Ciência

Flúor na água afeta o cérebro? Maior estudo em 40 anos traz uma resposta surpreendente

Um novo megapesquisa realizada ao longo de quatro décadas nos Estados Unidos acaba de derrubar uma das polêmicas mais persistentes da saúde pública: afinal, o flúor adicionado à água potável prejudica a capacidade cognitiva das pessoas? Segundo os dados reunidos, a resposta é um claro “não”. E mais: crianças que cresceram consumindo água fluoretada tiveram resultados um pouco melhores em matemática e leitura ao longo da vida.

O trabalho, conduzido por pesquisadores da Universidade de Minnesota, analisou informações de cerca de 26.800 estudantes de mais de mil escolas americanas entre 1980 e 2021. As notas em testes de leitura, vocabulário e matemática foram comparadas às concentrações de flúor às quais esses indivíduos estiveram expostos desde antes do nascimento, junto a dados sobre saúde, ambiente, renda familiar e outros fatores que poderiam influenciar o desempenho escolar.

A conclusão geral mostra que a ingestão de água com a quantidade recomendada de flúor, 0,7 miligrama por litro, não afeta negativamente o desenvolvimento intelectual na adolescência nem na vida adulta. Pelo contrário, os pesquisadores observaram ganhos modestos no desempenho, ainda que a razão exata para isso continue em aberto.

O flúor é um mineral natural amplamente usado para reduzir cáries, reforçando o esmalte dos dentes e ajudando a reverter pequenas lesões antes que se transformem em cavidades. Ele está presente nas águas públicas de todo o mundo e também na maioria dos cremes dentais. Mesmo assim, sua presença nos sistemas de abastecimento sempre foi motivo de discussão, especialmente nos Estados Unidos, onde o tema ganhou contornos políticos ao longo dos anos.

Recentemente, o debate ganhou novo fôlego depois que Robert F. Kennedy Jr., atual responsável pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos, classificou o flúor como “resíduo industrial” e incentivou estados a proibir sua adição à água. Grande parte das críticas se concentra em possíveis efeitos colaterais, incluindo a suspeita de que a substância poderia reduzir o QI de crianças. Uma metanálise recente até apontou uma queda leve, mas especialistas rapidamente contestaram o estudo por apresentar dados enviesados e conclusões frágeis.

A nova pesquisa, publicada na revista Science Advances, chega como um trunfo importante nessa discussão acalorada. Talvez não convença quem já tomou posição irrevogável, mas contribui para o acúmulo de evidências de que o flúor, dentro dos níveis recomendados, é seguro.

Para Matthew Hobbs, pesquisador da Universidade de Canterbury que não participou do estudo, os resultados são relevantes para toda a sociedade. Ele lembra que a fluoretação da água é uma das estratégias mais acessíveis e eficientes para prevenir cáries, especialmente entre crianças e populações com pouco acesso a cuidados odontológicos. Segundo ele, os dados reforçam que esses benefícios podem continuar sendo oferecidos sem comprometer a saúde cognitiva em nenhuma fase da vida.

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Hortência é profissional de Letras, educadora, tatuadora e mãe. Apaixonada por arte e cultura, une seus múltiplos interesses que vão da cultura pop à gastronomia para produzir conteúdos variados e criativos.

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