Pare um pouco e olhe para essa foto. Repare no sorriso dessa jovem. Sabemos seu nome: O-o-be’, de acordo com registros do Smithsonian. Sabemos que ela fazia parte da tribo Kiowa, no Território de Oklahoma. E sabemos que a fotografia foi tirada em 1894. Mas… esse sorriso? Ele atravessa o tempo.

Essa foto é do século XIX, um período onde sorrisos em fotografias eram raros – quase inexistentes. E isso nos leva a uma pergunta intrigante: por que não sorrimos nas fotos antigas?
Nos primeiros anos da fotografia, posar para um retrato exigia paciência. As exposições podiam durar até 45 minutos. Manter um sorriso congelado por tanto tempo era praticamente impossível.
Mesmo quando a tecnologia evoluiu e permitiu capturas mais rápidas, o sorriso ainda não era algo comum. Em muitas culturas, exibir os dentes em público era considerado indelicado, quase vulgar.
Fotografias eram vistas como portais para a imortalidade, e a seriedade parecia mais apropriada para esse tipo de registro.
Presidentes dos Estados Unidos, por exemplo, não sorriam em retratos oficiais até Franklin D. Roosevelt. Seu sorriso surgiu em um momento de crise: a Grande Depressão.
O presidente sorriu porque seu povo não podia. Era uma tentativa de transmitir esperança quando tudo parecia desmoronar.
O historiador Colin Jones estudou essa mudança dos aspectos fotográficos no livro The Smile Revolution in Eighteenth Century Paris.
Ele destaca um autorretrato de 1787 da pintora Élisabeth Vigée Le Brun, no qual ela aparece com sua filha – e sorrindo, com os dentes à mostra. Foi um choque para a época.
Jones aponta dois fatores que incentivaram essa revolução: a ascensão da odontologia (incluindo a invenção da escova de dentes) e uma nova visão cultural sobre sensibilidade e polidez.
Nos romances do século XVIII, um sorriso passou a simbolizar algo positivo, como gentileza, simpatia e receptividade, e não mais um gesto inadequado.
Hoje, é algo até banal sorrir para nossos celulares: tiramos selfies, aplicamos filtros e postamos nas redes sociais.
E, em uma foto de 1894, lá está algo raro para a época. Um vestígio de uma jovem Kiowa que, por um instante, quebrou todas as convenções de sua época e nos deixou um vislumbre de algo genuíno e atemporal.
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