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Restaurante transforma fidelização em experiência com dado da sorte e storytelling que dá lucro

Programas de fidelização costumam ser previsíveis. Pontos que acumulam devagar, regras confusas, recompensas que parecem nunca chegar. Tudo muito racional, calculado e, no fim das contas, pouco memorável. O Dishoom resolveu seguir por outro caminho e mostrou que fidelizar pode ser muito mais sobre emoção do que sobre matemática.

A rede britânica, famosa por recriar o clima dos antigos cafés iranianos de Mumbai, encontrou uma forma curiosa e extremamente eficiente de fazer o cliente voltar.

Em vez de cartão carimbado ou aplicativo com saldo de pontos, o restaurante aposta em um ritual simples, inesperado e carregado de significado cultural. No fim da refeição, junto com a conta, o garçom traz à mesa um pequeno dado de bronze chamado Matka.

O cliente joga ali mesmo. Se cair o número seis, toda a refeição sai por conta da casa, do primeiro chai ao último prato de curry.

Na teoria, é fácil enxergar o custo. Uma chance em seis significa algo próximo de um desconto médio de 16,7 por cento. Na prática, ninguém sai fazendo essa conta.

O que fica é a sensação de sorte, a adrenalina do momento e, principalmente, a história que nasce ali. A pessoa não diz que ganhou um desconto. Ela conta que foi a um restaurante onde jogou um dado no final e saiu sem pagar absolutamente nada. Isso vira conversa de bar, post em rede social e convite implícito para amigos conhecerem o lugar.

O detalhe mais inteligente é que o dado não está ali só como brincadeira. O nome Matka vem de um antigo jogo de apostas popular na Índia, uma espécie de loteria informal baseada na sorte.

Ou seja, o Dishoom não criou apenas uma promoção, mas um ritual conectado à cultura que inspira todo o restaurante.

É um pequeno gesto que reforça o branding, aprofunda a experiência e faz o cliente sentir que participou de algo especial, mesmo quando não tira o número premiado.

E o mais curioso é que isso funciona muito bem financeiramente. O Dishoom se tornou uma das redes de restaurantes mais bem sucedidas do Reino Unido, com faturamento anual que passa de dezenas de milhões de libras, unidades sempre cheias e filas constantes em cidades como Londres, Manchester e Edimburgo. Mesmo em dias comuns, quando ninguém ganha o jantar grátis, o ritual continua cumprindo seu papel. As pessoas voltam não só pela comida, mas pela atmosfera, pela marca e pela chance.

Enquanto muitos restaurantes tratam fidelização como uma troca fria, quase burocrática, o Dishoom trata como memória.

Eles não querem apenas que o cliente repita a visita. Querem que ele se lembre, conte e recomende. No fim, o dado é só um objeto. O que realmente prende o público é a emoção que ele provoca e a história que acompanha cada jogada.

Aliás, que jogada a deles em introduzir este sistema, não é mesmo?

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Jornalista há mais de 20 anos e fundador do NERDIZMO. Foi editor do GamesBrasil, TechGuru, BABOO e já forneceu conteúdo para os principais portais do Brasil, como o UOL, GLOBO, MSN, TERRA, iG e R7. Também foi repórter das revistas MOVIE, EGW e Nintendo World.

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