O rei Charles III acaba de entrar para a tradição dos retratos da realeza, mas de um jeito totalmente moderno: quem o pintou não foi um artista de carne e osso, mas sim Ai-Da, um robô humanoide que se especializou em criar obras de arte. O quadro, batizado de Algorithm King, foi revelado no último dia 17 de julho durante o AI for Good Global Summit, evento sobre inteligência artificial promovido pela ONU em Genebra. Embora Ai-Da já tivesse feito um retrato da Rainha Elizabeth II em 2022, esta é a primeira vez que um monarca britânico em exercício é retratado por um robô em um evento de alcance global.
Ai-Da foi criada em 2019 pelo galerista Aidan Meller, de Oxford, com apoio da empresa Engineered Arts e pesquisadores das universidades de Oxford e Leeds. Ela é considerada a primeira artista humanoide ultra-realista do mundo, equipada com câmeras nos olhos, um braço robótico e um software de inteligência artificial capaz de interpretar informações visuais para depois pintá-las na tela. O nome da robô é uma homenagem à matemática Ada Lovelace, frequentemente lembrada como a primeira programadora da história.
O rei Charles não posou presencialmente para o retrato. Ai-Da se baseou em uma série de fotografias, utilizando visão computacional para estudar seus traços e aprendizado de máquina para interpretá-los. O braço robótico então transformou essa análise em uma pintura a óleo, com pinceladas expressivas e cores fortes que criam uma imagem estilizada, mas ainda assim facilmente reconhecível. A obra foi exibida ao lado de Algorithm Queen, o retrato que a robô fez da rainha Elizabeth II.

O que torna Algorithm King especialmente curioso não é apenas o personagem retratado, mas o próprio artista por trás da obra. Mesmo sem consciência ou emoções, Ai-Da consegue criar pinturas originais, desafiando conceitos antigos sobre autoria e intenção artística.
Além disso, o processo criativo de Ai-Da é um diferencial. Em vez de simplesmente gerar imagens a partir de bancos de dados, como fazem muitas IAs, ela segue um método estruturado e prático: estuda referências visuais, as interpreta de forma algorítmica e pinta fisicamente cada tela. Apesar de contar com uma equipe humana que direciona seu trabalho, as obras ainda levantam debates sobre quem merece o crédito criativo quando o autor não é humano.

Enquanto essas discussões seguem, o Algorithm King já tem destino certo: em 2026, o retrato de Charles III deve entrar em uma turnê global com uma exposição dedicada a obras criadas por inteligência artificial que retratam figuras públicas. Ai-Da já teve trabalhos expostos na Bienal de Veneza e na Tate Modern, e um de seus retratos, o de Alan Turing, foi vendido por mais de 1 milhão de dólares na Sotheby’s.
Resta saber se Algorithm King vai ganhar um espaço definitivo nos arquivos reais ou se continuará viajando pelo circuito internacional de arte.
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