Praia do Futuro é uma coprodução entre Brasil e Alemanha, com direção do brasileiro Karim Aïnouz (de Madame Satã). O filme adota o nome de uma das praias mais famosas e frequentadas de Fortaleza (CE) e traz Wagner Moura em um papel pouco usual, não apenas para sua carreira, mas para o cinema brasileiro de um modo geral.
Isso ocorre devido a vários fatores, dentre eles, a parceria inesperada entre dois países que não apresentam grandes semelhanças culturais nem estreiteza de relações no campo das artes. Além disso, o fato dessa parceria se dar por meio de uma obra que retrata o relacionamento de um casal homossexual, atrai olhares e gera discussão, por mais que não seja esse o foco do filme.
O modo como ocorre o relacionamento entre o salva-vidas Donato (interpretado por Moura) e Konrad, um motoqueiro alemão (Clemens Schick), é apresentado pelo diretor de uma maneira bastante pungente, no sentido em que os personagens “falam” mais por meio de suas atitudes do que por palavras, algo pouco usual para o verborrágico povo brasileiro, mas que se mostra como um recurso estilístico muito elegante para apresentar um tipo de relacionamento que não costuma ser retratado no cinema desta forma.
Essa originalidade narrativa é, provavelmente, o ponto alto do filme, que tem pouquíssimos diálogos e belas locações e paisagens. Aqui é outro ponto em que a obra se destaca: a trama se distribuiu em três atos bem marcados (com títulos, inclusive) de modo que o primeiro deles se passa no Brasil, na Praia do Futuro.
Há longas cenas que mostram o mar em vários momentos: calmo, revolto, durante o dia e durante a noite. Apesar das paisagens nesse primeiro terço do filme serem as mais ensolaradas e amplas, é nesse momento que os personagens estão mais taciturnos e contidos.
A partir daí a trama se dá na Alemanha, para onde Donato se muda a fim de ficar perto de Konrad. Assim, o contraste entre as paisagens da primeira parte e o estado de espírito dos personagens, são mais eloquentes do que qualquer diálogo que o roteiro de Aïnouz e Felipe Bragança pudesse inserir.
Claro que é uma solução por vezes arriscada, e não funciona sempre. Há momentos em que o silêncio e languidez dos personagens parecem demasiado artificiais, bem como os arroubos de Ayrton (interpretado por Jesuíta Barbosa), irmão de Donato que foi abandonado no Brasil, e que faz a ponte entre os dois países e os dois momentos da trama.
Segundo o elenco e o próprio diretor afirmaram na coletiva de lançamento do filme, o tema central da obra é o abandono e, de fato, esse abandono está lá como consequência direta de uma acontecimento trágico muito bem representado logo nas primeiras cenas. Porém, o tipo de relação que Donato mantinha com o irmão dá a entender que ele não cortaria os laços com uma criança pequena dessa maneira.
A obra não esclarece os motivos para que o personagem de Moura fuja da família de uma forma tão brutal, e isso enfraquece o roteiro. Em última instância, apesar do trauma que culmina no relacionamento entre Donato e Konrad, não se sabe muito bem o que o primeiro está abandonando nem por que ele o faz.
A obra, no entanto, é feliz em mostrar três homens tentando conviver com suas diferenças e vulnerabilidades e se realiza de uma forma que mostra coragem do diretor e maturidade dos atores, que embora falem pouco, são extremamente emotivos e convincentes.
Nota: 2/5
Praia do Futuro
Diretor: Karim Aïnouz
Duração: 106 minutos.
Elenco: Wagner Moura, Clemens Schick, Jesuíta Barbosa.
Lançamento: 15 de maio de 2014.
Autor: Daniel Robledo