Antes do Nintendo Entertainment System dominar os lares mundiais, antes mesmo do Atari 2600 se tornar um fenômeno cultural, uma empresa americana ousou imaginar um futuro diferente para os jogos eletrônicos. Em janeiro de 1977, a RCA, gigante das comunicações, lançou o RCA Studio II, um console doméstico que prometia transformar televisores em “centros de entretenimento familiar”. Mas em pouco mais de um ano, o projeto estava morto, esquecido nas prateleiras de liquidificação enquanto concorrentes mais vistosos conquistavam o mercado.
A origem do Studio II é tão peculiar quanto seu design. O console nasceu da visão do engenheiro da RCA Joseph Weisbecker, que desenvolveu o conceito a partir de um computador pessoal que construiu em casa no final dos anos 1960. Weisbecker, um inovador à frente de seu tempo, enxergava o potencial da computação nas salas de estar – e conseguiu convencer a gigante das comunicações a apostar em sua ideia.
O resultado foi um console tecnologicamente único. Movido pelo microprocessador RCA 1802 rodando a 1,78 MHz com apenas 512 bytes de RAM, o Studio II gerava gráficos monocromáticos em preto e branco através do chip “Pixie”. Diferente de todos os concorrentes, o console abandonou completamente os joysticks em favor de dois teclados numéricos integrados diretamente no corpo do aparelho.

Os cinco jogos incluídos de fábrica revelavam a ambição educativa por trás do projeto: “Addition” desafiava jogadores a somar números de três dígitos, “Bowling” simulava uma partida de boliche com controles limitados, enquanto “Doodle” e “Patterns” permitiam criar desenhos pixelados. Onze cartuchos adicionais expandiam o catálogo, incluindo raridades como “TV Bingo” – do qual existem apenas três cópias conhecidas no mundo.
Um capítulo especial dessa história pertence a Joyce Weisbecker, filha do criador do console e a primeira mulher a desenvolver um jogo comercial para videogame. Seu “School House I”, programado em apenas uma semana em 1976, representou um marco em uma indústria que já na época era dominada por homens.
Apesar das inovações, o Studio II enfrentou obstáculos intransponíveis. Com preço de US$ 149 (equivalente a cerca de US$ 800 em valores atuais), o console precisou competir com o colorido Fairchild Channel F e, logo depois, com o revolucionário Atari 2600. Seus gráficos monocromáticos e controles pouco intuitivos pareciam antiquados perto da concorrência.
As vendas foram desastrosas – estima-se que apenas entre 53 mil e 64 mil unidades foram vendidas antes do console ser descontinuado em fevereiro de 1978. A Radio Shack comprou o estoque remanescente e liquidou os consoles por US$ 59,95, um preço de liquidação para um sistema que já nascia obsoleto.
Hoje, o Studio II é uma relíquia complicada até para colecionadores. Seu sistema de conexão único que combinava vídeo e energia em um único cabo exige adaptadores especiais para funcionar em televisores modernos, e seus grámicos frequentemente apresentavam glitches característicos. Mas sua história permanece como um testemunho fascinante de um caminho não trilhado na evolução dos videogames – uma visão alternativa de como poderiam ser os jogos eletrônicos domésticos se a RCA tivesse vencido essa batalha.
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