Lá pelos anos 2000, o Nintendo DS dominava o mundo dos portáteis com suas duas telas e comandos por toque que mudaram a forma como se jogava fora de casa. Mas, apesar da inovação, o console tinha seus limites: os jogos ficavam presos ao modesto hardware, longe do impacto gráfico que o primeiro PlayStation oferecia nos consoles de mesa. Aí entra o DSTWO, um cartucho flash que, inacreditavelmente, consegue rodar um emulador de PS1 dentro de algo do tamanho de um selo.
Só que o DSTWO não é um flashcart qualquer. Enquanto a maioria desses dispositivos apenas permite rodar homebrews ou backups a partir de um cartão SD, usando o próprio poder de processamento do DS, o DSTWO tem seu próprio “cérebro”. Ele vem equipado com um processador Ingenic JZ4732 e memória RAM extra, o que dá ao cartucho a força necessária para emular sistemas que o DS, sozinho, nunca seria capaz de suportar. Ele se encaixa na entrada de jogos do portátil, mas, em vez de só passar os dados, assume a parte pesada da emulação, deixando o DS cuidar apenas da tela e dos controles.

Rodar jogos de PlayStation 1 em um DS parece algo saído de uma conversa entre entusiastas movidos a energético e, de certa forma, é mesmo. A mágica acontece graças a um sistema baseado em Linux adaptado para o DSTWO, que usa o emulador PSX4ALL originalmente criado para o Dingoo A320, um console portátil de nicho com chip semelhante. A comunidade em torno do Dingoo passou anos aprimorando esse código aberto, o que agora permite ao DSTWO tirar o máximo proveito possível do hardware.
Mas o DSTWO vai muito além de um truque curioso. Ele também roda jogos de Super Nintendo, Mega Drive, Game Boy Advance e até clássicos de arcade, tudo graças à ativa cena homebrew. Com um slot para microSD, dá para guardar jogos, emuladores, aplicativos e mais. Quer alternar de Final Fantasy VII para Super Mario Land em segundos? É tranquilo. O dispositivo ainda permite truques em tempo real e save states, recursos que nem o DS nem o PS1 originais ofereciam. Para os modders, o sistema aberto é um parque de diversões, cheio de possibilidades com firmwares customizados e jogos criados por fãs.
Claro, nem tudo é perfeito. A emulação de PS1 pode engasgar, e alguns jogos exigem ajustes como pular quadros para rodar melhor. A tela de baixa resolução do DS transforma gráficos 3D em verdadeiros mosaicos, e a falta de analógicos obriga o uso do direcional, o que nem sempre é confortável. Trilha sonora também pode apresentar falhas, especialmente em jogos com áudio mais elaborado. Ainda assim, ver Crash Bandicoot girando na tela de um DS é algo que impressiona, uma prova do esforço incansável da comunidade de modificações.
Hoje em dia, o DSTWO se tornou uma raridade. A produção foi encerrada há anos, e quem quiser um precisa procurar nos cantos da internet, onde os preços já não são nada amigáveis. Mesmo assim, ele continua sendo um exemplo marcante do que se pode alcançar quando criatividade e engenharia se encontram no mundo dos games.
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