Quem procura Joyland com base em outros livros do mestre de terror acaba encontrando uma outra face de Stephen King. Joyland rompeu com qualquer expectativa que eu tinha sobre o livro. Comparado aos outros romances de King, esta é uma história que eu defino como: profunda. Melancólica. Sentimental. Madura.
O terror é mero sopro em meio a uma teia de conexões entre pessoas desconhecidas que têm a acrescentar substancialmente nos destinos de cada uma delas.
A atmosfera de mistério que paira sobre os personagens mais se aproxima de um conto policial. E não à toa, King dedicou este livro à Donald E. Westlake, um de seus autores policiais favoritos.
O que temos em mãos é uma história sobre amadurecimento com toques de thriller policial.
A história se desenvolve a partir das memórias de Devin Jones. Já na meia idade, ele relembra a época de seus vinte e um anos, quando dava seus primeiros passos na vida adulta. Os eventos que aconteceram há décadas ainda rondam sua memória, dada a magnitude que tiveram em sua formação como pessoa.
Naquela época, Devin trabalhou no parque de diversões Joyland, na Carolina do Norte. Com o coração partido pela separação com sua primeira namorada, ele decide deixar a faculdade de lado para tentar cicatrizar suas feridas emocionais e descobrir que rumo deve tomar na vida.
Ao contrário da megalomania capitalista da Disney, Joyland é um parque que se mantém à sua função honesta: promover diversão, ou como o próprio dono sempre ressalta aos funcionários: “Em Joyland, nós vendemos diversão”.
O ritmo que a narrativa se desenvolve foi penetrante em minha experiência de leitura. Assim como o amadurecimento do protagonista: Um menino melancólico que lida com a dor do primeiro término de namoro, que mergulha sua solidão em The Doors, Pink Floyd e J.R.R. Tolkien – para mim já foi o suficiente em identificação.
Rapidamente, a vida de Devin me atraiu de forma magnetizante.
O parque Joyland é palco de toda a narrativa, onde Devin conhece as pessoas que transformarão sua vida e onde um assassinato aconteceu há quatro anos. No único trem fantasma de Joyland, uma jovem foi assassinada pelo próprio namorado. Ele nunca foi encontrado. Mas, reza a lenda que o fantasma dela já foi visto por algumas pessoas.
Devin fica fascinado pela história. No entanto, o mistério será apenas o plano de fundo para o que ele deve viver no parque e também a caminho dele. O jovem prefere seguir o caminho para o trabalho através da praia, para sentir a brisa marítima e contemplar os diferentes climas que cada dia oferece naquela paisagem.
É em uma casa à beira da praia que Devin vai conhecer uma família sobre a qual ele terá forte impacto. Os passeios pela praia e o relacionamento que ele desenvolve com os personagens adicionam muito lirismo à história.
No parque, onde a diversão marca as primeiras memórias felizes das crianças e os jovens e as famílias se reúnem, também esconde um mistério e destinos a se conectarem. É ali que um menino poderá, por um breve momento, se sentir voando livre e leve, como sua pipa.
Joyland é uma história que marca o leitor não com sustos ou situações tenebrosas, mas com uma beleza melancólica do nosso estado de impermanência, das transições e conexões que construímos ao longo da vida – e todos os gestos através dos quais marcamos o caminho de quem nos cruza.
É uma história divertida, com reviravoltas, truques de percepção, diálogos que comunicam a mais profunda essência dos personagens e um desfecho de tirar lágrimas de qualquer leitor – a última coisa que eu esperava era chorar com um romance de King. Me peguei sorrindo em muitos capítulos com a beleza de diálogos tão singelos e penetrantes.
Quem lê Joyland com expectativas, encontra algo totalmente diferente. Se depara com uma outra face de Stephen King e dos relacionamentos humanos.
Ao fim da leitura, é daquele tipo de livro que você fecha e o coloca contra o peito. Agradecendo ao autor por ter depositado tanto naquelas páginas.
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