Quando a franquia Pokémon migrou dos videogames portáteis para o Nintendo Switch, a Game Freak cometeu uma falha enorme em um dos fatores mais relevantes da atual geração de consoles. Não, caros leitores, não estou falando sobre os inúmeros glitches, bugs e até mesmo os gráficos ultrapassados que eles tiveram utilizando. Esta discussão ficará para outro texto, diga-se de passagem. Neste momento eu falo sobre as vozes dentro da experiência completa.
Em 2019, no lançamento de Sword & Shield, os primeiros momentos dos títulos já entregam o quanto a ausência do fator é desperdiçada. Vamos combinar, a entrada com Rose se pronunciando para um ginásio lotado de pessoas, Leon chegando logo em seguida e dá o maior ar que tínhamos na linha Stadium/Colosseum no passado. Uma narração ali ou dublagem em momentos-chave caberiam como uma luva.
Porém, não foi o único momento onde isso se tornou uma grande vergonha. Quando você se encaminha para o grand finale e enfrenta o sétimo ginásio, acaba se deparando com Piers realizando um verdadeiro show para a cidade-fantasma. Qual é a surpresa do jogador, ao ver a figura se movendo, sua boca mexendo junto, e nenhum som saindo dele? Estes são breves exemplos, quais todos acreditaram que seria apenas um capítulo esquisito que a desenvolvedora tinha seguido.
As vozes continuam ausentes em Pokémon
Agora em 2022 tivemos a chegada de Scarlet & Violet e, para a surpresa de todos, a empresa cometeu o mesmo equívoco: deixar os personagens sem voz, nem mesmo nas poucas cutscenes que carregam parte da história. Vamos recapitular, para todos estarmos na mesma linha de pensamento: Do Game Boy ao 3DS, isso seria totalmente indiferente. Afinal de contas, as limitações dos portáteis eram claras.
“Diego, mas o 3DS teve Kingdom Hearts: Dream Drop Distance e Resident Evil Revelations que contavam com dublagem até”, pois é. Ainda assim, não era uma reclamação constante e todos compreendiam bem que havia dificuldades técnicas neste aspecto. Vamos ser sinceros, ninguém também pensava muito nisso. Todos ainda seguiam encantados com o Pikachu repetindo as frases de nome-próprio conhecidas do anime e estava tudo certo.
Agora que entramos no Nintendo Switch, a situação já não é mais a mesma. Se focarmos que o hardware tem capacidade similar do que o PlayStation 4 e Xbox One, fica pior ainda pensarmos sobre o assunto. Já no PS3 e Xbox 360 já era “feio” um game de calibre AAA chegar sem algumas vozes aqui e ali. Vale citar Halo, Gears of War, The Last of Us, Uncharted e diversos outros. É surreal que tenhamos algo que siga contra a correnteza em plena “Década de 20”.
A impressão que dá é que, neste sentido, estamos lidando com uma empresa que não está nem valorizando sua própria marca, tampouco seus clientes. Basta ver Xenoblade Chronicles 3, que foi lançado em julho e segue padrões completamente distintos para a mesma plataforma. Ambientes gigantescos, monstros para todos os lados, dublagem excepcional e se eu falar algo sobre o desempenho dele chega a dar até mais tristeza. Como as vozes, arquivos de áudio que poderiam ser facilmente implementados no software, puderam ser pulados em Pokémon?
Assim como Piers foi para a oitava geração, na nona tivemos Ryme, a líder de ginásio especializada em monstrinhos Fantasma. Ela é uma rapper e, por incrível que pareça, seu teste é uma batalha de rap. Desculpem tomar este espaço para reclamar, mas ter um conflito destes no mudo chega a ser até um crime. Alguém aqui ousa assistir 8Mile sem som algum? É esta a impressão que Scarlet & Violet te passa enquanto jogam.
Não adianta virar as costas para os problemas
Apenas para terem uma ideia, até os áudios que você ouvia ao encontrar um Pikachu ou Eevee voltaram a ser grunhidos criados digitalmente. Vamos ser bem sinceros aqui, esta é uma das franquias mais lucrativas de todo o planeta e tem diversas ramificações de sucesso: animações, longa-metragens, Trading Card Game, Mangás e vários produtos que existem no amplo mercado. Alguém consegue me dizer que eles não têm o investimento suficiente para produzir isto?
Quando eu reclamo disso, óbvio que estou deixando de lado todo o fator diversão que os novos jogos proporcionaram. Porém, virar as costas para este recurso que seria tão interessante e importante é um grandioso erro. Imaginem uma narração no maior estilo Pokémon Stadium em batalhas importantes, como ginásios e Elite dos 4? Ou cutscenes onde eles soltem a voz em um ambiente musical? Não parece uma ideia complexa demais para os desenvolvedores, considerando tudo o que é feito nos dias atuais.
O ciclo de lançamento pode ser um problema, com apenas três anos para vermos uma quantidade massiva de novas criaturas e o desenvolvimento ainda maior que o anterior? Concordo plenamente, isto é um entrave complicado. Porém, a partir do momento que o encerramento do jogo é uma canção do Ed Sheeran, nota-se que apenas este investimento teria conseguido contratar uma equipe para melhorar o outro lado. Ou alguém aqui sentiria falta do artista por ali?
Na eventual décima geração de Pokémon, precisamos urgentemente de vozes para dar vida aos personagens. Não apenas pelos recursos sonoros que fazem falta, mas também para valorizar mais a história e suas vertentes. Ninguém merece um show no “mudo”. Ou uma batalha de rap sem ouvir uma palavra sequer. A Game Freak precisa mudar, antes que seu público mude e deixe a franquia para trás.
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Eu estava pensando nisso também… Tentando entender a Game Freak, acho que o grande problema dos personagens não terem vozes é que, antes disso, todos os pokémons também precisariam ter (e são os pokémons as estrelas do jogo, não os personagens humanos). Nas séries animadas, cada pokémon se expressa com o seu nome em diferentes tons para indicar que está animado, triste, surpreso, irritado… Imagina os sei lá quantos pokémons dublados e mais o NPCs… é áudio pra caramba! E só agora eles estão explorando os cenários abertos, então, essa empresa que inova a passos lentos tem muito chão pela frente.