O autor Pedro Urvi não teve receio de que o título “O Filho do Traidor” fosse encarado como spoiler para iniciar a série “O Guardião do Bosque“, pois além de representar a cicatriz da desonra que Lasgol, o protagonista, vive sob a sombra de um passado marcado pela traição de seu pai, Dakon Eklund.

Essa estratégia, desde a capa à construção narrativa, também auxilia na definição da jornada de Lasgol, que busca se desvencilhar das expectativas e julgamentos da sociedade, enquanto segue determinado em forjar sua própria identidade. Ao longo do livro acompanhamos sua evolução de um jovem vulnerável para um “herói”, que decide assumir o controle do seu próprio destino, seguindo o caminho para se tornar membro dos Guardiões do Bosque, uma ordem lendária de guerreiros e protetores da natureza.

O livro da HarperKids impressiona pela maneira como aborda questões sobre confiança, traição e lealdade. A obra também se diferencia dos demais títulos do gênero, pois o autor consegue desenvolver uma ambientação nas florestas que evoca uma conexão profunda com a natureza. Esta construção de mundo também justifica a importância do Reino de Norghana ao trabalhar a intriga política, luta entre facções e a busca pelo poder como principais forças em torno de Lasgol.

Por ser uma leitura voltada para um público mais jovem, Pedro Urvi busca construir uma aventura com referências que misturam a agilidade de Assassin’s Creed, a leveza da classe dos arqueiros de D&D, com muitas influências de como a natureza de Tolkien faz parte dessa aventura, e muitas vezes lembrando a estrutura de Percy Jackson. O autor também se apropria de alguns clichês como, por exemplo, o chamado para a aventura vir com descobertas que envolvem pertences de seu pai e seus mentores, o convite para uma espécie de “escola” ao atingir certa idade, fazer parte de um grupo de personagens com habilidades peculiares, além da luta contra seus antagonistas para livrar seu legado.

O elenco também contribui para nos mantermos interessados pela história, construindo uma relação interessante ao redor de Lasgol com Astrid, sua amiga Egil, seu companheiro Camu, Ingrid, Viggo, Gerd, Nilsa, os mestres Ulf e Thoran, sendo um dos pilares para conectar o passado ao presente da história, o antagonismo de Orlim e as dificuldades ao longo de seu treinamento ao confrontar Vance e Edyr.

Reforçando o elenco e as questões sobre confiança e lealdade, o autor cria muito bem o mistério de forças maiores em torno dos Guardiões e uma conspiração política com inimigos sombrios nos bastidores, manipulando certos personagens e eventos para alcançar certos objetivos.

No fim dessa primeira parte de uma saga com 20 livros, Pedro Urvi consegue construir uma aventura repleta de fantasia, natureza, mistério e muita ação que, ao invés de ser o herói tradicional, com espada e escudo, temos arqueiros e parkour. Com uma leitura ágil e divertida, fazendo com que O Filho do Traidor seja um livro rápido, você não conseguirá parar de ler até descobrir se Lasgol conseguirá honrar seu pai e limpar seu legado revelando a verdade sobre sua traição.

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