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Monstros da Universal: Frankenstein Vive! é uma graphic novel moderna com fôlego para manter o fascínio pela obra e seu legado

Monstros da Universal: Frankenstein Vive! (DarkSide Books, 2025) acompanha o cientista Dr. Frankenstein, que em sua busca para superar a morte, acaba por criar um monstro. Esta graphic novel é uma nova versão do livro Frankenstein ou o Prometeu Moderno, de Mary Shelley, publicado originalmente em 1818. Frankenstein é considerada a obra que deu origem ao gênero ficção-científica.

Captura de página da graphic novel.

A Graphic novel de Michael Walsh segue de uma forma geral a obra original, mas é mais baseada no filme da Universal Pictures (afinal, Monstros da Universal) do que no livro original da Mary Shelley. Como a presença do ajudante Fritz (Igor), inexistente na obra original, mas presença constante a partir dos filmes da Universal. Principal diferença nessa versão é a presença de uma criança, Paul. A criança é o fio condutor (representa o leitor?) ao longo da obra.

O nome original da graphic novel em inglês é Universal Monsters: Frankenstein. O “Vive!” foi acrescentado na tradução para o português. … Por qual motivo? Seja ele qual for, não chega a ser um problema para as outras obras da coleção lançadas no Brasil até agora (Monstros da Universal: Drácula Vive! e Monstros da Universal: O Monstro da Lagoa Negra Vive!), mas “Frankenstein Vive!” dá a impressão de que Frankenstein é o monstro.

Esse é um equívoco comum. Muitas pessoas se referem erroneamente à criatura criada por Victor Frankenstein como “Frankenstein”. Na realidade, Frankenstein é o nome do cientista, enquanto a criatura é um personagem sem nome.

E aqui entra outra parte do debate a respeito de quem é o verdadeiro monstro. Enquanto a criatura é chamada de monstro por sua aparência e posteriormente por atos que comete por total inexperiência com relação ao mundo e à existência. Frankenstein, o cientista, comete atos monstruosos ao saquear túmulos para realizar seu experimento, e depois pela forma como trata sua criação.

Análise dos elementos que constituem a obra

Roteiro: A obra tem um ritmo ágil e moderno. Com a inteligente escolha de cada capítulo focar em uma das partes do monstro, e sua relação com a história do ser humano de onde tal parte foi originalmente obtida.

Ilustração: A ilustração reflete o dinamismo do roteiro. Alternado entre elementos visuais extremamente detalhados com outros com menor detalhamento, levando o leitor a ter um foco visual no aspecto que está sendo enfatizado em determinada cena.

Colorização: A colorização tende a ser monocromática ao longo da obra, com uso de uma cor quente ou fria predominando em uma página e dando o tom da emoção que está sendo transmitida.

Ciência

A ciência caracteriza a morte como a “cessação irreversível” dos processos vitais.

Mas estudos recentes mostraram que mesmo após a morte do organismo em si, muitas células continuam vivas por semanas.

Um dos principais desafios científicos de um corpo formado por parte vindas de indivíduos distintos seria o sistema imune. Mesmo hoje em dia vemos o quão complexo é o funcionamento do transplante de órgãos. Sendo necessária a administração de drogas especificas para que não haja rejeição do órgão transplantados pelo organismo receptor. Tentar fazer funcionar um corpo como o do monstro da obra seria um “pesadelo imunológico”.

É claro que há uma grande distância entre a ciência (e as capacidades tecnológicas) em 1818 e 2025. E ainda assim, o feito realizado pelo Dr. Frankenstein continua não sendo tecnicamente possível mesmo hoje em dia.

Para além da capacidade científico-tecnológica, a questão ética continua sendo central. Na obra, Frankenstein basicamente arromba/escava túmulos para roubar cadáveres e partes de cadáveres. Faz isso sem nenhum consentimento de parentes, descendentes ou autoridades locais. E por fim a questão ética de trazer a vida uma criatura formada pelo amálgama de partes de cadáveres.

O “arquétipo” do cientista antiético (ou cientista louco) tornou-se recorrente na ficção. Tantas obras que seriam demais para citar aqui, mas como exemplo cito a obra Parasite Eve. A obra de Hideaki Sena também aborda esse “arquétipo”. Abordei essa obra em matéria recente aqui no Nerdizmo.

Síndrome de Frankenstein

Síndrome de Frankenstein (ou Complexo de Frankenstein) é um termo cunhado por Isaac Asimov em sua série de robôs, referindo-se ao medo de homens mecânicos. Um termo que continua muito atual. Dada a velocidade da evolução tecnológica, muitas pessoas manifestam um medo da tecnologia. Medo de que a tecnologia se volte contra ele. Assim como o monstro se volta contra seu criador na obra da Mary Shelley.

Frankenstein na cultura

A presente matéria não tem a intenção de ser uma extensa revisão da presença de Frankenstein cultura, isso necessitaria um livro por si só, mas as informações abaixo podem dar ao leitor uma boa ideia de quão presente Frankenstein se tornou na cultura mundial.

Livro original

– (1818) Frankenstein; ou, O Prometeu Moderno é um romance de Mary Shelley. No romance, o cientista Victor Frankenstein cria a criatura a partir de muitos cadáveres. Frankenstein notavelmente negligencia dar um nome à sua criação, um símbolo da sua falta de uma figura parental e da ausência de qualquer senso humano de identidade. A criatura se autodenomina “Adão dos seus trabalhos” após obter uma Bíblia e lê-la. Ele também é chamado de “criatura”, “demônio”, “daemon”, “miserável”, “espectro”, “diabo”, “ser” e “ogro” no romance. Na linguagem comum, o personagem é frequentemente chamado simplesmente de “Frankenstein”.

Livros

Livros com Frankenstein: 34 até momento.

Primeiro (1913): The Monster Men. Autor: Edgar Rice Burroughs.

Mais recente (2024): Frankenstein Reborn: The Modern Prometheus Awakens. Autor: Novan Edizioni.

Capa de Frankenstein Reborn: The Modern Prometheus Awakens.

Livro ilustrado

– (1983) Frankenstein de Bernie Wrightson.

Frankenstein de Bernie Wrightson é uma edição da obra de Mary Shelley, publicado pela primeira vez em 1983 pela editora Marvel Comics, com ilustrações de página inteira do artista Bernie Wrightson. Wrightson passou sete anos desenhando aproximadamente 50 ilustrações detalhadas a bico de pena.

A DarkSide Books publicou recentemente esse livro no Brasil (ver ao fim da matéria).

Comics/manga

Comics/manga com Frankenstein: dezenas.

Primeiro (1939): DC Comics’ Movie Comics #1.

Mais recente (2020): Dial H for Hero (DC comics).

Teatro

Peças com Frankenstein: 16 até o momento.

Primeira (1823): Presumption; or, the Fate of Frankenstein. Escrita por Richard Brinsley Peake. Produzida na English Opera House em Londres.

Mais recente (2023): Frankenstein. Por Shake & Stair Theatre Co. Estreou na Queensland Performing Arts Centre in 2023.  

Filme

Filmes com Frankenstein: até o momento, um total de 422 filmes conhecidos, 192 curtas-metragens 300 séries de TV e episódios.

A primeira adaptação sonora da história, Frankenstein (1931), foi produzida pela Universal Pictures, dirigida por James Whale e estrelada por Boris Karloff como a criatura.

A primeira adaptação sonora da história, Frankenstein (1931), foi produzida pela Universal Pictures, dirigida por James Whale e estrelada por Boris Karloff como a criatura.

O filme Frankenstein, de 1931, da Universal Pictures, e sua sequência de 1935, A Noiva de Frankenstein, tiveram imensa influência na aparência e na compreensão cultural mais ampla do personagem. Essa versão da criação é a mais difundida e aparece com muita frequência na cultura pop e na publicidade. Embora a imagem do monstro de Frankenstein em relação à aparição na Universal seja inspirada em Frankenstein, também é frequente que personagens com essa aparição não tenham qualquer relação com o romance e se afastem bastante dos temas e da personalidade da obra original.

Universal Pictures:

– (1931): Frankenstein. Direção: James Whale.

– (1935): The Bride of Frankenstein. Direção: James Whale.

– (1939): Son of Frankenstein. Direção: Rowland V. Lee.

– (1942): The Ghost of Frankenstein. Direção: Erle C. Kenton.

– (1943): Frankenstein Meets the Wolf Man. Direção: Roy William Neill.

– (1944): The House of Frankenstein. Direção: Erle C. Kenton.

– (1945): House of Dracula. Direção: Erle C. Kenton.b

– (1948): Abbott and Costello Meet Frankenstein. Direção: Charles Barton.

Primeiro (1910): Frankenstein. Escrito e Dirigido por James Searle Dawley. Edison Studios.

Mais recente (2024): Frankenstein Legacy. Direção: Paul Dudbridge.

A ser lançado em breve (novembro de 2025): Frankenstein. Direção: Guillermo del Toro.

Teaser oficial de Frankenstein, de Guillermo del Toro.

Essa nova versão vai adaptar diretamente a obra original de Mary Shelley. O filme recebeu 13 minutos de ovação em pé no Festival de Veneza.

Videogame

Videogames com Frankenstein: 33 

Primeiro (1981): Frankenstein. Publisher: 80 Microcomputing. Plataforma: TRS-80.

Victor von Gerdenheim, da série Darkstalkers.

Mais recente (2021): The Wanderer: Frankenstein’s Creature (Tokusōban). Publisher: COSEN Co., Ltd. Plataforma: Switch.

Desenho animado

Desenhos animados com Frankenstein:

Primeiro (1966): Frankenstein Júnior. Hanna-Barbera.

Mais recente (2024): Creature Commandos.

Eric Frankenstein, de Creature Commandos.

RPG

– (2006) Promethean: The Created. Por White Wolf Publishing.

Capa de Promethean: The Created.

Magic The Gathering

– (1994) Frankenstein’s Monster. Ilustração de Anson Maddocks. Wizards of the Coast.

Board Game

– (2019) Abomination: The Heir of Frankenstein. Por Plaid Hat Games.

Música

Músicas com Frankenstein: 34 músicas até o momento.

Primeira (1962): Monster Mash. Música de Bobby Pickett.  

Mais recente (2024): Bad for the Bad Guy. Música de Ciao Malz.  

Áudio

Áudios com Frankenstein: 15 até o momento.

Primeiro (1931): Alonzo Dean Cole adaptou o livro original como um episódio de 30 minutos de seu programa The Witch’s Tale.

Mais recente (2014): Big Finish Productions lançou uma versão em áudio por Jonathan Barnes dirigido por Scott Handcock.

Frankenstein na ciência

A ciência foi a base para a escrita da obra de ficção Frankenstein. Esta se tornou tão presente na cultura popular, que por sua vez, agora também adentra à ciência.

Uma busca no PubMed, base de dados do NIH (National Institutes of Health), revela um total de 144 artigos científicos que mencionam a palavra Frankenstein em seus títulos.

Primeiro (1967): Graubard M (1967) The Frankenstein Syndrome: man’s ambivalent attitude to knowledge and power. Perspectives in biology and medicine, 10(3), 419–443. https://doi.org/10.1353/pbm.1967.0038

Mais recente (2025): Jowsey T, Stapleton P, Campbell S, Davidson A, McGillivray C, Maugeri I, Lee M & Keogh J (2025) Frankenstein, thematic analysis and generative artificial intelligence: Quality appraisal methods and considerations for qualitative research. PloS one, 20(9), e0330217. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0330217

Reflexões finais

Monstros da Universal: Frankenstein Vive! é uma graphic novel que faz parte de uma longa e numerosa linhagem de obras derivadas de obra original de Mary Shelley. A criatura fictícia pode hoje também ser considerada mítica, pois continua tendo um papel importante em servir de base para debates importantes na ciência, como a ética do fazer científico, e o impacto que a ciência tem na sociedade. A graphic novel de Michael Walsh continua a nos lembrar que os avanços científicos devem sempre ser pareados com a ética.

Obras relacionadas lançadas pela DarkSide Books

– (2017) Frankenstein 

– (2023) Frankenstein: Monster Edition 

– (2023) Frankenstein: Anatomia de Monstro 

– (2025) Monstros da Universal: Drácula Vive!

– (2025) Monstros da Universal: O Monstro da Lagoa Negra Vive! 

Autora da obra original: Mary Shelley

Mary Shelley (1797-1851) nasceu em Somers Town, em Londres. Tinha apenas 19 anos quando começou a escrever Frankenstein, marco do terror e da ficção científica. Além de Frankenstein, escreveu romances como Mathilda (1820), O Último Homem (1826) e Lodore (1835), e editou parte da obra do marido, o poeta Percy Shelley.

Outras obras dos autores de Monstros da Universal: Frankenstein Vive!

Michael Walsh, roteirista e ilustrador

Primeira obra (2013): Comeback.

Obra mais recente (2025): Exquisite Corpses e Universal Monsters: The Invisible Man #3.

Toni-Marie Griffin, colorista

Primeira obra (2021): The Silver Coin.

Obra mais recente (2024): The Horizon Experiment: The Manchurian.

Becca Carey, letrista original

Primeira obra (2020): Harley Quinn: Black + White + Red #14.

Obra mais recente (2025): Red Hood #1.

Érico Assis, tradutor

Primeira obra (2009): Retalhos.

Obra mais recente (2025): A Estranha Morte de Alex Raymond.

Mais de Frankenstein em Nerdizmo

– (2018) Após 200 anos, Frankenstein continua o Prometeu acorrentado

– (2019) Assista ao primeiro filme do Frankenstein, de 1910

– (2023) Nova figura do Frankenstein traz tom sombrio para o famoso Monstro

– (2024) Mia Goth fala sobre trabalhar em Frankenstein de Guillermo Del Toro, por Flávio Croffi.

– (2024) Nova Graphic Novel de FRANKENSTEIN apresenta design original de Boris Karloff como o Monstro, por Flávio Croffi.

Biólogo/geneticista pesquisador na área de evolução humana, genética de populações humanas, coevolução gene-cultura. Nos últimos anos passou a pesquisar também videogames e sua interação com a ciência. Atualmente é Pós-Doutorando no PPG Patologia da UFCSPA. É pesquisador colaborador no Game_Pesq, grupo de pesquisa sobre jogos eletrônicos, cultura e sociedade. Atua como consultor científico no Science Game Center e no Molecular Jig Games.

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