso, é bom pensar bem nas estratégias.
Outro ponto notável é como o design das batalhas sempre apresenta desafios únicos. Não é apenas uma questão de derrotar inimigos, mas de lidar com terrenos, condições climáticas e objetivos específicos. Isso mantém a experiência interessante, mesmo após dezenas de horas de jogo. Pois cada batalha pode oferecer diferentes tipos de ações.

Estilo visual suavizado, efeitos sonoros reformulados e agora vozes em todos os personagens
Visualmente, Final Fantasy Tactics traz personagens que são representados por sprites 2D em cenários 3D. Os sprites são expressivos, os cenários têm personalidade e a direção de arte transmite uma atmosfera medieval crua, que se diferencia da estética mais “heroica” dos Final Fantasies da série central.
Na versão remasterizada, temos várias diferenças na interface. Os campos de movimento são mais bem delimitados, assim como os de ação, de ataque, e as informações da tela em geral. Tudo está mais lindo, colorido e suavizado. O jogo ficou ainda mais bonito do que era. E o melhor, rodando em alta resolução nos consoles e no PC. Era tudo que os fãs da série esperavam. Poder jogar este lendário game em consoles atuais e com gráficos limpos.
A trilha sonora, assinada por Hitoshi Sakimoto e Masaharu Iwata, é outro destaque. Ao contrário do tom mais épico e melódico de Nobuo Uematsu nos títulos principais, a música aqui é mais militar e orquestral, reforçando a seriedade da narrativa. Cada batalha é acompanhada por composições que lembram marchas e hinos, criando uma sensação de urgência e gravidade.
Por fim, nesta nova versão todos os personagens são dublados. As vozes são muito bem feitas e produzidas, e refletem com seriedade cada momento e situação da história. É possível selecionar áudios em inglês ou japonês. Como tenho mais familiaridade com inglês, joguei o game neste idioma, e posso dizer que a experiência é fantástica.

O legado: influência além do nicho
Apesar de não ter alcançado o mesmo sucesso comercial de Final Fantasy VII, Tactics conquistou um público fiel e influenciou toda uma geração de RPGs estratégicos. O jogo ganhou relançamentos no PSP (War of the Lions), em dispositivos móveis. Até o lançamento desta versão, que é a definitiva.
Mais do que isso, o game estabeleceu Ivalice como um universo expandido dentro da franquia. Elementos do jogo reaparecem em Final Fantasy XII e em Vagrant Story, conectando as obras de Matsuno em uma espécie de “saga não oficial”.
Seu impacto também é sentido em títulos modernos que seguem o mesmo espírito, como Fire Emblem: Awakening, Triangle Strategy e até mesmo jogos independentes que se inspiram diretamente em sua fórmula.
Conclusão
Final Fantasy Tactics: The Ivalice Chronicles é definitivamente um jogo excelente e que praticamente não tem pontos negativos. Toda a sua proposta é entregue com extrema qualidade. Seja na história, nos personagens, na jogabilidade, trilha sonora ou visual. É a edição definitiva de um jogo que marcou gerações, e agora chega nas plataformas atuais para estender ainda mais o seu legado.
Fãs e não fãs de RPG podem experimentar o game sem medo. Com certeza vai proporcionar dezenas de horas de diversão. E o fator replay é alto, levando em conta que é sempre possível montar equipes de diferentes classes e poderes.
Esperamos que com este lançamento, mais jogos da saga apareçam no futuro. Quem sabe uma sequência, ou um novo spin-off? Podemos dizer que o único ponto negativo está apenas para nós brasileiros – que é falta de legendas ou dublagem na nossa língua. Mesmo assim, não tiramos o mérito do jogo por causa disso. Afinal, quando eu era criança jogava até RPGs em japonês e me divertia muito.
Porém, em 2025 termos jogos desta magnitude sem suporte para o português do Brasil é uma lástima. Paciência. Ao menos, tivemos a oportunidade de jogar esta obra de arte novamente, e de forma reformulada, mais bonita, mais intuitiva e com elementos que tornam a experiência ainda melhor do que a original no PlayStation 1.
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Nota final: 5/5
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