Apesar de ter uma excelente estreia, O Livro de Boba Fett não seguiu um ritmo acelerado nem cheio de ação em seu primeiro episódio. Isto muda um pouco no segundo, que acabou de chegar ao Disney+, porém a trama ao invés de avançar para onde deveria, decide voltar um pouco mais ao passado e tem em sua grande parte do tempo uma visita em forma de flashbacks às aventuras do caçador de recompensas após a saída das garras de Sarlaac.
Eu comparei ao seriado Arrow em minha crítica da semana passada, porém a LucasArts mergulhou de vez em contar uma história que até pode ser importante no futuro do roteiro, mas que não traz nada além daquilo que já saibamos desde O Mandaloriano. O nosso protagonista conseguiu sobreviver, obteve uma poderosa aliada e agora toma o posto de Jabba, o Hutt. Este não deixou de ser o plot principal, mas está sendo obstruído por uma insistência em sua sobrevivência no deserto.
Não me entendam errado, caros leitores, eu amo flashbacks. De verdade, adoro saber mais do passado de determinados personagens e ver o que os tornou aquilo que são. Porém, temos de ter uma noção: em um desenho animado ou seriado como os do Arrowverse, que contam com vários episódios, isso não tem uma quebra de ritmo, pois os conteúdos atuais compensam pela quantidade. Já O Livro de Boba Fett é uma série limitada, qual deve acompanhar o ritmo das demais do Disney+ de chegar até uns 10 episódios em média.
O Livro de Boba Fett está numa situação delicada
Quando dois dos primeiros focam demais no que foi e não naquilo que é, a expectativa se desfaz e pode trazer frustração no lugar de agitação. Mesmo que a história continue com uma qualidade ímpar, com cenas muito interessantes e uma ascensão digna de ter sido vista numa tela de cinema, eu me frustrei por conta do abuso deste recurso. De quase uma hora de episódio, temos uns 15 minutos de presente e deste ponto em diante é apenas o conto sobre as coisas que ele se recorda.
Nos tempos atuais vemos o nosso herói ir atrás de quem enviou os assassinos no último episódio, finalmente conhecendo o prefeito de Mos Espa e também aqueles que tem grande possibilidade de serem os vilões desta temporada. Fennec Shand, interpretada por Ming Na Wen, continua subutilizada na trama e temos apenas um vislumbre de um confronto que deve ser melhor explorado nos momentos finais.
Já no passado de O Livro de Boba Fett, as coisas começam a esquentar ainda mais com a escalada do protagonista para sobreviver aos perigos do deserto. Após conquistar o respeito dos Tusken, ele começa a ser treinado por seus guerreiros e começa a ajudá-los a voltarem aos seus bons tempos de glória. Claro que isso envolve muita ação, confrontos que mostram as habilidades do caçador de recompensas e as ameaças que existem naquele enorme terreno de Tatooine.
As batalhas são da mais pura qualidade e o aprofundamento na cultura dos Tusken mostra que Star Wars teve tanta coisa que apenas raspou superficialmente nos filmes que podemos ter um universo inteiro de conteúdo daqui em diante. Personagens que eram meras distrações, participações pequenas e até esquecidas no meio da guerra entre os Jedi e os Sith, podem trazer sim boas histórias e terem uma evolução sincera dentro da grandiosa franquia.
Isso só demonstra que após O Livro de Boba Fett, podemos ter na terceira temporada de O Mandaloriano e nas futuras séries de Ahsoka e Obi Wan Kenobi uma exploração bem maior de elementos pouco utilizados nos longas. Esta abrangência pode empolgar demais os fãs, quais viram apenas no universo expandido, hoje formado pela linha Legends, tudo que pode ou não ser canonizado junto à saga principal.
Precisamos de novidades
O grande problema é que, para isso ocorrer, devemos nos desprender do passado e contar novas histórias para manter o público preso no sofá. Como eu afirmei acima, já sabemos que o protagonista sobreviveu e se tornou o Daimyo de Tatooine, comandando o crime organizado do local. O trajeto até lá é tão importante quanto, porém assista ao episódio e duvido que não concorde que muita coisa poderia ter sido cortada para dar lugar aos perigos que o ameaçam atualmente.
Eu continuo aclamando o trabalho de Jon Favreau, a sua direção é espetacular e mantém o mesmo nível que elevou a primeira série deste universo ao estrondoso sucesso. As cenas são impressionantes, os efeitos visuais continuam encantando, a ação agrada bastante e mesmo o carisma de uma pedra que Boba Fett carrega são imensos atrativos para convidar o público assistir. Ainda assim, queria ver o passado encerrado para focar naquilo que interessa de fato ao futuro da franquia: a conquista do personagem ao posto que ele obteve.
Já está claro que apenas sentar no trono de Jabba, o Hutt não será o suficiente para garantir um final feliz ali. Quero vê-lo lutar, usar todos os recursos de sua armadura, as habilidades de Fennec, a utilização dos dois capangas de Jabba que agora estão nas mãos do protagonista, a intriga política com o prefeito…enfim, aquilo que O Livro de Boba Fett se propôs inicialmente. Entendo que muitos queriam ver como ele escapou ou fugiu para chegar onde está, mas não precisávamos perder tanto tempo com isso, não é?
Extremamente preso ao passado, o segundo episódio não consegue escapar de uma trama que podia ter sido melhor condensada para trazer um conteúdo mais interessante. Espero que os próximos já pulem isso e nos deem aquilo que tanto espero: o caçador de recompensas em ação com sua armadura e enfrentando os problemas atualmente. Já vi ele sentado no trono, agora quero vê-lo conquistar um planeta que sempre se mostrou hostil e que não aceita bem os vários heróis que já pisaram ali. Não faltam muitos episódios para o tão esperado grand finale, então que aproveitem bem este tempo para contar a história que estamos assistindo.
O Livro de Boba Fett é exibido todas as quartas-feiras através do Disney+, a partir das 5h. Veja mais críticas de filmes e séries!
Filmes e séries que mostram longos flashbacks têm sido sistematicamente execrados por público e crítica como O Legado de Júpiter, Eternos e agora O Livro de Boba Fett. Afinal, histórias estão sendo contadas ali. Não estaríamos mal acostumados com o cinema fast-food onde a objetividade e a ação são o que importam?