O Pássaro Azul, um dos poemas mais conhecidos de Bukowski, é uma profunda meditação sobre a faceta humana muito familiar a todos os leitores: como constantemente sufocamos nossos impulsos sob uma versão externa meticulosamente construída.
A poesia de Bukowski revela também uma faceta escondida sob as bebedeiras, vida boemia e profana, vocabulários esdrúxulos e cinzeiros lotados de bitucas de cigarro de seu alter ego Henry Chinaski.
São ambos os lados de uma mesma face que se completam e fizeram de Bukowski “o melhor poeta de América”, como era considerado pelo filósofo Jean Paul-Sartre.
Originalmente chamado “Bluebird”, o poema foi publicado em 1922 como parte de sua antologia The Last Night of the Earth Poems.
Monica Umba, estudante da Cambridge School of Art, conseguiu expressar em uma animação belíssima as sensações que cada verso provoca. Dando vida à mágica de Bukowski.
O Pássaro Azul
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei
que ninguém o veja.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí, quer acabar
comigo?
quer foder com minha
escrita?
quer arruinar a venda dos meus livros na
Europa?
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo, sei que você está aí,
então não fique
triste.
depois o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
com nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, e
você?
– Charles Bukowski, em “Textos autobiográficos, de Charles Bukowski” [tradução de Pedro Gonzaga; edição de John Martin]
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