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Gabriel Picolo: Fazendo arte e ensinando também

Para qualquer fã que acompanha atualmente o trabalho da DC Comics, o nome Gabriel Picolo não é nada estranho. O artista, que atualmente está morando em São Paulo, teve a sua carreira alavancada como um foguete a partir de artes dos Jovens Titãs e não ganhou apenas o Brasil, mas também o mundo todo, conquistando o seu lugar como uma das estrelas de uma das maiores editoras do gênero.

Entre o frio que está fazendo em SP e o término de sua próxima graphic novel, baseada no personagem Robin, o artista encontrou um caminho alternativo para ajudar quem precisa de ajuda nos desenhos. Ele também é um professor na plataforma Skillshare, onde mostra como você pode criar cenários em suas artes. Batendo um papo conosco, ele nos contou um pouco mais sobre o que esperar do trabalho dele por lá, além de falar mais sobre os seus gostos e projetos que virão nos próximos anos.

As aulas de Gabriel Picolo na Skillshare

Para começar, dar aulas não é algo inédito para Gabriel Picolo. Ele já trabalhou em parceria com a plataforma em 2018, ainda no início de sua carreira na área. “A equipe da Skillshare me chamou para fazer um projeto com eles lá nos Estados Unidos naquela época. Gravei uma aula sobre design de personagem, algo bem básico, mas que eu ensino os fundamentos de desenho através dela”.

O conteúdo ficou disponível no sistema deles, porém surgiu uma oportunidade inédita na chegada da empresa oficialmente no Brasil. “Depois que lançamos essa primeira aula, o público dela cresceu bastante. Aí quando lançaram o serviço aqui no Brasil, qual estão aprimorando neste momento, me contactaram por já ter trabalhando no passado com eles e me fizeram o convite. A partir disso gravamos essa segunda aula, que saiu totalmente em português”.

Para o artista, o início foi um grande desafio em sua carreira, mas este novo estágio não teve o obstáculo da linguagem para correr de forma mais fluida. “A aula que eu gravei em Nova Iorque foi toda em inglês, estava super travado e morrendo de medo. Essa que eu gravei aqui no Brasil foi em português. Além disso, a equipe toda é composta por brasileiros e é uma aula muito mais complexa. Sou um artista diferente do que eu era em 2018, mas também deu certo porque consegui gravar na minha língua materna, eu expresso mais coisas, ficou mais fluido ensinar”.

Skillshare
As aulas estão disponíveis no Skillshare

As facilidades oferecidas pela Skillshare também auxiliaram bastante o processo para Gabriel Picolo. “Uma coisa muito legal dela é que eles têm muita experiência em fazer diversos cursos. É oferecido um grande suporte de equipe e do próprio sistema. Tanto a gravação da minha primeira aula com eles e dessa segunda, aqui no Brasil, tem um time completo de gravação, de montagem etc. Então assim, eu como criador de conteúdo sinto que só preciso realmente levar o que sei. Basta chegar lá e desenhar. Todo o restante: iluminação, cronograma, até mesmo o roteiro das aulas, me ajudaram com tudo isso e foi muito legal. Eu me sinto muito apoiado como professor dentro da plataforma”

Além dos elogios, ele assume que este suporte é muito importante para expandir ainda mais o conhecimento de todos. “Eles sabem que os criadores de conteúdo que estão chamando não necessariamente têm experiência em lecionar. Não é o que eles sabem fazer. Eu, como artista, não estou acostumado a mostrar o meu processo, nem nas minhas redes sociais. Aí eles te ajudam e isso eu achei muito bom. Auxiliam a montar o material e tornar ele didático, sabe?”.

Ao ser questionado se o que ensina ele aprendeu através de aulas ou se acabou sendo tentativa e erro, fomos seguidos de risadas e uma revelação do artista em relação ao seu processo no passado. “Foi totalmente batendo a cabeça! Eu sempre gostei de desenhar personagens, ações e emoções, mas a parte de cenário é muito técnica. É difícil você encontrar ali um jeito de colocar sua criatividade e sua proposta de fundo na imagem. Ele está ali para desempenhar uma função. O cenário sempre foi um grande problema para mim, morria de medo. Só que eu tinha noção de que precisava passar por isso para entrar no ramo de quadrinhos. Era lá onde eu queria entrar e tinha de saber criar cenários”. 

A interatividade entre professor, plataforma e alunos é grande

A falta de acesso no passado dificultou o aprendizado de Gabriel Picolo, problema que hoje não temos atualmente. “Na época que eu comecei a desenhar e praticar este tipo de coisa, tinha menos material online do que temos hoje. Por isso bati tanto a cabeça até perder o medo. Você não tem ideia, era muito medo de fazer este tipo de desenho, consegui perder ele e começou a ficar mais fluído. Hoje em dia é super tranquilo”.

A tecnologia atual também desempenha um papel importante na produção dos materiais com agilidade e aproveitando a criatividade dos desenhistas. A Skillshare fechou uma parceria com a Samsung para trazer as aulas interativas e ele aproveita bastante este uso para repassar o conteúdo. “Uma coisa que eu gostei muito é a interatividade que os equipamentos têm entre si. Por exemplo, você está lá no celular e de repente tira uma foto de referência, que é algo que eu faço muito. Eu bato a fotografia de referência e o dispositivo tem um app que já consegue jogar esta imagem imediatamente para a tela do tablet que eu estou trabalhando”.

De acordo com ele, esta sincronia em conjunto com o Clip Studio foi muito utilizada dentro de suas aulas. “Eu tiro foto de muitas coisas que eu preciso desenhar, de um tênis que comprei por exemplo, e lanço lá na mesa de desenho. A Samsung tem uma conectividade com o Clip Studio e utilizei em aula, foi muito útil. Além disso, consigo baixar o app no telefone e deixar ele como complementar no meu tablet. Dessa forma, eu posso fazer com que o meu smartphone se transforme num controle geral, que posso usar para vários atalhos do que vai acontecer na minha tela. Achei genial. Me lembro de que quando estava testando isso antes de fazer a aula, fui no showroom da Samsung e minha reação era ‘MEU DEUS DO CÉU’. Explodiu a minha cabeça o negócio”. 

Este é o modelo Galaxy Tab S7 FE que Picolo utiliza

Para fins informativos, o dispositivo usado por Gabriel Picolo é um Galaxy Tab S7 FE. Apesar de ser um tablet, ele também possui uma caneta tátil que tem o reconhecimento de pressão feita na tela. Este recurso pode ser usado em sincronia com outros softwares e aprimora a experiência de desenho do usuário.

E será que teremos mais aulas dele dentro da Skillshare no futuro? A resposta é um sonoro “SIM”, mas pode demorar um pouco para vermos o próximo conteúdo do profissional. “Eu tenho vontade de dar mais aulas. A primeira e esta, quando terminei de gravar, senti vontade de fazer mais. A minha única ressalva é que eu só vou montar um próximo material quando eu tiver e sentir que tenho muito mais a acrescentar. Nessa última aula eu ensinei basicamente todo o meu processo. Quero ter mais recursos, mais coisas para mostrar numa próxima. Mas com certeza eu gostaria de retornar”.

Para começar a aproveitar, basta acessar o site e se inscrever nos cursos

Inspirações e a arte das HQs

Obviamente que, como professor, Gabriel Picolo será mentor e inspiração de inúmeros jovens que começam a entrar neste mercado. Para entender melhor suas referências, ele nos contou um pouco sobre quem representou este papel para ele no passado. “Desde quando comecei a acompanhar mais dentro do mercado ocidental, eu gosto muito do trabalho de Otto Schmidt. Ele trabalha também na DC, é um quadrinista russo e também já fez muita coisa para a Disney”.

O destaque que vê em seu trabalho é a adaptação que consegue criar em suas obras. “O que me chama atenção do desenho dele é a sua ideia de design de personagem, qual ele consegue mudar o estilo e deixar do jeito que o serviço pede. Se ele está trabalhando para uma coisa da Disney, seu desenho estará de um jeito; mas se é na DC, ele deixa de outro. Porém é algo que sempre faz sentido dentro do que vejo dele. Eu acho isso incrível no trabalho do Otto”.

Apesar de ter a ambição de fazer isso do mesmo modo no futuro, suas artes têm como inspiração o trabalho de outro quadrinista. “Como inspiração dos meus desenhos tenho muito do Jorge Jiménez, que saiu da Espanha e começou a trabalhar na DC Comics. Foi aproximadamente na Fase Rebirth e eu acompanho ele desde então. Ele tem crescido muito na editora e é uma grande pessoa, ele agora deve estar trabalhando no Batman. Ele é muito, muito bom”

Jorge Jiménez trabalha com a linha atual de Batman na DC Comics

Porém, mais inspirações vieram desde cedo para Gabriel Picolo, que se considera um nerd de carteirinha. Sua paixão pelo mercado nipônico também se destaca da sua juventude em diante. “Sempre amei este universo. Eu gosto de desenhar este tipo de material porque eu consumo isso. Já mangá e anime, comecei a ver ali no Ensino Médio. Nessa época que peguei gosto por desenhar, aí eventualmente me peguei desenhando qualquer animação. Hoje assisto bastante desenhos japoneses, ainda que não faça uma arte para todos eles. My Hero Academia é um que eu vi e fez sentido pegar para fazer um material e postar nas redes sociais. Agora eu estou vendo Jujutsu Kaisen e o Spy x Family”.

Vale notar que os três animes que ele citou receberão novas temporadas nos próximos meses, sem exceção. Enquanto Spy x Family e My Hero Academia retornam na Crunchyroll no mês de outubro, Jujutsu Kaisen acabou de receber um filme que foi transmitido nos cinemas brasileiros e teve o seu segundo ano recém-anunciado, para lançamento em 2023.

Homenagem de Gabriel Picolo a My Hero Academia

Mesmo que seja apaixonado por outros materiais, o destaque de suas produções continuam sendo baseados no mercado ocidental e de uma visão específica. “Gosto de ver, tanto nos cartoons quanto nas histórias de super-heróis, não só eles lutando contra os vilões, que é o que a gente espera deles, mas o que eles fazem depois, nas horas vagas. Mais sobre os personagens do que eles como heróis”.

Esta preferência acabou se tornando uma marca registrada do seu trabalho e uma referência para reconhecer seu trabalho antes de ver sua assinatura. “Eu fui mantendo essa estética e virou uma característica do meu trabalho. De continuar fazendo os super-heróis, não necessariamente da DC nem os da Marvel, em situações do cotidiano. Esses dias eu fiz uma arte baseada em Invencível, uma série da Amazon que eu gosto bastante e eu sempre fico nessa linha de ‘o que ele estaria fazendo depois que cumpriu o papel dele de super-herói?’. Ele tomou a maior porrada na série e eu pensei assim ‘caramba, esse cara deve gastar milhões de lavanderia!’. Mesmo sem planejar, é como funciona minhas ideias e acabou virando sem querer a minha identidade”.

Homenagem de Gabriel Picolo a Invencível

A carreira de Gabriel Picolo na DC Comics

Além de falar sobre como produz seus desenhos atualmente, nossa entrevista com Gabriel Picolo também foi marcada por risos, principalmente quando contou o momento que a DC Comics o contatou para trabalharem em conjunto no universo dos Jovens Titãs. Ele afirma que sequer acreditou no momento e quase deixou a mensagem ignorada em sua caixa de entrada.

“Eu lembro que recebi o e-mail da DC depois que eles viram o meu trabalho online e me convidaram para fazer um teste. Funciona como uma encomenda que verifica se consigo entregar as coisas no prazo, se dou auxílio aos pedidos etc. Quando eles me mandaram isso, eu não respondi. Achei que era algum tipo de golpe. Bom demais para ser verdade, sabe? Repetia para mim que ‘não vou cair nessa’.”

A editora teve de insistir para sua ficha cair e começarem a produzir essa parceria que dura desde o ano de 2018. “Demorei para responder o e-mail, me mandaram algumas outras vezes e eu acabei concordando. Foi nesse momento que eu acreditei que era de verdade, mesmo estando completamente surpreso. Fiz essa encomenda, deu certo e eles me chamaram para fazer a graphic novel da Ravena, que foi a primeira que criamos”.

Esta foi uma das artes mais populares de Picolo antes do estrelato

E mesmo com o contrato fechado, a ideia de desenhar para uma das maiores editoras do mercado de HQs de super-heróis ainda parecia demais para Gabriel Picolo. “Eu pensava ‘cara, eu to trabalhando para a DC, eles vão me demitir’. Quando me mandavam um e-mail com correção de página ou algum ajuste mínimo eu pensava ‘é agora’. Morria de medo de receber o e-mail dos editores lá. Acabou dando tudo certo, à medida que vai lançando livros com eles ganha bastante confiança lá dentro. As pessoas que trabalham contigo começam a confiar muito mais no seu desempenho, se você vai cumprir com prazos, com seu lado criativo, então acaba ficando mais fácil quando se está lá dentro”.

Para ele, acabou no lugar certo e na hora certa onde o mercado ia se encaminhar a partir das histórias que estavam sendo contadas na época. “E eu lembro que quando eu comecei a fazer este tipo de desenho, acabou coincidindo com o momento da DC que eles queriam fazer graphic novels de personagens. Combinou esse momento, eles viram o meu material online e falaram assim ‘caramba, esse cara está fazendo exatamente o que a gente quer produzir’. Foi aí que eles me chamaram pra trabalhar com eles”.

Inclusive, trabalhar dentro de toda a mitologia criada pelas histórias em quadrinhos não é tão restritivo quanto muitos imaginam que seja. “Existe liberdade para criar sim. Na série dos Jovens Titãs, que a gente está fazendo, tem uma personagem lá que já se tornou parte do grupo principal e é invenção nossa. Ela não foi mostrada previamente, ela não é do lore de nada, sabe? Existe um aval para você criar personagens, só que eles deixam isso para quando está ligado à uma propriedade intelectual deles. Se eu quiser inventar um herói do nada é bem mais difícil passar, de ser aceito. Não levaria a luz verde lá dos executivos da DC.”

O destaque é para os personagens secundários

Já para trabalhar com personagens secundários, nada disso seria um entrave. “Como personagens coadjuvantes, você tem uma liberdade até grande para criar o que quiser. Conversamos muito sobre isso no livro do Robin, por exemplo, porque obviamente como o livro é do Dick Grayson, o Batman dá uma aparecida. Mas eu fiquei muito preocupado em fazer essa história não virar uma história de Batman. De Batfamília. Porque não é isso. Não queria entrar lá, porque é muita lore para você jogar. Você falou de Batman, você falou de um monte de coisas e aí eu fiz questão de deixar o herói como uma silhueta que aparece ali, ele tá sempre de costas, então ele não está no destaque. O foco é o Robin, não o Batman. É bem assim, dá para colocar, mas tem que ter cuidado”.

Nem mesmo o lançamento de outras mídias impede os projetos como das graphic novels de Gabriel Picolo ou de outras obras neste universo das HQs. “A companhia começa a linkar coisas onde dá certo. Por exemplo, ano passado saiu a Ravena e o Mutano para o Fortnite, aí lançaram uma skin deles que era a versão ‘super-herói’ e a outra que tinha dos personagens era casual. Algo que eu costumo fazer. É algo que veio a calhar, eles pensaram ‘ah, já que vai sair o Mutano e Ravena e estamos lançando a graphic novel Beast Boy Loves Raven, lá eles também usam uma roupa casual, vamos juntar essas coisas todas’. Mas não tem nada proibitivo, sabe? É muito pelo contrário, se encaixa eles tentam unir os produtos em tudo que vai sair daquele personagem durante o ano”.

Ainda em 2022, no mês de outubro, outro jogo também usará alguns personagens que o artista costuma trabalhar. Gotham Knights traz membros da Batfamília como Dick Grayson, Barbara Gordon, Jason Todd e Tim Drake em uma aventura que se passa após a morte de um dos maiores heróis de todos os tempos: o próprio Batman. Assim, ele não precisará adiar nem se conter na história criada para a graphic novel de Robin que chegará no primeiro trimestre do próximo ano, já que ambas não vão se atrapalhar aos olhos da editora.

Um significado para o seu trabalho e o futuro dele

Apesar de criar diversas homenagens, tanto ao que está relacionado ao trabalho quanto das produções geek que acompanha, para ele a principal motivação é que aquilo que ele vá desenhar traga um significado que possa agregar. “Uma coisa que acontece muito é que nem todo o material que eu consumo sinto vontade de criar uma arte. Por exemplo, eu vi o Arcane e achei um absurdo de bom, mas foi um sucesso tão grande e eu vi tanto material online, tanta arte incrível que falei assim ‘cara, eu não acho que tenho mais nada para acrescentar aqui’. Eu já tinha visto tanto que eu pensei que não precisava. Minha voz aqui não será somada, entendeu?”

E é por essa razão que Gabriel Picolo insiste em trabalhar com bastante heróis secundários e a turma mais juvenil deste núceo. “Uma coisa que eu sinto dos Jovens Titãs e, é por isso que acho que insisto tanto nesses personagens, é ter esta ideia que a minha voz podia ser somada ao conteúdo. Eu não estava vendo ninguém fazendo este tipo de material que eu queria ver acontecendo ali sobre aqueles seres. Às vezes isso que acaba definindo se eu vou ou se não vou criar uma arte daquele conteúdo que estou assistindo”.

Em relação ao futuro, sua vontade é continuar explorando este universo e revelando novas nuances de figuras menos icônicas. “Agora eu acabei de terminar o próximo livro da série dos Jovens Titãs que vai sair, é uma história focada no Robin. Igual fizemos com Mutano e a Ravena, agora vai ter um solo de um dos maiores ajudantes das HQs. Vai entrar o Dick Grayson na dinâmica do grupo. Depois dele, eu já tenho algumas coisas alinhadas na DC que eu não tenho permissão de falar. Outras que eu gostaria que estivessem alinhadas, mas nada foi conversado sobre o assunto ainda”.

Mutano e Ravena tiveram histórias solo e como casal

Obviamente que perguntamos que tipo de projetos que o artista gostaria de ver aprovados e a resposta não poderia ser outra. “Por exemplo, eu adoraria entrar com a Justiça Jovem quando finalizar os arcos dos Jovens Titãs. Eu tenho muito gosto por sidekicks, sabe? Os caras que não são os principais, não vão defender o planeta nas lutas galácticas, encontrar os grandes inimigos por lá, mas prefiro focar nesses heróis menores. De conter problemas menores, de contar sobre essa parte do lado humano deles, para mim isso faz mais sentido. Você consegue ter um pouco mais de liberdade para explorar mais o personagem, não tem um legado atrás dele como são os grandões da DC”.

A equipe da Justiça Jovem foi uma grande febre no campo das animações, trazendo a grande maioria dos heróis jovens dentro de histórias paralelas às que vivem a Liga da Justiça. O grupo inicial era formado por Robin, Aqualad, Miss Marte, Kid Flash, Superboy e Artemis e depois incluiu diversos outros, seja icônicos ou criados apenas para fazerem parte do desenho. Atualmente está na quarta temporada, exibida na HBO Max.

Deste universo, Gabriel Picolo sabe muito bem com quais investiria o seu tempo se fosse oferecida a oportunidade. “Os meus favoritos de Justiça Jovem são o Besouro Azul e o Kid Flash. Ambos são personagens que eu tenho muita vontade de fazer uma coisa em cima. Acho que o que me atrai neles é o fato deles poderem cometer erros. Serem imperfeitos. Creio ser isso o que mais me atrai, tanto neste desenho quanto nos Jovens Titãs. O fato deles estarem aprendendo coisas ainda, não são os super-heróis completos e sem defeitos, não estão brigando contra grandes ameaças, sim contra coisas menores”.

Atualmente ele criou até uma arte de Jaime Reyes, que foi compartilhada por Xolo Maridueña, o ator que viverá o herói nos cinemas. “O meu primeiro contato com o Besouro Azul foi no desenho animado, depois que fui caçar ele nos quadrinhos porque achei interessantíssimo. Estou apavorado que eles cancelem esse filme, porque cancelaram a Batgirl e eu não sei como estão as coisas lá na Warner Bros. Mas eu acho que vai sair e me sinto empolgado com o que ele vai representar: as pessoas conhecerão o personagem, vai dar acesso para o mainstream”. 

Xolo Maridueña compartilhou em suas redes sociais a arte do quadrinista

Nem preciso dizer que o lado fã gritou mais alto e a hype é real, certo? Gabriel não esconde nem um pouco que já imagina as possibilidades que o herói traz consigo. “Ele é um boneco muito legal! Ele simplesmente tem um escaravelho nas costas que cria o que ele precisar que crie. Isso que eu acho bacana, essa coisa de você poder fazer a quantidade de coisas que ele consegue fazer. Depende apenas da criatividade de quem está escrevendo ele.Fora que eu adoraria ver mais representação com heróis latinos”.

Fora das HQs mais conhecidas, também pudemos ver a arte de Gabriel Picolo em “Icarus and the Sun”, uma história feita com financiamento coletivo. Porém, neste quesito, pode demorar um pouco para vermos mais obras originais por suas mãos, ainda que carregue vontade para levá-las para frente. “Tenho algo em mente, mas eu vou deixar essa ideia na gaveta ainda. O Icarus, quando ele saiu, eu estava fazendo junto com o Beast Boy Loves Raven, foi muito difícil. Você está com duas mentes criativas, dois projetos diferentes, sabe? Quase não consegui fazer os dois ao mesmo tempo e não queria repetir isso. Então acho que vou deixar de lado por enquanto, deixar para depois que eu terminar os principais da DC e aí sim vou pegar e fazer os meus projetos solo. Mas sim, eu tenho coisas em mente que eu quero produzir”.

Icarus and the Sun foi a primeira obra de Gabriel fora da DC Comics

Como fica o público no meio disso?

A ideia de Gabriel Picolo é desenhar justamente para aqueles que anseiam pela proposta que está seguindo desde o início de sua carreira neste mercado. “Eu sinto que as artes que eu faço agora e o material que produzo para a DC é pra pegar o pessoal nostálgico dos anos 2000, como eu, que assistia a série animada na TV e viu todos os episódios ali. É essa galera que quero alcançar e também para as pessoas que estão saindo dos Teen Titans GO. O desenho é obviamente feito para crianças e meu material ali é para o infanto-juvenil, então tem uma galera que está saindo deste conteúdo e quer continuar acompanhando estes super-heróis”.

E, para o artista, tudo isso faz sentido com o projeto que a editora está seguindo nos quadrinhos. “É por isso que, no ponto de vista da DC Comics de guiar o público deles, fez todo o sentido. Vamos dar este tipo de conteúdo para este leitor. Uma coisa bem legal dos trabalhos que participei é que, como são livros que você não precisa do lore todo do personagem, eles são feitos para que você não precise ler os quadrinhos principais. É uma história à parte, totalmente separada da continuidade central, feita para simplesmente ler aquela graphic novel. Então, acaba pegando mais leitores que não tem contato com esse tipo de super-heróis. Não precisa acompanhar as comics, entendeu?”

Para quem não conhece ou não se recorda muito desta época, os Jovens Titãs começaram a se destacar ainda em 2003, na estreia do desenho animado que dava nome à equipe. Com histórias mais brandas, porém bem-escritas e que respeitavam tudo o que os fãs mais zelavam nas HQs, conquistou uma legião inteira de apaixonados por aquele universo. Infelizmente foi descontinuada, deixando muita saudade e tornando jovens como eu e o desenhista também carentes de mais conteúdo do gênero.

A Marvel não ficou de fora da conversa, com algumas vontades de Gabriel Picolo sendo expostas do que gostaria de fazer dentro da editora caso surja a oportunidade um dia. “Um herói que eu adoraria trabalhar deles é o Homem-Aranha, mas eu sei que ele é bem difícil. Seria o mesmo que eu fosse pedir o Batman para a DC hoje. É algo de alto padrão, não é tão palpável. Mas eu adoraria fazer alguma coisa com o Miles ou com o Peter”.

Já pensou ver os dois no estilo de Picolo?

Perto dos eventos e dos fãs também

A pandemia foi complicada para todos, mas para Gabriel Picolo se tornou um problema justamente por ser gente como a gente: a saudade dos eventos presenciais e do calor do público. “Senti muita falta deles, eu costumo ir à CCXP no final do ano no Brasil, à New York Comic-Con nos Estados Unidos, às vezes ia até na convenção de Chicago e estas eram as pausas que eu fazia ao longo do ano para viajar. Ver as pessoas, porque é muito diferente enxergar quem está apenas acompanhando o seu material online. Você vê ali pela tela do celular e não parece que é tão real, sabe? Lá eu conheço estas pessoas na realidade e é um sentimento completamente diferente, então eu senti muita falta, você acaba se sentindo como artista um pouco isolado”.

A recepção do público auxiliou ele a persistir na carreira e conquistar o planeta com suas artes. “É surreal demais! Foi tudo muito rápido, eu lembro que eu comecei por volta de 2015, mas começou a virar essa loucura dois anos depois. E até hoje é um negócio que o brilho não sumiu dos meus olhos, quando estou numa convenção e vejo uma pessoa com cosplay de algum personagem que eu desenhei e aí quero tirar foto. Elas me pedem isso, mas na verdade eu que estou morrendo de vontade de falar ‘posso tirar uma foto sua?’ É muito legal e é uma coisa que está acontecendo ainda. Estou produzindo algo e se eu desenho uma coisa nova assim, as pessoas já viram e foram criar um cosplay – meu, vocês são muito rápidos! São malucos! Eu gosto muito”.

Nem mesmo a comunidade de quadrinistas no Brasil é o suficiente para aquecer o coração como estas festividades. “Eu sinto que é um cenário mais isolado, vejo muito mais os artistas na hora de eventos também. Sempre tem algumas coisas como jantares, sair pra beber, trocar uma ideia, mas é mais naquele momento do ano. Não é algo que ao longo do ano todo de ficar se vendo, como os fãs nos acompanham. Eu tenho alguns poucos colegas no mercado brasileiro, o Elder Oliveira e a Isadora Zeferino por exemplo, mas que não estão na parte de quadrinhos, eles são de ilustração editorial para livros e coisas assim. Não é necessariamente da minha área, da área da DC”

Gabriel Picolo na CCXP 2019 – Crédito: Omelete Company

E Gabriel Picolo tem dois países que acredita receberem melhor os artistas do gênero e que não trocaria por nada: Brasil e México. “Em eventos que ocorrem neles, o pessoal entrega muita coisa. São as nações que eu mais vi que gostam de dar presentes, que gostam de dar desenho, alguma cartinha e algo assim. Lembro que no México, por exemplo, o pessoal me deu uma mochila, camiseta e bastante coisa. Me entregaram até uma camisa igual aquela que desenhei do Mutano, escrito assim “Meat is Murder” em uma raglan. Fiquei surpreso de terem levado isso até lá. O carisma das pessoas é surreal, você está conectado com elas apenas por postar um desenho online. É simples: viu teu desenho ali, deu uma finalização, uma revisada e aí isso ficou legal e postei. A partir dali, criou uma conexão com as pessoas que eu só vejo e tenho ideia disso na hora dos eventos”.

O presente que mais marcou a sua carreira foi um traje que desenhou e lhe entregaram em um dos vários eventos que participou. “A jaqueta do Robin foi uma das que mais me marcaram, até já postei em rede social. Foi de um cosplayer que me entregou durante um evento. Ele estava vestido de Robin, com o R do herói aqui no peito e ele me deu sua jaqueta, foi muito massa. Foi demais, eu uso a jaqueta direto na rua pra fazer minhas coisas”.

Por fim, ele deixa uma mensagem à sua legião de fãs e já deixa sua próxima presença na agenda da comunidade. “Eu estou muito feliz com as coisas que estão acontecendo na DC Comics, estava sumido nas redes sociais porque estava cheio de trabalho. Não posso revelar o que vem aí, mas estou empolgado e muito feliz para ver vocês na CCXP. É, de longe, o meu evento favorito de todos que eu participei e a gente vai ter uma agora em dezembro, né? Me sinto ansiosíssimo para rever as pessoas, assim como fui na Bienal do Livro e as pessoas me receberam muito bem. Se tornou muito maior do que eu imaginava, era para ser apenas um evento de assinatura que nasceu pequeno. O próximo é na CCXP e a gente se vê lá!”.

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