O universo de Quentin Tarantino vai ganhar um novo olhar com a chegada de The Making of Quentin Tarantino’s Once Upon a Time in Hollywood, primeiro volume da Quentin Tarantino Library, escrita por Jay Glennie. A coleção nasce como um projeto ambicioso que nenhum diretor havia permitido antes: dez livros gigantes, com mais de 500 páginas cada, dedicados a destrinchar a criação de cada um de seus filmes. E Tarantino abriu seus arquivos sem restrições, garantindo acesso a memórias, documentos e histórias inéditas da produção de sua nona obra.
O livro chega ao mercado em 28 de outubro, já em pré-venda, e inaugura uma série que seguirá com os bastidores de Bastardos Inglórios e Django Livre, previstos para 2026. Neste primeiro volume, Glennie mergulha no processo criativo do diretor com entrevistas exclusivas, fotos raras do set, artes conceituais, rascunhos, anotações e uma coleção impressionante de materiais que dificilmente seriam encontrados fora do acervo pessoal do cineasta.

Além de documentos de estúdio e cartas que ajudam a reconstruir o clima da época, o autor conversou com praticamente todo o elenco central. Leonardo DiCaprio, Brad Pitt e Margot Robbie contam suas experiências, acompanhados por nomes como Mikey Madison, Margaret Qualley, Austin Butler, Kurt Russell, Dakota Fanning, Maya Hawke, Sydney Sweeney e um time que hoje reúne vencedores e indicados ao Oscar. O resultado é um registro monumental que cobre desde a concepção inicial até a consagração do filme com 10 indicações ao Oscar e duas estatuetas garantidas.
E agora, com exclusividade, o trecho divulgado aprofunda um dos momentos mais curiosos do processo: a escolha de DiCaprio e Pitt para formar a dupla Rick Dalton e Cliff Booth. Tarantino lembra que tudo começou pela necessidade de encontrar o “Rick ideal”. Depois disso, o nome certo para Cliff apareceria naturalmente. Ele buscava dois atores que tivessem uma química digna de Newman e Redford, daqueles pares que parecem existir antes mesmo de chegarem à tela.

Leonardo DiCaprio e Brad Pitt eram suas primeiras opções e ele já sabia que, se fosse para apostar alto, seria com eles. O diretor já tinha vivido experiências memoráveis com os dois, e o clima no set era exatamente o que ele queria reviver: divertido, intenso e leve ao mesmo tempo. Quando Brad Pitt leu o roteiro, contou que imediatamente percebeu a força da amizade entre Rick e Cliff, esse vínculo que fala com qualquer pessoa que já teve um parceiro de jornada nos altos e baixos da vida.
Pitt relembra a tarde em que foi até a casa do diretor para conhecer o projeto. Antes de mergulhar na história, Tarantino passou quase uma hora apresentando detalhes sobre os personagens, descrevendo seus universos, suas feridas, seus dilemas. Brad conta que ficou impressionado com o nível de profundidade e com o jeito caloroso e bem-humorado com que Tarantino conduzia tudo. Mais tarde, ele admitiria que Cliff simplesmente fazia mais sentido para ele, embora estivesse disposto a assumir qualquer papel que Quentin escolhesse.
Com DiCaprio, a dinâmica foi parecida. Leo foi recebido no quintal da casa do cineasta com café, cerveja e um roteiro repleto de páginas digitadas misturadas com outras escritas à mão pelo próprio Tarantino. Enquanto lia, o diretor observava discretamente suas reações, buscando risadas nos momentos certos. Para DiCaprio, a história funcionou desde o início: ele sempre foi fã de filmes que falam sobre quem faz cinema, e ficou cativado pela amizade entre Rick e Cliff, além do retrato de Hollywood no final dos anos 1960.
Leo destacou o quanto Tarantino é obsessivo em sua paixão pelo cinema. Falou sobre o diretor evitar pesquisar no Google porque, “é como trapacear” e como ele espera que um verdadeiro cineasta carregue suas referências na cabeça, estudando filmes como quem respira. Ao terminar a leitura, DiCaprio comparou Rick Dalton e Cliff Booth a Nick Carraway e Jay Gatsby, dois personagens que vivem dentro e fora de seus próprios mundos, e percebeu que Tarantino estava prestando uma homenagem aos profissionais esquecidos da indústria, aqueles que constroem Hollywood sem ganhar os holofotes.
Para interpretar Rick, porém, Leo precisava ir além do roteiro. Ele queria entender a dor do personagem, esse ator preso entre a televisão e os filmes, querendo desesperadamente um lugar que ninguém parecia disposto a lhe dar. Tarantino então mostrou episódios de Wanted: Dead or Alive e outros materiais que ajudavam a situar Rick como um “quase Steve McQueen”, mas sempre um passo atrás. Ele também enviou DVDs com anotações detalhadas, indicando cenas específicas e personagens que ajudariam DiCaprio a moldar sua interpretação.
A partir daí, o Rick Dalton de papel ganhou vida, sentado ali mesmo na casa de Tarantino. O diretor tinha certeza de que havia encontrado seu protagonista, mas Leo pediu mais tempo para mergulhar no personagem. Tarantino respeitou esse cuidado e continuou alimentando o ator com novas referências, até que ambos tivessem clareza total de quem Rick era e quem Cliff precisava ser ao lado dele.
Com isso, Tarantino pôde finalmente relaxar: Rick e Cliff estavam descobertos, e a dupla que marcaria Era Uma Vez em… Hollywood já existia, pronta para surgir na tela.
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