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Monstros da Universal: Drácula Vive! traz toda a sedução e terror do mítico vampiro

Monstros da Universal: Drácula Vive! (DarkSide Books, 2025) mostra a chegada de Drácula na Inglaterra. O crescimento do terror após sua chegada. Até o dramático, e hoje em dia icônico, final. A trama da graphic novel em grande parte é vista pelos olhos de Renfield. Isso já fica evidenciado na capa. Renfield é um paciente no sanatório do Dr, Seward. A obra intercala os relatos de Renfield com as aparições de Drácula.

Drácula, apesar de ser o personagem que dá título à obra, quase não aparece diretamente. Ele nem ao menos é mostrado falando. Ele é mais como um conceito, um pesadelo à espreita. Manipulando das sombras. A mais recente graphic novel de Drácula mostra a sedução e o terror do mítico vampiro. Fica evidente que Drácula representa a tentação.

Capa de Monstros da Universal: Drácula Vive!, da DarkSide Books.

Monstros da Universal: Drácula Vive! foi indicada ao prêmio Eisner em 2024.

A versão da Darkside Books traz um posfácio de Dracre C. Stoker e um de James Tynion IV.

Análise dos elementos que constituem a obra

Roteiro: O roteiro consegue manter uma fluidez natural do começo ao fim. Há vários momentos sem escrita, permitindo que os atos apresentados sejam sentidos apenas pela ilustração.

Ilustração: A arte “onírica” utilizada combina com o aspecto sobrenatural do Drácula. Nesse “aspecto de névoa” o vermelho “vivo” se sobressai.

Tradução: Um único erro de tradução ocorre na contracapa, quando “asylum” é traduzido como “asilo”. A palavra “asylum” (do original em inglês) é traduzida corretamente como “sanatório” em todas as páginas, significando instituição de cuidado para pacientes com transtornos mentais. Na contracapa ocorreu uma transliteração para “asilo”, que em português tem outro significado: instituição de repouso/acolhimento para idosos.

Arte de Martin Simmonds em Monstros da Universal: Drácula Vive!

Elementos científicos relacionados à Drácula

Fotossensibilidade, ou alergia ao sol, é uma reação imunológica desencadeada pela exposição ao sol ou à luz ultravioleta, levando a desconforto e queimaduras solares.

Hematofagia é o ato de certos animais se alimentarem de sangue de vertebrados ou hemolinfa de invertebrados. Milhares de espécies adotam esse comportamento, seja de forma obrigatória ou facultativa, aproveitando os nutrientes do sangue com pouco esforço. Nemátodos da família Ancylostomatidae, por exemplo, consomem sangue retirado de capilares intestinais. Entre os mais de 180 morcegos brasileiros, só três são hematófagos: Desmodus rotundus, Diaemus youngi e Diphylla ecaudata.

Uso de “sangue jovem” para restaurar a juventude: Os primeiros experimentos datam do século XIX. Estudos recentes vêm mostrando que proteínas presentes no soro sanguíneo de indivíduos jovens podem estimular processos de rejuvenescimento em células da pele.

Síndrome de Renfield é um termo cunhado pelo psicólogo Richard Noll em 1992, originalmente como uma brincadeira, para descrever o vampirismo clínico. O personagem Renfield influenciou o estudo do comportamento na vida real de pacientes psiquiátricos com obsessão por beber sangue. Correspondentemente, existe também o “transtorno de personalidade vampírica” ​​(TPV); um diagnóstico para vampirismo clínico, usado para o perfil comportamental de assassinos em série movidos pela sede de sangue e para pacientes que vivenciam fantasias vampíricas violentas; este diagnóstico, no entanto, não é reconhecido pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5).

Drácula na ciência

Uma busca no PubMed, base de dados do NIH (National Institutes of Health), revela um total de 150 artigos científicos que mencionam a palavra Dracula.

Primeiro (1973): Shuster S. (1973). Dracula and surgically induced trauma in children. The British journal of medical psychology, 46(3), 259–270. https://doi.org/10.1111/j.2044-8341.1973.tb02250.x

Mais recente (2025): Jiang, Z., Feng, Z., & Niu, B. (2025). Prototype-Neighbor Networks with task-specific enhanced meta-learning for few-shot classification. Neural networks, 190, 107761. https://doi.org/10.1016/j.neunet.2025.107761

Dracula é um gênero de orquídeas.

Dracula é uma espécie de caracol: Bensonella dracula.

Dracula é uma espécie de aranha: Patrera dracula.

Dracula é uma espécie de peixe: Danionella dracula.

Dracula é uma espécie de musaranho: Crocidura dracula.

Drácula na cultura

Drácula foi adaptado em praticamente todas as formas de mídia ao longo dos anos. Dados recentes indicam que o romance e seus personagens foram retratados no cinema, televisão, videogames e animação mais de 700 vezes, além de aproximadamente 1000 aparições adicionais em quadrinhos e peças teatrais.

Obs.: as obras mencionadas abaixo levam em consideração apenas a representação do personagem Drácula, e não vampiros derivados, ou mesmo vampiros em geral, o que é todo um “universo” extremamente diverso e rico.

Livro original

– (1897) Drácula é um romance de terror gótico publicado em 1897, escrito por Bram Stoker. Como um romance epistolar, a narrativa é relatada por meio de cartas, diários e artigos de jornal. Não tem um único protagonista, mas abre com o advogado Jonathan Harker fazendo uma viagem de negócios para ficar no castelo de um nobre da Transilvânia, Conde Drácula. Harker escapa do castelo depois de descobrir que Drácula é um vampiro, e o Conde se muda para a Inglaterra e assola a cidade litorânea de Whitby. Um pequeno grupo, liderado por Abraham Van Helsing, caça Drácula e, no final, o mata.

Personalidades e obras que influenciaram Drácula

Vlad, o Empalador (1428/31 – 1476/77)

Vlad III, comumente conhecido como Vlad, o Empalador (em romeno: Vlad Țepeș) ou Vlad Drácula (em romeno: Vlad Drăculea; Sighișoara, 1428/31 – Bucareste, 1476/77), foi Voivoda da Valáquia três vezes entre 1448 e sua morte em 1476/77. Ele é frequentemente considerado um dos governantes mais importantes da história da Valáquia e um herói nacional da Romênia.

Elizabeth Báthory (1560 – 1614)

No livro Dracula Was A Woman (1983), Raymond McNally sugere que Elizabeth Báthory inspirou Drácula, citando crimes como o uso de uma jaula semelhante à dama de ferro. Marie Mulvey-Roberts afirma que, diferentemente dos vampiros tradicionais, Drácula, assim como Báthory, usa sangue para manter a juventude.

Carmilla

– (1872) Além do contexto histórico, o personagem Conde Drácula também tem origens literárias. Segundo a pesquisadora Elizabeth Signorotti, Drácula pode ser interpretado como uma resposta à vampira Carmilla, de Sheridan Le Fanu, alterando a ênfase apresentada no desejo feminino. Em sua biografia sobre Bram Stoker, o radialista Daniel Farson, sobrinho-neto de Stoker, questiona se o autor tinha conhecimento dos elementos presentes em Carmilla, mas considera que mesmo assim houve influência dessa obra.

Mitologia/folclore vampírica

As histórias sobre Vlad fizeram dele o governante medieval mais conhecido das terras romenas na Europa. No entanto, Drácula de Bram Stoker, publicado em 1897, foi o primeiro livro a fazer uma conexão entre Drácula e vampirismo.

A noção de vampirismo existe há milênios. Culturas como a mesopotâmia, a hebraica, a grega antiga, a manipuri e a romana tinham contos de demônios e espíritos que são considerados precursores dos vampiros modernos. Apesar da ocorrência de criaturas vampíricas nessas civilizações antigas, o folclore da entidade conhecida hoje como vampiro se origina quase exclusivamente do sudeste da Europa no início do século XVIII.

Livros

Primeiro (1899): Mörkrets Makter (Powers of Darkness). Autores: Bram Stoker e Valdimar Ásmundsson.

Mais recente (2016): Dracula vs. Hitler. Autor: Patrick Sheane Duncan.

Contos

Primeiro (1977): The Dracula Book of Great Vampire Stories. Autor: Leslie Shepard.

Mais recente (2012): Classic Monster Novels Condensed. Autor: Joseph Lanzara.

Comics/manga

Primeiro (1953): Eerie #12 da Avon Comics, com arte de Gene Fawcette e Vince Alascia.

Mais recente (2025): Dracula: Book II — The Brides. Autores: Matt Wagner e Kelley Jones (lançamento em novembro).

Teatro

Primeira (1897): Dracula, or The Undead. O próprio Stoker escreveu a primeira adaptação teatral, que foi apresentada no Lyceum Theatre em 18 de maio de 1897 sob o título Dracula, or The Undead pouco antes da publicação do romance e realizada apenas uma vez, a fim de estabelecer seus próprios direitos autorais para tais adaptações.

Mais recente (2025): Adaptação de Kip Williams e dirigida por Emma Baggott, ficou em cartaz no Lyric Hammersmith Theatre.

Musical

Primeiro (1965): No Festival de Teatro de Dublin em 1965, houve uma comédia musical Dearest Dracula.

Mais recente (2004): Joop van den Ende viu um workshop de Drácula, o Musical e o abriu na Broadway em 2004, adicionando novas músicas e encenações diferentes.

Ópera

Primeira (1995): Drakula. De Don Linke. Uma ópera rock desenvolvida pela Midwest Rock Opera Company que foi apresentada em vários países.

Mais recente (2021): The Lord of Cries. De John Corigliano. Uma versão mais reimaginada, onde o vampiro Conde Drácula é uma versão do deus pagão Dionísio, que busca trazer o caos para a Inglaterra vitoriana.

Balé

Primeiro (1997): Dracula. De Michael Pink e Christopher Gable. Criado para o Northern Ballet Theatre no Reino Unido.

Mais recente (2018): Dracula. De Krzysztof Pastor e Pawel Chynowski. Estreou em Perth.

Filmes

Primeiro (1921): Drakula halála. Diretor: Károly Lajthay. Esta é a primeira adaptação cinematográfica conhecida do romance de Bram Stoker e contou com a participação de Drácula. Infelizmente, é um filme perdido, o que significa que não existem cópias conhecidas até hoje.

Primeiro (1922): Nosferatu. Diretor: F. W. Murnau. Este filme mudo alemão foi a primeira adaptação sobrevivente do romance. Foi uma adaptação não autorizada, então o nome do personagem foi alterado para Conde Orlok, e alguns detalhes da história foram alterados.

Primeiro (1931): Dracula. Estrelado por Bela Lugosi, este filme é a primeira adaptação oficial do romance. Baseado na popular peça teatral, a interpretação icônica de Lugosi consolidou a imagem clássica do Drácula na cultura popular.

Mais recente (2025): Dracula: A Love Tale. Diretor: Luc Besson.

Universal Pictures:

– (1931) Dracula. Direção: Tod Browning.

– (1936) Dracula’s Daughter. Direção: Lambert Hillyer

– (1943) Son of Dracula. Direção: Robert Siodmark.

– (1944) House of Frankenstein. Direção: Erle C. Kenton.

– (1945) House of Dracula.  Direção: Erle C. Kenton.

Seriados

Primeiro (1964): The Munsters.

Mais recente (2020): Dracula. BBC em parceria com Netflix.

Animação

Primeira (1933): Mickey’s Gala Premier.

Mais recente (2022): Hotel Transylvania: Transformania.

Videogame

Primeiro (1979): The Count.

Drácula em Castlevania: Symphony of the Night. Arte de Ayami Kojima.

Mais recente (2024): Castlevania: Dominus Collection.

Rádio e áudio

Primeiro (1938): Orson Welles e John Houseman escolheram Drácula para ser o episódio inaugural do novo programa de rádio com sua produtora da Broadway, The Mercury Theatre on the Air.

Mais recente (2017): A BBC Radio 4 transmitiu, como parte de sua série “Unmade Movies”, The Unquenchable Thirst of Dracula, da Hammer Horror, adaptado de um roteiro de filme não produzido da Hammer Horror.

RPG

Primeiro (1991): Vampiro: A Máscara. Criado por Mark Rein-Hagen e lançado White Wolf Publishing.

Capa de Vampíro: A Máscara.

Mais recente (2025): Brides of Dracula. Criado por Gianluca Torrente.

Card Game

Primeiro (1994): Vampire: The Eternal Struggle. Wizards of the Coast e White-Wolf Publishing.

Mais recente (2025): Stokerverse. Iconiq Studios.

Board Game

Primeiro (1987): Fury of Dracula.  Projetado por Stephen Hand e publicado pela Games Workshop.

Mais recente (2024): Dracula vs Van Helsing. Por 25th Century Games.

Música

Primeira (1958): Dinner with Drac, de John Zacherle.

Capa do álbum Dracula: Swing of Death, de Jorn Lande e Trond Holter (2015).

Mais recente (2025): Dracula (Original Motion Picture Score), de Danny Elfman.

Telenovela brasileira

– (1980): Drácula, uma História de Amor. De Rubens Ewald Filho. Rede Tupi.

Monstros da Universal: Drácula vs. Frankenstein

Além de sua vasta presença na cultura popular, Drácula também já enfrentou outro monstro com presença na cultura popular quase tão vasta quanto a sua: o monstro de Frankenstein.

Interessante notar aqui que enquanto Drácula é uma criação ligada ao sobrenatural, o monstro de Frankenstein é ligado à ciência. Temos aqui então um duelo do sobrenatural vs ciência?

Cartaz do filme Dracula vs. Frabkenstein (1971).

– (1971) filme: Dracula vs. Frankenstein. Direção: Al Adamson.

– (2002) filme: Dracula vs. Frankenstein. Direção: Marc Slanger, Tyler Ralston.

– (1995) comics: The Frankenstein Dracula War. Tops Comics.

– (2023) comics: Dracula x Frankenstein. FairSquare Graphics

– (2024) audiobook: Dracula vs. Frankenstein – Duell der Giganten (Hörspielbox): Dracula vs. Frankenstein 1-4. Autor: Christian Gailus.

– (1994 – 1997) videogame: Darkstalkers. Produtora: Capcom. Demitri Maximoff vs. Victor von Gerdenheim.

Reflexões finais

Monstros da Universal: Drácula Vive! é a obra mais recente em uma cadeia (ou teia) de obras derivadas do original Drácula, de Bram Stoker, de 1897. Drácula tornou-se tão presente na cultura popular por ser visto nas mais variadas formas, indo do terror absoluto a comédia. A obra original de Bram Stoker, influenciou a criação de uma gigantesca variedade de personagens vampiros. Apesar de vampiros existirem no folclore desde as primeiras civilizações, foi Drácula quem colocou o arquétipo sob qual os demais vampiros viriam a se espelhar: aristocrata, sedutor, um monstro implacável na pele de um humano. A graphic novel de James Tynion IV e Martin Simmonds vai na origem do icônico vampiro e acrescenta sua contribuição ao imaginário da cultura popular ao reforçar certos aspectos da obra original e do personagem título: sedução e terror.

Obras relacionadas lançadas pela DarkSide Books

– (2018) Drácula – First Edition

– (2018) Drácula – Dark Edition

– (2019) Rastro de Sangue: Príncipe Drácula

– (2022) Carmilla

– (2022) Carmilla

– (2024) Drácula: A Ordem do Dragão

– (2024) Nosferatu: Sinfonia das Sombras

– (2025) Monstros da Universal: Frankenstein Vive!

– (2025) Monstros da Universal: O Monstro da Lagoa Negra Vive!

– (2025) Lady Killers Profile: Condessa Báthory (pré-venda)

Autor da obra original: Bram Stoker

Abraham “Bram” Stoker (Dublin, 8 de novembro de 1847 – Londres, 20 de abril de 1912) foi um romancista, poeta e contista, mundialmente conhecido por seu romance gótico Drácula (1897), a mais conhecida obra a marcar o desenvolvimento do mito literário moderno do vampiro.

Outras obras dos autores de Monstros da Universal: Frankenstein Vive!

James Tynion IV, roteirista

Primeira obra (2011): Detective Comics #883.

Obra mais recente (2025): Exquisite Corpses.

Martin Simmonds, ilustrador

Primeira obra (2018): Punks not Dead #1.

Obra mais recente (2025): Universal Monsters The Invisible Man #2.

Rus Wooton, letrista original

Primeira obra: ?

Obra mais recente: ?

Érico Assis, tradutor

Primeira obra (2009): Retalhos.

Obra mais recente: ?

Mais de Drácula em Nerdizmo

O Nerdizmo tem 43 matérias relacionadas a Drácula.

Primeira matéria (2013): Entrevista: The Incredible Adventures of Van Helsing

Matéria mais recente (2025): NECA lança coleção retrô dos Monstros Clássicos da Universal inspirada nos anos 80, por Flávio Croffi.

Agradecimento

Agradeço à DarkSide Books pelo envio da cópia de Monstros da Universal: Drácula Vive!, que possibilitou a escrita do texto aqui apresentado.

Biólogo/geneticista pesquisador na área de evolução humana, genética de populações humanas, coevolução gene-cultura. Nos últimos anos passou a pesquisar também videogames e sua interação com a ciência. Atualmente é Pós-Doutorando no PPG Patologia da UFCSPA. É pesquisador colaborador no Game_Pesq, grupo de pesquisa sobre jogos eletrônicos, cultura e sociedade. Atua como consultor científico no Science Game Center e no Molecular Jig Games.

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